19/02/2022 10:05
A SECA Letra: João Antunes.
A SECA
Dói ver o campo combusto
e lavoura na agonia
nesta seca que judia
com seu tormento e flagelo
falta d'água aborta o elo
no tom baio e flamejante
do que era verdejante,
tão colorido e belo.
O bucólico se espraiava
com flores, alcatifados,
mas agora esturricado
definhando agonizante
nada viceja exuberante
devido aos fortes mormaços,
sofrem plantas de baraços
pelo sol que é coruscante.
Na moldura desenhada
sofre a planta, sofre o gado
e o produtor, coitado,
seja grande ou pequeno
vê seu sonho que era bueno
titubear na incerteza
e aquele pão sobre a mesa
vai perdendo mais terreno.
Canta triste a passarada
e o terneirinho assolado
berrando, desconsolado,
da sua mãe sem a posse
que à fraqueza quedou-se
e ele com sede e saudade
é mais um na orfandade
e no desmame precoce.
Ao longe um tapete escuro
oriundo de uma queimada
trouxe mais vidas ceifadas
de uma dor-destruição
e o mato do outro capão
definhando até a raiz
na cor mostra a cicatriz:
vai morrer de inanição.
O açude é um atoleiro,
a sanga em marcha ré,
o arvoredo, pé por pé,
agoniza tristemente,
pouca água nas vertentes
trazendo mais amarguras
para tantas criaturas
que ardem nesta torrente.
Até mesmo as taquareiras
junto ao olho-de-boi
nestes dias já se foi
murchando bem retorcidas
e toda a espécie de vida
seja no mato ou no pasto
sente o agulhão nefasto
cutucando nas feridas.
Mas eu creio na esperança,
que eu não baixe a cabeça,
que a fé em mim floresça
mais entusiasmo e amor
e o estro do Criador
mande embora estas agruras
venha chuva boa e fartura
pra um tempo mais promissor.
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