É esse objeto rústico feito de couro das pernas de vacas, burros e éguas e sovado a mão em que o homem primitivo do campo, aquele semi-bárbaro, usava para proteger os pés.
Embora o nome seja bota de garrão de potro, na verdade, raramente eram feitas do couro de potros.
Esse foi um dos primeiros calçados criado no século XVIII, fez parte da indumentária daquela época, eram usadas pelos índios (nossos nativos), pelos gaúchos camponeses, peões das fazendas, changadores (homens de negócios) e depois pelos tropeiros de mula, enfim, pelos povoadores do Pampa Gaúcho. Os ginetes costumavam usar esse tipo de botas que eram cômodas e baratas, facilitava a mobilidade dos dedos dos pés e adaptação da forquilha das esporas para se estribar. Também há botas desse tipo em que é costurado, fechado, na ponta do pé.
Antes destas botas havia as “botas de vaca” onde a história comprova esta veracidade através da Ata do Cabildo de Montevidéu do mês de agosto do ano de 1785.
Sabemos que os animais cavalares sempre foram de enorme importância e valia, pois eles servem nas montarias para as tropeadas, nas lides de campo, nos rodeios, paras os transportes puxando carroças e charretes. Os cavalos foram úteis para os estafetas que eram os antigos entregadores de correspondências, também às parteiras. Os cavalos deram uma grande contribuição aos militares nos exércitos, nos patrulhamentos, nas guerras. A carne serve para o consumo humano e, por longa data, o couro desses animais foi matéria-prima que movimentou pequenas indústrias familiares dentre as quais as das botas.
Para a confecção desses objetos de meio pé, depois do animal morto, tira-se um pedaço de pele das patas através de um corte transversal na cocha e outro acima do casco onde na curva tem o talão que depois da bota pronta esse talão é aquela extensão da bota que fica junto ao calcanhar humano. Em termos práticos retira-se os restos de carne e as gorduras do couro e após secar é engraxado e sovado com paciência para as botas ficarem macias e flexíveis e então já se pode calçar sem a necessidade de dar forma e, muitas vezes, sem o emprego da costura. A durabilidade dessas botas numa atividade constante gira, de acordo com o uso, num tempo compreendido de cerca de três meses.
As botas garrão de potro, o pala bichará e o tirador eram indumentárias usadas pelos gaúchos de antigamente.
Os milhares de pares de botas de garrão de potro em sua difusão fizeram com que fosse aumentado o gado vacum e o número de animais cavalares o que impulsionou a própria economia destas plagas sulinas.
Hoje usa-se as botas garrão de potro mais para manter a tradição e com isto mantém-se viva a arte de trabalhar com couro e resgatar a cultura gaúcha.
Site: Escritor João Antunes poeta, historiador e compositor
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