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13/05/2021 14:00


Os Negros e a Escravidão por João Antunes.

     Mesmo com a Lei Imperial n.º 3353, a Lei Áurea, onde Áurea significa “de ouro” reportando-se ao espírito glorioso da lei que extinguiu o modo desumano de exploração dos negros, assinada pela princesa Isabel, sancionada em 13 de maio de 1888, que declarou extinta e escravidão no Brasil os negros ainda sofrem pela falta de acesso à plenitude dos direitos na equiparação com os brancos. 
Nas diferentes raças humanas, os nossos irmãos chamados de povo negro são aqueles que têm um fenótipo (manifestação visível do gen) de pele escura em relação aos outros grupos raciais. 
Nas Américas, inicialmente os nativos (que nós chamamos de índios) foram forçados à escravidão onde milhares morreram pelo sofrimento imposto e pelas epidemias. 
 Quem primeiro escravizou os africanos foram os espanhóis e depois os portugueses. Em 1518, deu-se o início à escravatura em maior escala onde os negros foram introduzidos à Índia. E depois essas sangrentas, interesseiras e lucrativas práticas estenderam-se aqui nas Américas onde no Brasil começou com Martim Afonso de Sousa em 1532 e este infame comércio prosseguiu até 1850, com a Lei Eusébio de Queirós.
Os escravos eram trocados com base no escambo (comercio sem fazer uso de moeda, permuta) geralmente por armas, aguardente,  tabaco, rum, pólvora, tecidos. Nesse comércio entrava também o marfim que vem da substância dura encontrada nas presas de elefantes, rinocerontes e morsas onde isto também implicou na matança destes animais durante anos. 
Estima-se que veio para as Américas um contingente de cerca de 14 milhões de escravos onde quase metade morreu nas precariedades e injustiças da travessia marítima, violências através das formas desumanas empregadas, problemas com doenças e de adaptações.
Dizem que muitos escravos quando eram arrancados à força do continente africano, em atitudes desesperadas, chegavam a comer areia num sinal de amor à terra e sabendo que para lá jamais retornariam. 
Nos porões dos navios negreiros ou tumbeiros as temperaturas, às vezes, ultrapassavam 55º C amontoados, espremidos em compartimentos minúsculos, escuros, fétidos e sufocantes. Passavam fome e sede, pois comiam milho e tomavam menos de um litro de água por dia. A falta de higiene era tanta que os escravos se misturavam às urinas e às fezes que eram feitas no local ficando expostos às proliferações de doenças. E só podiam se enxaguar duas vezes durante a viagem marítima que durava de 30 a 45 dias.
Os escravos que chegavam ao Brasil eram chamados de “peças” e como mercadorias eram vendidos em leilões públicos onde pagava-se o melhor preço para quem tinha entre 12 e 30 anos. 
Trabalhavam até 16 horas por dia. A comida, muitas vezes, era caldo de feijão com rabo, orelhas, pés e línguas de porcos. As crianças eram coagidas e tinham que trabalhar já a partir dos 7 anos de idade matando assim, bem cedo, a infância. Cada dono de engenho podia importar no máximo 120 escravos da África por ano e além dos maus tratos psicológicos os maus tratos físicos, nas punições com dureza e crueldade, não podia passar de 50 chibatadas por pessoa por dia. 
Na senzala homens e mulheres ficavam separados. Só mais tarde por vontade do dono do engenho eram permitidos os casais ficarem juntos em casebres paupérrimos na forma de barracos de pau-a-pique cobertos geralmente com folhas de bananeiras ou folhas de coqueiros sem a mínima infra-estrutura.
Os batuques e as danças eram permitidos nas senzalas, pois acreditava-se que vivendo essa cultura os negros não se revoltariam com facilidade. Mesmo assim, registra a história, muitos incendiavam as senzalas, quebravam as ferramentas, uns morriam de tristeza, outros cometiam suicídio e outros, ainda, fugiam enfrentando as intempéries do tempo e as matas minadas de feras e animais peçonhentos além de outras asperezas. 
E, por falar em dança, a Capoeira que não é uma palavra de origem africana, mas de origem tupi que significa kapu’era veio da África para o Brasil lá pelos quilombos pernambucanos.  A Capoeira  tem muito a ver com habilidade, exibição e destreza, é um ritual angolano, dança da zebra, chamada de n’golo, que os moços das aldeias exercitavam com o propósito de ver qual deles ficaria com a moça quando ela chegasse à idade de se casar. Até a abolição da escravatura a Capoeira era proibida e aquele que a praticasse era açoitado. Quem, de fato, acabou com a proibição em 1937, foi o presidente Getúlio Vargas.
Além do trabalho escravo nos engenhos de cana-de-açúcar, nas lavouras, muitos eram aprendizes de toda ordem, estivadores, vendedores, barqueiros, transportadores, construtores de ruas e de casas, nas minas onde muitos morriam afogados, soterrados e exauridos fisicamente nas cavernas de mineração, nas guerras, entre outras atividades. As mulheres trabalhavam nos afazeres domésticos, culinárias, sendo amas de leite, cuidando às crianças, no artesanato, dentre outras atividades. Não ganhavam salário, somente alimentação de má qualidade, moradias desumanas e roupas velhas. Muitos nas agruras diárias morriam de enfermidades e acidentes de trabalho. Eram comuns as rebeliões e outros fugiam formando os Quilombos ou Mocambos (locais, comunidades de refúgios) onde podiam viver em liberdade e trabalhar conforme os hábitos e a cultura africana. O Quilombo mais famoso no Brasil foi o Quilombo do Palmares, que durou quase cem anos e foi o maior símbolo de resistência dos escravos no período do Brasil colonial, onde o principal líder foi Zumbi. 
Aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, muitos negros trabalharam nas charquedas, como peões de estâncias e outros serviços rústicos do meio rural.  Sabe-se que mesmo vivendo segregados durante a campanha militar, na Revolução Farroupilha, (1835-1845), a presença dos negros foi de suma importância. Os Lanceiros Negros lutavam a pé com lanças de madeiras, garruchas, facas, facões e muita bravura acreditando na liberdade prometida que foi só um engodo, pois é de se lamentar que não fosse cumprida a promessa de liberdade aos negros após esta revolução em solo gaúcho onde também nenhum negro chegou a um posto que fosse significante, pois os principais chefes farrapos eram escravistas. 
No interior de Bossoroca, no Rincão do Sobrado, tem um Solar (prédio de residência de família nobre, neste caso, a Família Furtado) e junto dele há um galpão de pedras que é conhecido e chamado popularmente de Senzala. Os antigos donos da propriedade não eram escravistas e tratavam os negros com respeito e dignidade. Logo, acredita-se que o referido galpão tenha sido, de fato, um recinto habitado por negros que serviam aos seus patrões.
No Brasil atualmente a população parda e preta representa mais 54% da população, ou seja, dos 208 milhões de habitantes brasileiros cerca de 112 milhões de pessoas são classificadas como pardas ou pretas.
Ainda há discriminações contra os negros sendo, na prática, menos valorizados em relação aos brancos. Os negros ainda  têm espaço reduzido nos bens, aos acessos políticos, à produção do pensamento, a grandes postos de comando, à riqueza e nos direitos que conduzem o ser humano à cidadania plena.

TRIBUTO AOS NEGROS

Por muitos anos a ganância e opressão
Violentou o povo negro africano
E no Brasil a chaga da escravidão
Feriu com golpe violento e desumano.

Nos porões dos navios vieram “empilhados”,
No coração a sagrar tristeza e dor,
E, então, nas praças, geralmente, leiloados,
Pra serem escravos pela mão do malfeitor.

Quanto castigo, os grilhões e os gemidos,
Os cativeiros, os açoites, judiarias,
No desamor, expatriados e feridos,
E a dor na alma agulhando noite e dia.

As mucamas embalaram cantilenas
E as casas grandes se estrelaram de canções,
Amas-de-leite para as crianças pequenas
Que eram filhas naturais dos seus patrões.

E as lavouras prosperaram pertinentes,
Labor escravo alavancou a economia
E até na guerra o negro foi combatente
E, nem por isso, conquistou cidadania.

E assim se foram quase trezentos anos
De sacrifício e de maldição imposta,
Pois o escravo vivenciou no cotidiano 
A realidade em que o amor virou as costas.

A Lei Áurea contemplou a liberdade,
Mas o negro ainda sofre preconceitos,
Vai pela borda estrutural da sociedade
Vendo castrada a plenitude dos direitos.

Levanta negro vamos plantar nova era
Onde o amor tenha a sublime condição
Para hastearmos, todos juntos, a bandeira
Que tem o nome de fraterna comunhão 
Letra: João Antunes. 
Música: Zulmar Benites.
Ritmo: Quicumbi.
Site: Escritor João Antunes poeta, historiador e compositor 
Facebook = João Carlos Oliveira Antunes 

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