Detalhes do Site

Artur Arão o Bandoleiro do Riogrande



              Foi tropeiro, contrabandista e que cometeu toda espécie de atrocidade num tempo onde “ser gaúcho era um delito”.
              Na década de 30, Artur Arão era notícia. Suas façanhas corriam de boca em boca nas 'pulperias e bolichos', nas vilas, povoados e cidades da região missioneira. Seu pai, chefe maragato, coronel Pedro Arão, foi emboscado por seus inimigos políticos, nas margens do rio Uruguai, por milícia argentina, depois de preso naquele país, para onde fugira. Em seguida, os bens do malfadado chefe foram saqueados, de modo que a família de Artur Arão, que era abastada, ficou na miséria. Embora tivesse outros irmãos por seu ímpeto e audácia puxou para si a vingança da morte do pai. 
             Ludovico Meneghello “contestador da ordem social de seu tempo, foi um relâmpago na história, guiado pela sede de vingança. Intrépido, em defesa da família e dos direitos humanos, foi um farol numa época de terror”. 
              A imaturidade e a motivação das injustiças o levaram a abrir guerra contra a sociedade organizada, especialmente contra os chamados 'provisórios', soldados irregulares, incorporados às tropas auxiliares da Brigada Militar, constituídas de elementos de todas as origens e procedências, para reforçar as guarnições das cidades do interior. 
              O território de atuação de Artur Arão, aqui no Rio Grande do Sul, foi a região missioneira, Santo Ângelo, Sete de Setembro, Giruá, Santiago, Guarani das Missões até Porto Chavier e municípios vizinhos, mas sua ação se estendeu também pelos estados de Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e outros, para onde viajava, fugindo da polícia. Lá, tinha amigos e protetores. Também agiu na Argentina, para onde contrabandeava gado roubado e emigrava nas horas de aperto.
              Participou, como capitão mercenário, do exército paraguaio, na Guerra do Chaco, travada entre aquele país e a Bolívia por questões de limites e que encerrou, oficialmente, em 12 de julho de 1935. Comandou, nessa guerra, uma companhia de infantaria, notabilizando-se por sua valentia e recebendo o codinome de 'El Capitán de Fierro'. Teve grande poder de decisão, não raro, servindo de conselheiro tátivo de oficiais de alta patente, por sua experiência comprovada como guerrilheiro".
              A saga de Artur Arão foi preservada por Ludovico Meneghello, que escreveu a respeito quatro títulos: Eu Sou Artur Arão, Artur Arão o Vingador, Artur Arão na Guerra do Chaco e A Volta de Artur Arão. O primeiro da série, Eu Sou Artur Arão, teve uma primeira edição pela Editora Garatuja, em 1976. A segunda edição, junto com os demais títulos, foi pela Editora Sulina. Atualmente são encontrados somente em sebos e, pela sua raridade, a custo bastante alto. O famoso bandoleiro foi levado a tornar-se um fora-da-lei por motivo de vingança.
              Em 1936, com 19 anos de idade, cabo no 4º Regimento de Cavalaria Independente, em Santo Ângelo, Ludovico Meneghello foi preso por insubordinação. Teve Artur Arão como companheiro de cela. Ao saber que o recém chegado produzia umas poesias, Artur Arão dispôs-se a contar sua vida, “para então saberes, tu e os que te lerem, que foi revoltando-me contra o banditismo que me tornei um fora-da-lei”. Ludovico pegou a oportunidade na hora, mandou um soldado comprar duzentas folhas de papel e no mesmo dia começou a anotar os depoimentos. Conta: “Ouvi acusações terríveis e a confissão de crimes tenebrosos. Não raro íamos até altas horas da noite, ele falando, eu escutando e escrevendo. Por vezes tornava-se violento: esbravejava, erguia-se de um salto e dava um pontapé na cadeira, esmurrava as paredes, sacudia as grades, espezinhava o chão e blasfemava, dizendo coisas horríveis. Eu, papel à frente e lápis em punho, aguardava serenamente que passasse a crise”.
             Considerado bandido por uns e herói por outros, viveu de tal modo que é o melhor exemplo do espanto de Martin Fierro, quando descobre que “ser gaúcho es un delito”.
    A INFÂNCIA
              Artur Arão nasceu no povoado de Giruá, município de Santo Ângelo, em 1904, e chamava-se Artur Alberto de Mello. Seu pai era Pedro Alberto de Mello, conhecido como Pedro Arão. Sua mãe, Francelina Dornelles, foi a segunda esposa de seu pai, mas união consensual não registrada em cartório. Pedro Arão nunca tomou providências legais para encerrar seu primeiro casamento após separação por desentendimentos.
              Dos oito aos onze anos de idade, Pedro Arão morou com a avó paterna em uma chácara do seu avô e perto da fazenda de seu pai. Quando voltou para a casa do pai foi para a escola: “Eu gostava de estudar, principalmente ler e escrever. Foi um tempo bom, em que uma grande serenidade de apoderou de mim”. Quando tinha quatorze anos trocaram a professora por uma jovem de dezoito anos. Pegou a professorinha à unha. No mesmo dia seu pai recebeu um ofício do colégio, comunicando a expulsão de Pedro Arão “por princípios indecorosos”. Foi consultar o dicionário de sua casa para saber que se tratava de “falta de decoro, de compostura”. O episódio mostra que sua família não era composta apenas por brutos em estado puro. Dispunham de dicionário, o que não era comum, e Artur Arão sabia que o livro era capaz de resolver suas dúvidas de entendimento.
              O episódio fez o pai perceber que havia chegado a hora de uma conversa de homem para homem e lhe aconselhou: “Mas não é como fizeste que se consegue mulher. Existem três maneiras de consegui-las: conquistando-as, alugando-as ou obrigando-as. A última não é aconselhável, constitui crime previsto em lei e a própria consciência humana não aprova”. Depois de ter levado o garoto para sua iniciação em um bordel, enfatizou: “Esta é a maneira mais rápida e prática de se conseguir uma mulher, mas a que nos proporciona maior prazer é aquela em que a conquistamos com palavras ou com atos”. Disse tudo.
              Como era comum na época, Artur Arão estudou apenas o suficiente para se virar na vida: ler, escrever e fazer contas. Manteve o gosto pela leitura. Preferia os “Almanaques”, pela riqueza de informações. E chegou a decorar várias poesias de Lobo da Costa, poeta muito popular na época.
    HOMEM FEITO
              Apreciava cachaça com açúcar. Misturava com o que estivesse à mão: uma colherzinha, o lápis do bolicheiro ou então o cano do revólver, quando queria deixar bem explícitas as suas intenções. Caso alguém se interesse em experimentar esta fórmula do aperitivo é recomendável não fazê-lo ao ar livre. Deixado no chão, em menos de um minuto o copinho fica coalhado de formiguinhas, atraídas pela conjunção de dois produtos derivados da cana-de-açúcar.
               Artur Arão para comer não tinha cerimônia: quando via um animal no campo, cortava o arame, abatia-o a tiros, assava um churrasco ali mesmo, colocava outro debaixo dos pelegos e a marcha continuava. Praticamente morava em cima do cavalo e dentro do seu poncho. Dispondo de dinheiro, ao invés de café da manhã nos bolichos pedia bifes acebolados.
              Primeira experiência militar, em 1926 apresentou-se como revolucionário civil, foi logo incorporado como 1º Tenente. Ele descreve seu uniforme: “ficamos com uma indumentária bizarra: chapéu de abas largas, lenço vermelho no pescoço, túnica de oficial e de sargento do Exército, bombachas e botas. Afinal, esse era o traje típico dos revolucionários do sul”.

  • Sobre

  • O DIA EM QUE ARTUR ARÃO NÃO MORREU
              O episódio mais conhecido da saga de Artur Arão foi quando sobreviveu a um fuzilamento e uma execução. Perseguido, foi preso quando atingido por um tiro que lhe quebrou o braço. Foi levado para execução, quando ao enforcamento preferiu o fuzilamento. O pelotão, com os soldados já meio bêbados, acertou-lhe seis tiros no corpo. Que não foram suficientes para matá-lo. Ia receber o tiro de misericórdia, no ouvido. Com a pouca luz da lua e com o executante também já meio bêbado, Artur Arão teve o tino de mover discretamente a cabeça e tirar o cano do fuzil de seu ouvido, fazendo com que ficasse na altura do lobo da orelha, para desviar a trajetória da bala de seu cérebro. A estratégia deu certo, o tiro não acertou nem o cérebro nem seus tímpanos, pegou no “carrilho”, isto é, na queixada, na mandíbula. Foi dado como morto. Sobreviveu, baleado, com um braço inerte e todo empapado de sangue. Em condições precaríssimas começou a se arrastar, o que não lhe levaria a parte alguma. Levantou-se com muito esforço, dava uns passos, caí, levantava, caía outra vez. Calcula que levou umas quatro horas para percorrer aproximadamente um quilômetro. Encontrou uma casa onde realizavam um baile. Conseguiu chegar lá e seu aspecto terrível fez todo mundo debandar. Conseguiu entrar em um quarto e ali desabou. Quando acordou, estava em um hospital, onde tinha permanecido em coma por 18 dias. Passou três meses em tratamento e mais um de recuperação.
              Depois de ter recuperado a condição física, aparentemente sem pesadas seqüelas, foi atrás de seus algozes e exterminou todos. Daí em diante participou de muitas peripécias, uma das principais sendo o seu envolvimento na Guerra do Chaco, no Paraguai, quando recebeu o apelido de “Comandante de Hierro”.
              O episódio do seu fuzilamento está representado abaixo, em quadrinhos.
              O episódio foi também musicado. A música O dia em que Artur Arão não morreu, que, ganhou o 6º Festival Cante Uma Canção em Vacaria, realizado em 2008, na interpretação de Cristiano Quevedo
    Site: Artur Arão o Bandoleiro do Riogrande
    Site: Quem foi Artur Arão? 
    Site: O Delator de Artur Arão
    Site: Morte de Pedro Arão Pai de Artur Arão
    Vídeo: O Dia que Artur Arão Não Morreu - Cristiano Quevedo

Informações

Artur Arão o Bandoleiro do Riogrande
Giruá, RS
Região das Missões
Telefone: (55) 3312-9485

Formulário para contato