Vernissage de peça africana considerada rara, encontrada em Santo Ângelo nos anos 80, marcou o Dia Nacional da Consciência Negra
Foi aberta oficialmente no final da tarde desta terça-feira, 20, a Exposição “Uma deusa Nimba no Brasil”, que permanece para visitação do público no acervo do Museu Municipal Dr. José Olavo Machado até o dia 20 de dezembro.
A peça em madeira mede 46,4 centímetros de altura, pesa 3,70 quilos e, segundo o professor pós-doutor em História e pesquisador do Laboratório de Arqueologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), Edison Hüttner, foi produzida entre os séculos 18 e 19 por afrodescendentes brasileiros que conheciam a arte, escultura e rituais praticados pelo povo Baga/Nalu, da região do Oeste africano (Guiné, Guiné-Bissau). A estátua, esculpida em madeira da árvore Guajuvira, é a primeira do gênero encontrada em solo sul-americano.
Presente na abertura da exposição, Hüttner afirmou que a confirmação da origem da escultura veio após dois anos de estudos pela equipe de pesquisadores do Laboratório de Arqueologia da PUC/RS, passando inclusive por uma tomografia no Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (Inscer). Ele revelou que em 2016, em visita a Santo Ângelo, obteve autorização do proprietário da peça, Getúlio Soares Lima, para que a escultura fosse estudada na universidade.
O proprietário da peça contou que há mais de cinco décadas pesquisa e busca riquezas históricas missioneiras e que detém um acervo particular com parte dessa história. Ele afirmou que em 1980, um pescador lhe procurou com a imagem – hoje identificada como a deusa Nimba – pedindo-lhe que a preservasse. Segundo relato, a peça foi encontrada pelo pescador às margens do Rio Ijuí, na localidade de Ilha Grande, durante um período de longa estiagem.
RAÍZES
O vernissage foi realizado no Dia Nacional da Consciência Negra e também contou com a presença da secretária municipal de Cultura, Neusa Cavalheiro, do secretário da Educação Valdemir Roepke, do presidente do Grupo Cultural Negras Raízes, José Daniel Amarante que, em sua intervenção, lembrou que houve grandes avanços na questão da negritude no Brasil, no entanto, acontecimentos registrados durante o período eleitoral, com manifestações racistas nas redes sociais, apontam um caminho de retrocesso. “Somos seres humanos, descendentes de seres humanos que foram escravizados por seres humanos. É um momento que nos pede paz e reflexão”, concluiu Amarante.
Entre as lideranças presentes no evento, a arqueóloga do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Raquel Hech; Diego Luiz Vivian, diretor do Museu das Missões; a presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural da Santo Ângelo, a arqueóloga Thális Garcia; e Jonatã Ferreira, presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais.
O público presente também brindado com uma belíssima apresentação do grupo de Capoeira “Cordão de Ouro”, do Mestre Rodolfo.
Fotos: Fernando Gomes