A sexta edição do Boletim Semanal da Receita Estadual sobre os impactos da Covid-19 nas movimentações econômicas dos contribuintes de ICMS do Estado apresenta como novidade uma análise dos efeitos sobre o transporte de cargas e de passageiros no Rio Grande do Sul. O Boletim publicado nessa quarta-feira (6/5) considera o período entre 16 de março, data das primeiras medidas de quarentena no Estado, e 1º de maio, última sexta-feira, estando disponível no site da Secretaria da Fazenda e no Receita Dados, portal de transparência da Receita Estadual.
Segundo a análise, a atividade de transporte de cargas vinha registrando expansão em 2019, mas, a partir das medidas de distanciamento e isolamento social, houve queda acentuada na emissão de Conhecimento de Transporte Eletrônico (CT-e), documento que as transportadoras emitem para cobrir as mercadorias entre a localidade de origem e o destinatário da carga. A redução no curto prazo chegou a ser de 42% no dia 5 de abril, momento em que iniciou um processo de retomada que reconduziu o índice ao patamar de -10%, verificado nos últimos dias analisados.
O comportamento no âmbito do transporte de passageiros é similar, embora ainda mais brusco. A quantidade de Bilhetes de Passagem Eletrônicos (BP-e) emitidos no curto prazo (últimos 14 dias) caiu do patamar de 1,5 milhão no início de março para menos de 300 mil pouco após a quarentena, o que representa redução de 80% na atividade. Apenas nas últimas duas semanas esse indicador iniciou um processo de recuperação, ainda bastante tímida, em patamares próximos a 330 mil.
“Esses dados agregam mais uma importante visão, sob a ótica das informações econômico-fiscais, a respeito do comportamento da economia gaúcha. Podemos perceber que existe uma tendência de retomada lenta e gradual das atividades”, destaca Ricardo Neves Pereira, subsecretário da Receita Estadual.
A percepção obtida por meio dos indicadores de transporte é corroborada por outras análises. A emissão de Notas Eletrônicas (NF-e + NFC-e), por exemplo, apresentou nova melhora, com índices de -13%, -9% e -5% nas semanas 5 (11 a 17 de abril), 6 (18 a 24 de abril) e 7 (25 de abril a 1º de maio), respectivamente, sinalizando estabilização das perdas. No acumulado (16 de março a 1º de maio), a redução é de 18%, representando uma diminuição do valor médio diário emitido de R$ 2,06 bilhões no período equivalente em 2019 para R$ 1,70 bilhão em 2020. “Isso significa dizer que cerca de R$ 360 milhões deixaram de ser movimentados em operações registradas nas notas eletrônicas a cada dia, o que dá uma noção da dimensão da crise que estamos enfrentando”, destaca Ricardo Neves.
Visão por Tipo de Atividade
Na última semana, a Indústria experimentou redução de perdas na comparação com semana equivalente de 2019, de -21% para -14%. Já o Varejo manteve e ampliou suas perdas relativas, apresentado resultado negativo de 17%. O Atacado, por sua vez, confirmou volatilidade já identificada ao longo da série, com ganhos relativos de 5% - resultado inferior ao observado na semana anterior, que foi de 12%.
O desempenho acumulado no período (16/3 a 1/5) para Indústria, Varejo e Atacado são, respectivamente, de -21%, -24% e -7%.
Desempenho por Setor Industrial
O destaque da última semana foram os setores Eletroeletrônicos e de Máquinas e Equipamentos, que não apresentavam resultado positivo desde o início da quarentena. Como essas indústrias produzem preponderantemente bens de capital (especialmente o setor de Máquinas e Equipamentos), tal evolução pode indicar o início da retomada das atividades industriais em geral, embora deve ser analisada com cautela e validada nas próximas apurações.
No acumulado, os principais ganhos seguem sendo na área de produtos alimentícios e de Produtos de Limpeza. As principais perdas são verificadas nos setores Coureiro-Calçadista e de Veículos.
Desempenho no Varejo
As vendas no curto prazo (14 dias) tiveram ligeira recuperação na última semana, evoluindo do patamar de -25% das duas semanas anteriores para -17% no dia 1º de maio. Esse é o melhor resultado observado desde o final de março. Além disso, destaca-se que em 28 de abril as perdas de curto prazo foram inferiores às de médio prazo, com ampliação dessa diferença nos dias subsequentes, o que confirma a tendência de lenta e gradual reação da atividade econômica.
No tocante ao desempenho do Varejo por região do Estado, conforme os 28 Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDE) existentes no Rio Grande do Sul, o perfil das vendas segue apresentando relação com o nível de participação na produção industrial. Todavia, refletindo a evolução da atividade econômica, a média das perdas de curto prazo nos COREDES mais afetados (Hortênsias, Metropolitano Delta do Jacuí, Vale do Rio dos Sinos, Sul, Produção e Serra) caiu de -26%, na Semana 6 (18 a 24 de abril), para -18%, na Semana 7 (25 de abril a 1º de maio). No mesmo sentido, o indicador de médio prazo para os COREDES elencados melhorou de -28% para -19%.
Em relação ao tipo de mercadorias, o desempenho acumulado é positivo para as vendas a consumidor final de medicamentos e materiais hospitalares (+5%) e produtos de higiene e alimentos (+3%). Para os demais produtos, entretanto, a queda continua brusca, totalizando redução de 41% no período. Somando as três categorias, a redução média é de 22%.
No Top 10 das mercadorias com maiores variações positivas do valor das vendas, ganham destaque produtos do setor de alimentos (como cereais, óleos, leite, carnes, frutas, hortícolas e peixes), da indústria química (como sabão para lavar roupa e álcool em gel) e do setor farmacêutico. Já nas maiores variações negativas constam itens relacionados a vestuário, com as maiores quedas percentuais (na ordem de 70% a 80%), e veículos, com as maiores quedas em valores. Também aparecem na lista mercadorias como máquinas e aparelhos elétricos, móveis, calçados e bebidas alcoólicas.
Combustíveis
No acumulado do período (16 de março a 1º de maio), o combustível com maior queda no volume de vendas segue sendo o Etanol (-61%), seguido pela Gasolina Comum (-32%) e pelo Óleo Diesel S-500 (-22%). O óleo Diesel S-10, por sua vez, apresenta crescimento de 1%. Somando os quatro combustíveis, a redução média é de 25%, assim como verificado no acumulado até a semana anterior.
Em relação ao preço médio, os quatro combustíveis analisados têm apresentado movimento de queda no período recente, reflexo da atual conjuntura internacional acerca do petróleo. A Gasolina Comum, por exemplo, chegou a atingir R$ 4,79 no final de janeiro, estava em R$ 4,62 no dia 16 de março e passou ao patamar de R$ 3,87 no dia 1º de maio, última data de análise do Boletim.
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