Troncos Missioneiros é o nome de um disco que reúne quatro artistas da Região Missioneira do Rio Grande do Sul: Noel Guarany, Cenair Maicá, Jayme Caetano Braun e Pedro Ortaça. Além de fomentar uma Musica Regional Missioneira, o principal legado dos artistas que ficaram conhecidos mundialmente como “Troncos Missioneiros” pioneiros na construção de uma identidade missioneira sendo o principal grupo, junto de outros artistas, que protegeram a origem do que é hoje a musica tradicionalista gaúcha.
Cantaram com orgulho, união e essência temas que estavam sendo negligenciados por uma sociedade que se transformava com um produto muito comercial e tinha muita influência vindo do exterior e centro do país.
Os quatro escreveram sobre os mesmos temas, mas vamos citar alguns versos como exemplo:
A integração Sul Americana.
Peço perdão aos senhores, a minha xucra linguagem,
Pois nela eu trago a imagem da pampa de muitos anos.
De índio sul-americano, bordoneado de heroísmo,
Que o meu crioulo ativismo, num gesto de reverência,
Força minha inteligência: Ser poeta sem catecismo. (Noel Guarany).
O Chimarrão.
Gaudéria essência charrua do Rio Grande primitivo
Chupo mais um, pra o estrivo e campo a fora me largo,
Levando o teu gosto amargo gravado em todo o meu ser,
E um dia quando morrer, Deus me conceda esta graça
De expirar entre a fumaça do meu chimarrão querido
Porque então irei ungido com água benta da raça! (Jayme Caetano Braun).
A Origem do Campo.
Trabalhando, trabalhando não viu a vida passar ,
O suor que regou a terra nem sementes viu brotar
Trabalhando, esperando, enfrentando chuva e sol
Enxada na terra alheia nunca traz dia melhor.
Assim a geada dos anos foi le branqueando a melena
E este homem rural hoje é peão de suas penas. (Cenair Maicá)
As Reduções Jesuíticas.
Sou o que os historiadores, procuram lá nas ruínas
Mas não sabem os doutores, que esta saga não termina
Que ainda restam descendentes da terra dos sete santos
E o passado está presente em tudo aquilo que canto. (Pedro Ortaça)
Nossos Costumes.
Rosilho bem encilhado, badana e pelego novo
E na casca de ovo, ajoujado na guaiaca
Pra emparceirar uma faca, de fibra marca coqueiro
De peleguear bochincheiro e fazer touro virar vaca (Cenair Maicá)
A Colonização do Riogrande.
Chegaram e se integraram e lavraram formando nova etnia,
E a nova sociologia com sangue simples de povo
Transfusão de sangue novo no altar da biografia
Hoje já não há colono nem tão pouco campeador
Hoje existe paz e amor neste chão que é nosso, tem dono. (Jayme Caetano Braun)
A Origem do Gaúcho.
Que os filhos desta querência feita a casco de cavalo
Donde os buenos e os maulos vaqueanos de muitas guerras
Banharam campos e serras, no sangue de mil combates
Sem saber que nesse embate foi puro amor pela terra. (Noel Guarany)
O Amor a Prenda.
Hoje ao sentir-se ao teu lado me sinto num paraíso
Chinoquita, teu sorriso é como aurora da minha vida
Como te quero querida, como de ti eu preciso.
Tu és formosa morena e flor mais linda dos campos
Perfuma cheia de encantos a solidão da minha vida
Como te quero querida como é sincero meu canto. (Noel Guarany)
Nossa História.
Podem me chamar de louco, mas aprendi com os mais quebras,
A não galopear nas pedras, nem pelear por muito pouco,
A lição número um eu aprendi com meu pai,
Quem não sabe pra onde vai, não vai a lugar nenhum.(Pedro Ortaça)
A Natureza.
Quisera ter a alegria dos pássaros na sinfonia do alvorecer
De cantar para anunciar quando vem chuva e avisar que já vai anoitecer
E ao chegar a primavera com as flores, cantar um hino de paz e beleza
Longe da prisão dos homens, da fome prá nunca cantar tristeza (Cenair Maicá)
O Respeito aos Ancestrais.
Quem tem a cruz missionera plantada dentro do peito
Tem dois braços pelo esquerdo, dois braços pelo direito
Ama sempre em dose dupla e exige duplo respeito
Ensino assim pros meus filhos porque aprendi desse jeito.(Pedro Ortaça)
Payada Os Quatro Missioneiros - Jayme Caetano Braun
---São quatro cernos de angico falquejados na minguante, que vêm trazendo por diante nosso tesouro mais rico, que há três séculos e pico os centauros nos legaram memórias que não gastaram nos entreveiros da infância; e olfateando na distância, algumas que se extraviaram.
---Os quatro são missioneiros, unidos num mesmo abraço; são tentos do mesmo laço, brasas dos mesmos braseiros, chispas dos mesmos luzeiros, que onde um vai o outro vai. Nenhum pesar os contrai nem desencanto nem mágoa; Os quatro beberam água nos remansos do Uruguai.
---Um deles é o Pedro Ortaça, nascido lá no pontão num dia de cerração tapado pela fumaça;
cantor de fôlego e raça, do mais crioulo recurso; mais agarrado que um urso, nas seis cordas da guitarra, andou fazendo uma farra na Bailanta do Tibúrcio.
---Outro é o Noel Guarany do manancial missioneiro, que benzeram em terneiro com leite de curupy. Tropeando, desde guri, nunca cai em arapuca. Mais brabo do que mutuca, vem do berço de Sepé e andou morando em Bagé, na Baixada do Manduca
---Outro é o Cenair Maicá, do canto bárbaro e doce, que com certeza extraviou-se da flor do caraguatá.Crioulo, também, de lá das barrancas do uruguai, saiu quebra, igual ao pai, com maçaroca na clina; já cortou trança de china, nos bailes do Sapucai.
---Outro, outro apenas pajador, misto gente e urutau; é o Jayme Caetano Braun, do velho rio grande em flor. Cantando coplas de amor sem se importar com os espinhos, de tanto trançar carinhos foi se enredando nas tranças e hoje tropeia lembranças,
Que juntou pelos caminhos!
“Todos os quatro com sua maneira, características, com estilo próprio, todos os quatro amigos, unidos, os Quadro Troncos sobre a bandeira de um só ideal, o amor a terra missioneira e sua historia, amigos que somaram em suas artes e poesias escrevendo e marcando a ferro, protegendo tudo o que tanto nos orgulhamos agora, batalhas em uma época que só quem viveu pode ter direito a falar.
Quatro Troncos Missioneiros, ninguém os dobrou e nunca perderam o tino, em suas lutas tendo violas como lanças na mão levaram nossos costumes e tradições desfraldando fronteiras de forma altiva, seus legados são nossos pontos de origem hoje e fizeram eternos por suas ações, exemplos e obras imponentes se fazem agora bandeiras de concreto, obeliscos que materializam suas canções, marcando nosso território missioneiro riscando o braseiro do sol no horizonte com suas imagens e nossas almas com suas obras”
Adaptação Roger Jaekel.
Entrevista com Noel Guarany
Cenair Maicá canta "Balaio, Lança e Taquara".
Pedro Ortaça canta "De Guerreiro À Payador".
Vídeo sobre Jayme RBS
Fonte Iuri Daniel Barbosa
QUATRO TRONCOS MISSIONEIROS - (Landro Oviedo)
A música popular brasileira tem quatro grandes mestres reconhecidos na sua arte de composição. São Chico Buarque, Caetano Veloso, Mílton Nascimento e Gilberto Gil. Em torno dessa constelação, giram grandes músicos e compositores, mas eles são, indubitavelmente, parte fundamental desse veio inesgotável que se convencionou chamar de MPB, uma sigla e um signo.
Em nossas plagas, também temos uma plêiade de boa cepa e qualidade. Num contexto forjado por uma história singular, esses baluartes da cultura gaúcha tiveram a seiva apropriada para se nutrir. Guerras, uma República, a atividade pastoril, os romances que enobreceram almas, os ofícios que fizeram homens e mulheres acreditar nesta terra, a semente lançada ao solo fértil, a utopia dos guaranis, valores como a palavra e a amizade, uma força de amor ao pago, tudo colaborou para que eles pudessem ter ao alcance da mão e do coração o perfeito motivo para cantar o cenário de suas origens. E não fizeram por menos nem deslustraram as raízes.
Os chamados quatro troncos missioneiros fizeram-se batedores da verdadeira arte poética e musical do Rio Grande do Sul. São eles Noel Guarany, Cenair Maicá, Jayme Caetano Braun e Pedro Ortaça. Os três primeiros não habitam mais o chão que tanto cantaram, mas Pedro Ortaça segue como uma lenda viva a cantar o berço que lhe deu vida.
Noel Guarany empunhou guitarras, entoou sua voz e sustentou ideias. Cenair Maicá cantou com maestria temas nativos, principalmente os relacionados à água, hoje tão recorrentes. Jayme Caetano Braun era o pajador da verve que se revelava inesgotável, pujante. Pedro Ortaça mantém esse legado como quem cuida de um tesouro das Missões.
Temos um regionalismo universal, a exemplo da obra de Simões Lopes Neto. Nosso cancioneiro canta nossa densidade humana e torna-nos partícipes da sinfonia que mostra quem somos e por que cantamos assim. Na fixação dessa identidade, os quatro troncos missioneiros cumpriram uma relevante missão.
Correio do Povo - ANO 116 Nº 169 - PORTO ALEGRE, SEXTA-FEIRA, 18 DE MARÇO DE 2011
Os Quatro Troncos Missioneiros
Outros, RS
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