Pesquisa científica da PUC/RS comprova autenticidade de arte barroca de Santo Isidoro Lavrador Missioneiro, padroeiro da agricultura
O acervo histórico de Santo Ângelo e das Missões está enriquecido e ampliado com a imagem de Santo Isidoro Labrador, genuína arte sacra jesuítico-guarani do Século XVIII, conforme apontou o estudo de identificação realizado pelo Laboratório de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), coordenada pelo professor doutor Édson Hüttner e pelo mestre Douglas Barbosa, servidor público municipal, com o apoio do doutor Éder Hüttner e de Antônio Carlos Lopes Cardoso, da família dos doadores da obra.
A peça está em exposição na Casa Ulysses Rodrigues que abriga o Museu Dr. José Olavo Machado e fará parte do acervo do Museu Histórico das Missões que será instalado no antigo Centro Administrativo do Município, cujas obras estão em andamento.
O resultado da pesquisa foi apresentado no final da tarde de segunda-feira, no Museu Dr. José Olavo Machado pelos coordenadores dos estudos, na presença do prefeito Jacques Barbosa; do secretário municipal de Cultura e Esporte, Nader Hassan Awad; da imprensa local e convidados.
Na apresentação, Hüttner explicou os critérios para a pesquisa e a comprovação de se tratar de uma escultura missioneira autêntica do Século XVIII. A pesquisa científica avaliou quesitos como a presença de policromia em madeira; os detalhes missioneiros nos cabelos e na barba; os encaixes da arte missioneira; a base de madeira; e o formato da cabeça. “É uma obra sacra muito importante não apenas para as Missões, mas para o mundo. É uma arte missioneira com mais de trezentos anos”, concluiu o pesquisador.
O prefeito Jacques Barbosa agradeceu a colaboração do pesquisador e apoio do Laboratório de Humanidades da PUC/RS e à família do doador da imagem, o servidor Antônio Carlos Lopes Cardoso, por compartilhar a história das Missões com a humanidade. “É, sem dúvida, uma doação que enriquece e valoriza a arte e a cultura missioneira”.
Jacques também discorreu sobre os investimentos da gestão na cultura e no turismo, como estímulo ao desenvolvimento econômico. “O turismo cultural e religioso movimentam todos os setores da economia, fator de geração e emprego para Santo Ângelo e para as Missões”, assinalou.
A IMAGEM
A estátua de Santo Isidoro Lavrador Missioneiro, arte sacra barroca do período jesuítico-guarani, tem um metro e 31 centímetros de altura, incluindo a base em madeira, pesa 29 quilos e 52 centímetros de largura. A obra esculpida entre os séculos XVII e XVIII em madeira é atribuída a José Brasanelli.
O SANTO
De acordo com o relatório, Santo Isidoro era natural de Madri, Espanha, nascido em 1070 e falecido em 15 de maio de 1130. De origem de famílias de camponeses, era uma pessoa simples, católico e caridoso. Era casado com Maria Toríbia, com quem teve dois filhos. Após a sua morte, iniciaram os milagres atribuídos a Isidoro Lavrador, propagados em toda a Espanha. Filipe II, rei da Espanha, foi por ele curado de grave enfermidade. O papa Gregório XV o canonizou em 1622.
São Isidoro Lavrador é o padroeiro mundial da Agricultura e padroeiro de Madri.
O estudo revela que, nas reduções jesuíticas, Santo Isidoro ocupava lugar de destaque na formação dos índios guaranis, de modo particular nas lides da agricultura.
A HISTÓRIA
Antônio Cardoso declarou que a imagem de Santo Isidoro estava em posse da família por mais de um século e a decisão de passar a curadoria para o município de Santo Ângelo foi tomada em conjunto. A imagem foi encontrada pelo bisavô de Antônio, por volta de 1900, em meio a uma lavoura de soja, em território que hoje pertente ao município de Eugênio de Castro.
Já na década de 1940, recebendo como herança, Anadilha Teixeira Cardoso e seu esposo Manoel Lopes Cardoso, incorporam aos cuidados familiares a escultura de Santo Isidoro, os quais deram continuidade a devoção popular da imagem sacra, inclusive com festas populares.
Em meados de 1993, Maria Cardoso de Oliveira torna-se a herdeira da escultura, compartilhada com os demais filhos do casal: Eloá Cardoso de Moura, Santa Margarida Lopes da Cruz e Antônio Dirceu Lopes Cardoso. Em 2015, a escultura passou à responsabilidade de Maria de Oliveira e sua irmã Marlei de Oliveira, filhas de Maria Cardoso de Oliveira. Neste último período, a imagem ficou guardada em uma residência em Santo Ângelo.
O neto de Anadilha e Manoel, o servidor público municipal Antônio Cardoso, intermediou com seus familiares a doação da peça ao Museu Histórico das Missões.
Cardoso disse que o santo tinha um espaço de oração chamado quarto santo, local de constante devoção, pedidos de curas e proteção para a comunidade, assim como pagamento de promessas. Há pouco tempo atrás, conta o servidor público municipal, a escultura ainda era coberta de fitas, moedas e tranças de cabelos deixados por devotos, bem como de um manto.
Texto: Tarso Weber | Fotos: Fernando Gomes
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