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Por que o Gaúcho fala Peleia?



    No centro do País, muitos perguntavam por que o Gaúcho é brigão, tem essa fama de lutador.  E até para palavra “luta” tem outra palavra, “Peleia”, por que disso, muitos questionam e brincam. Nossa nação Rio-grandense nasce nas missões e em seguida ocorre Guerra Guaranítica, depois as revoluções, de 35 e muitas outras, quando as fronteiras do Brasil no Prata não eram estabelecidas e pelear era a forma de manter suas terras e rebanhos.
    O Rio Grande trabalhou muitos anos para que o Império dormisse tranquilo e o assunto poderia se estender por muito tempo. Não há cidade no Rio Grande do Sul que não tenha perdido um filho na segunda guerra mundial. E esse assunto pode se desdobrar muito e para simplificar deixo a vocês a Payada (poema para os que não nasceram na nação pampeana) Bolicho, de Jayme Caetano Braun. A luta mais conhecida, a peleia mais rinha dura que talvez nunca tenha existido, mas não há gaúcho que não se comova ou a desconheça e que dará horas de tradução, para os desafortunados que não conhecem o valor de ter nascido no garrão da pátria e ser de uma estirpe guerreira.
    Simplificando mais ainda “Pelear - brigar, lutar, combater, pelejar, teimar, disputar. 
    Expressar algo difícil então se diz pelear. Peleando em favor da pampa a pilcha sovada em tira”.
    Como nos auxiliou Rose Ortaça: "Peleio pra conseguir as coisas, peleio para mudar as coisas, pelas coisas que acredito. Vem do passado no DNA o instinto de peleador"! 
    Zeni Paulo de Souza "Não tá morto quem peleia"!
    Bochincho Jayme Caetano Braun, 
    --A um bochincho - certa feita, fui chegando - de curioso, que o vicio - é que nem sarnoso, nunca pára - nem se ajeita. Baile de gente direita, vi, de pronto, que não era, na noite de primavera, Gaguejava a voz dum tango, e eu sou louco por fandango, que nem pinto por quireral.
    --Atei meu zaino - longito, num galho de guamirim, desde guri fui assim, não brinco nem facilito. Em bruxas não acredito, 'Pero - que las, las hay', sou da costa do Uruguai, meu velho pago querido, e por andar desprevenido, há tanto guri sem pai.
    --No rancho de santa-fé, de pau-a-pique barreado, num trancão de convidado, me entreverei no banzé. Chinaredo à bola-pé, no ambiente fumacento, um candieiro, bem no centro, um lusco-fusco de aurora, pra quem chegava de fora, pouco enxergava ali dentro!
    --Dei de mão numa tiangaça, que me cruzou no costado, e já sai entreverado, entre a poeira e a fumaça, oigalé china lindaça, morena de toda a crina, dessas da venta brasina, com cheiro de lechiguana que quando ergue uma pestana, até a noite se ilumina.
    --Misto de diaba e de santa, com ares de quem é dona, e um gosto de temporona, que traz água na garganta. Eu me grudei na percanta, o mesmo que um carrapato, e o gaiteiro era um mulato, que até dormindo tocava, e a gaita choramingava, como namoro de gato!
    --A gaita velha gemia, ás vezes quase parava, de repente se acordava e num vanerão se perdia E eu - contra a pele macia daquele corpo moreno, sentia o mundo pequeno, bombeando cheio de enlevo dois olhos - flores de trevo com respingos de sereno! 
    --Mas o que é bom se termina, - cumpriu-se o velho ditado, eu que dançava, embalado, nos braços doces da china, escutei - de relancina, uma espécie de relincho, era o dono do bochincho, meio oitavado num canto, que me olhava - com espanto, mais sério do que um capincho!
    --E foi ele que se veio, Pois era dele a pinguancha, bufando e abrindo cancha, como dono de rodeio.
    Quis me partir pelo meio, num talonaço de adaga, que - se me pega - me estraga, chegou levantar um cisco, mas não é a toa - chomisco! Que sou de São Luiz Gonzaga!
    --Meio na volta do braço, Consegui tirar o talho, E quase que me atrapalho, Porque havia pouco espaço, mas senti o calor do aço, e o calor do aço arde, me levantei - sem alarde, por causa do desaforo, e soltei meu marca touro num medonho buenas-tarde!
    --Tenho visto coisa feia, tenho visto judiaria, mas ainda hoje me arrepia, Lembrar aquela peleia, Talvez quem ouça - não creia, mas vi brotar no pescoço, do índio do berro grosso, Como uma cinta vermelha, E desde o beiço até a orelha ficou relampeando o osso! 
    --O índio era um índio touro, mas até touro se ajoelha, cortado do beiço a orelha, amontoou-se como um couro, E aquilo foi um estouro, daqueles que dava medo, espantou-se o chinaredo, E amigos - foi uma zoada, Parecia até uma eguada, Disparando num varzedo!
    --Não há quem pinte o retrato, dum bochincho - quando estoura, tinidos de adaga – espora, e gritos de desacato. Berros de quarenta e quatro, de cada canto da sala, e a velha gaita baguala, num vanerão pacholento, fazendo acompanhamento, do turumbamba de bala! 
    --É china que se escabela, redemoinhando na porta, e chiru da guampa torta, que vem direito à janela, gritando - de toda guela, num berreiro alucinante, índio que não se garante, vendo sangue - se apavora, E se manda - campo fora, levando tudo por diante! 
    --Sou crente na divindade, morro quando Deus quiser, Mas amigos - se eu disser, Até periga a verdade, naquela barbaridade, de chínaredo fugindo, de grito e bala zunindo, o gaiteiro - alheio a tudo, tocava um xote clinudo, já quase meio dormindo! 
    --E a coisa ia indo assim, balanceei a situação, - Já quase sem munição, todos atirando em mim. Qual ia ser o meu fim, me dei conta de repente, não vou ficar pra semente, mas gosto de andar no mundo, me esperavam na do fundo, Saí na porta da frente... 
    --E dali ganhei o mato, abaixo de tiroteio, e inda escutava o floreio, da cordeona do mulato, e, pra encurtar o relato,  Me bandeei pra o outro lado, cruzei o Uruguai, a nado, que o meu zaino era um capincho, e a história desse bochincho faz parte do meu passado!
    --E a china - essa pergunta me é feita, a cada vez que declamo, É uma coisa que reclamo, porque não acho direita considero uma desfeita, que compreender não consigo, eu, no medonho perigo, duma situação brasinha, todos perguntam da china, e ninguém se importa comigo!
    --E a china - eu nunca mais vi, no meu gauderiar andejo, somente em sonhos a vejo, em bárbaro frenesi. Talvez ande - por aí, no rodeio das alçadas, ou - talvez - nas madrugadas, seja uma estrela chirua, dessas - que se banha nua, no espelho das aguadas.
    Jayme Caetano Braun acompanhado por Cenair Maicá recitando a Payada Bochincho.

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    Notícia: Esta Foto é uma Raridade, um Patrimônio de Todos os Gaúchos
    Notícia: Jayme Caetano Braun Mobiliza Tradicionalistas e Autoridades

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