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31/03/2015 13:49


Roteiro de viagem pela região do mate (conheça o Rio Paraná e as missões de Argentina e Paraguai)

7 minutos para cruzar a fronteira, o trem binacional é uma novidade
Ruínas da redução Jesús de Tavarangüe, no Paraguai, com arquitetura de influência moura
Ruínas de San Ignacio Miní tem estrutura receptiva completa para os turistas
No lado Paraguaio, a praia de San José também ganhou toda infra-estrutura para banhistas e turistas
O monumento ao índio Andresito Guaçurarí

Conheça as praias do Rio Paraná e as missões de Argentina e Paraguai. Roteiro de cinco dias parte de Passo Fundo, vai a Posadas e Encarnación

Há tempos notava com curiosidade o letreiro de um ônibus na rodoviária de Passo Fundo (RS). Volta e meia dava de cara com aqueles destinos escritos: Posadas/Florianópolis. Até descobrir que se tratava de uma linha levava e trazia hermanos para curtir as praias catarinenses. Então, Posadas não era uma cidadezinha desconhecida do interior gaúcho. Fiquei mais curioso ainda. Será que nós poderíamos fazer o caminho inverso e ver que lugar é aquele. Precisaria levar passaporte?

Anos depois, deixei as especulações de lado e encarei a estrada. Antes de partir, descobri coisas que só alimentaram o desejo de conhecer aquelas bandas. Primeiro, não há ônibus que parta de Porto Alegre, rumo ao mesmo destino. Portanto, trata-se de uma exclusividade regional. Descobri também que a cidade argentina faz fronteira com o Paraguai. E para fechar o pacote turístico, Posadas e a lindeira Encarnación estão a poucos quilômetros das ruínas mais bem preservadas das antigas reduções jesuítico-guaranis.

Agora que fui e voltei vou contar o quanto valeu a pena. Antes, é preciso ressalvar que o serviço prestado pelo coletivo tem que melhorar. Há problemas de limpeza, carros velhos e muitas paradas na estrada. Mas é mais perto ir de Passo Fundo a Posadas (468km) do que ir a Florianópolis (508km). Mesmo assim, são pouco mais de 10 horas de viagem. E ainda há a opção de subir de carro. Pra um roteiro internacional, vale o esforço. Sem dizer que as praias doces, o conhecimento e a hospitalidade compensam.

Dia 1 - Trem, praia e pôr-do-sol
O ônibus parte da rodoviária de Passo Fundo entre 5 e 6 horas da manhã. O primeiro trecho, em solo gaúcho, é pontuado por cruzes de Lorena, indicando antigas reduções jesuítico-guaranis nos locais pelos quais vamos passando. A parada pra almoço ocorre em São Luiz Gonzaga, uma das cidades missioneiras. Logo depois, cruzamos a fronteira argentina, na divisa entre São Borja e São Tomé, outras duas protagonistas dos tempos em que padres e índios construíram uma civilização à parte de Portugal e Espanha neste sul do mundo. Nelas não há mais vestígios, portanto seguimos mais ao norte, até Posadas, chegando entre 17 e 18 horas.

Em território argentino, pegamos o novíssimo trem binacional, que começou a operar no início deste ano. É o transporte mais rápido e elegante para cruzar o rio Paraná. A viagem dura 7 minutos, mais uns 15 para os trâmites na aduana. Ao desembarcar em Encarnación, a paisagem muda em relação a Posadas, que recém conhecemos e deixamos pra trás. A estação do trem é no meio de um bairro residencial e comercial, onde a infra-estrutura urbana é precária se compararmos às cidades brasileiras. Mas os moradores e comerciantes garantem que é um lugar tranqüilo e seguro. Pegamos um táxi para nos instalarmos no hotel na praia de San José. Chegando lá, a paisagem mudava novamente. A beira do rio Paraná impressiona e cativa, com ruas recém abertas, calçadão, restaurantes, hotéis e toda a estrutura necessária para um balneário turístico.

Dependendo da época do ano que se for, dá tempo de assistir ao lindo pôr-do-sol, avistando as luzes e os prédios de Posadas do outro lado do rio. Recomendo ir no verão e aproveitar para tomar um banho de água doce e recuperar as energias depois da longa viagem. À noite, pode-se jantar e se divertir nos diversos bares na beira da praia.

Dia 2 - Chipas, ruínas e sambódromo
Pra quem não tomou café da manhã no hotel, há várias opções de comida na rodoviária e dentro dos ônibus, no caminho para Trinidad. Vale ir cedo pegar um ônibus de linha mesmo e provar as chipas (pães guaranis de mandioca e queijo). 50 minutos depois, chegando na entrada da pequena cidade, caminhamos menos de um quilômetro até as ruínas. No caminho há esculturas de pedra que marcam os momentos da via crúcis.

O parque da redução da Santísima Trinidad Del Paraná tem restaurante, bancas de artesanato e guias. Paga-se um ingresso para a visitação, que não é longa. Conhecendo as ruínas, vemos muita semelhança com as de São Miguel, no Rio Grande do Sul. Mas são os detalhes diferentes que guardam a riqueza da civilização jesuítico-guarani. A missão sul-rio-grandense que conhecemos mantém a maior fachada. Já em Trinidad, há resquícios de um púlpito e de diversas imagens de santos em pedra. Também há um pequeno museu, com peças recolhidas em diversos pontos, principalmente esculturas.

A segunda parte do passeio contempla as ruínas de Jesús de Tavarangüe, a 16 quilômetros dali. Pode-se pegar um táxi, ou voltar na estrada para embarcar no próximo ônibus, ou até pedir carona. Adentra-se uma zona rural e se chega a uma redução pequena e muito bonita, com um bosque na entrada. A arquitetura dela mantém o padrão de organização das residências, oficinas, escolas, igreja. Mas os detalhes dos acabamentos, principalmente abertura de portas e janelas, são de influência moura, obra do arquiteto espanhol que as projetou. A paisagem ao lado do parque também é admirável. Dali pode-se ir até uma aldeia guarani ou voltar para o sul e conhecer uma antiga redução que teve a igreja reformada, a de San Cosme y Damián.

De volta a Encarnación, conhecemos o sambódromo, na beira do rio Paraná. Trata-se de uma construção nova, tão grande quanto o de Porto Alegre. Eles promovem o maior carnaval do Paraguai, com desfile de escolas de samba e muita gente em volta, nos bares, ruas e casas noturnas. Depois voltamos à praia de San José, para ver de perto o cartão postal da cidade, o antigo moinho. Já era tarde quando fomos saber que havia bicicletas para alugar e andar pelo longo calçadão. Fica a dica.

Dia 3 - Muamba, mate e índio gigante

O dia começa com o retorno à Argentina, agora pra conhecer melhor Posadas. Antes de pegarmos o trem binacional, paramos no centro de compras de Encarnación, próximo à ponte San Roque Gonzáles de Santa Cruz e à estação férrea. Não era nossa prioridade, portanto não temos dicas sobre produtos e preços. Mas vale lembrar que é Paraguai, havia muitas lojas de roupas e produtos eletrônicos. Claro, a especialidade local, o tererê, também era oferecida com variedade de cuias, bombas, térmicas e ervas.

O retorno a Posadas provoca familiaridade. Depois de dois dias vivendo com a timidez dos paraguaios, em um país mais pobre que o nosso, percebemos mais semelhança na cidade argentina. Está aí uma experiência formidável nesta viagem. Apenas cruzando o rio Paraná, vivenciamos tantas diferenças e similitudes. O mate está por toda parte. Todo mundo toma a qualquer hora do dia. De um lado, gelado, com mistura de ervas: o tererê. Do outro, quente, pura folha em cuia pequena. Fomos conhecer melhor o hábito argentino, o qual compartilhamos, na Galeria da Erva Mate. Lá há todos os tipos de avios e ervas. Chamou atenção a nova invenção deles: uma cuia de resina, que não solta sabor como o porongo (muito prática e higiênica). Mas há opções para todos os gostos e bolsos, inclusive com adornos de pedras preciosas.

Almoçamos uma parrillada no restaurante mais tradicional de Posadas, La Querência. Seguimos o city tour pela costaneira do rio. A área foi reformada há pouco tempo, a exemplo da cidade vizinha. Foram construídos novos monumentos e uma ciclovia. Chama atenção a estátua de 15 metros de Andresito Guaçurarí, comandante de origem guarani que governou a Província de Misiones e lutou para defender a fronteira.

Estranhamos um pouco o costume hispânico de dormir após o almoço. A “siesta” vai até as 16h, quando o comércio reabre. Numa sexta-feira, quem não aderir ao descanso, pode dar de cara na porta fechada dos museus históricos da cidade, por exemplo. À noite, claro, o comércio segue aberto até tarde. O centro fica repleto de gente. Boa opção para jantar e até tentar a sorte num dos cassinos.

Dia 4 - Peças arqueológicas, arquitetura e feira
Os ônibus em Posadas funcionam muito bem. Os intermunicipais são luxuosos. Embarcamos num para San Ignacio logo cedo. Uma hora de viagem depois, desembarcamos na rodoviária, ao lado da rodovia. A caminhada foi longa até as ruínas. Se não tiver disposição, recomendamos um moto-táxi. Ao redor da antiga redução há uma cidadela que oferece todos os serviços necessários ao turista. É um lugar movimentado, cheio de bancas de artesanato e guaranis ao redor. Infelizmente, maior parte dos índios vive marginalizada e pede esmolas aos visitantes.

Dentro da área que é patrimônio da humanidade, há as ruínas de San Ignacio Miní e um museu bem elaborado, com peças arqueológicas e obras de arte das reduções. Não expõem tantos objetos como em São Miguel, mas é bem iluminado e estruturado, com informações sobre cada um.

De San Ignacio pode-se ir a outros dois parques, Santa Ana e Loreto, bem próximos dali. Mas este é um passeio mais apropriado para quem está de carro. Nós ficamos mais tempo no mesmo lugar, almoçamos e também fotografamos a cidade ao redor.

Com tempo sobrando, pudemos ir à feira do centro da cidade, onde está a estátua do “Mateador”. Defronte a ele, nos sentimos identificados. Lembra nossos monumentos à cuia e ao Teixeirinha, em Passo Fundo. Mas é instigante o fato de que a obra não representa um tipo gaúcho. Fomos jantar no charmoso Café Vitrage e se preparar para o retorno na manhã seguinte.

Dia 5 - Retorno e familiaridade
É de se sensibilizar com as semelhanças e desavenças que encontramos no passeio. Ora, parecemos o mesmo povo tomador de mate, descendente de índios e imigrantes europeus. Ora, ficam evidentes nas conversas as rivalidades nacionais: lutas, conquistas, territórios, câmbio, futebol. Então ao final de uma tarde, vimos sentada num banco, à beira do rio, uma moça de evidente descendência alemã. Ela tomava tererê, do lado argentino. Pedimos para fotografá-la e ela perguntou de onde éramos. Ao ouvir nós respondermos Passo Fundo, sorriu e disse: - Eu sou de Sapiranga.

Fonte: Blog Pampurbana

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