Cidade atrai peregrinos do mundo todo para o roteiro das missões.
Caminhadas podem ser feitas em grupo ou de forma individual.
O Tô de Folga desta sexta-feira (29) embarca para o Rio Grande do Sul. A repórter Carla Suzanne encarou nove horas de viagem, de Aracaju, em Sergipe, lá no Nordeste, até a cidade de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul. Ela mostra o roteiro das missões, que atrai peregrinos de várias partes do mundo.
“Eu embarco agora, às duas horas da manhã, com destino ao Rio Grande do Sul. Não há voo direto de Aracaju até lá e a maioria sai sempre de madrugada. A previsão de chegada em Porto Alegre é às 11 da manhã. Será uma longa viagem, mas estou cheia de expectativa para conhecer o Rio Grande do Sul, tchê!
Me disseram que o tempo aqui estava quente, eu não acreditei muito não e até trouxe um casaquinho, mas gente, tá quente demais! Tão quente que parecia o Nordeste onde eu vivo. Nunca pensei que fosse sentir calor no Sul.
Porto Alegre é só o ponto de partida para o nosso mochilão. Daqui, a gente vai pegar a estrada, sete horas de viagem, para o noroeste do estado e conhecer a terra das missões. A BR-116 em boas condições facilitou a viagem. O caminho é longo, mas a paisagem compensa. Os pampas são de um verde intenso.
A gente deu uma parada na viagem para apreciar essa bela paisagem e vou aproveitar para experimentar o chimarrão. Essa bebida que é consumida quente é companheira inseparável do gaúcho, mesmo em dias com o sol escaldante. Eu vou provar... É um pouco amargo, mas eu gostei.
Seguimos o caminho de belas paisagens e quase 500 km depois, com o sol se despedindo, chegamos em São Miguel das Missões. O lugar onde nasceu o Rio Grande do Sul guarda ruínas que marcam as missões dos jesuítas por essa região.
Há 300 anos, os jesuítas fundaram aqui aldeamentos para evangelizar os índios, construíram casas, igrejas, escolas e o que restou virou patrimônio da humanidade. Um lugar cheio de história e muita energia. O sítio arqueológico também abriga a maior coleção pública do país de imagens sacras.
Quando escurece, as ruínas viram cenário para a história dos padres e índios ser contada, num espetáculo de som e luz. As noites em São Miguel das Missões são sempre movimentadas. Nessa época do ano acontece uma mostra de música internacional argentina e uruguaia muito bacana. O que me chamou a atenção é que além dos turistas, os moradores participam e trazem a cadeira de casa, acompanham tudo até o fim.
Depois, eu fui provar o famoso arroz de carreteiro. Jane Machado me conta que preparar o prato é prático e rápido. Carne de charque, arroz e temperos, 20 minutos e tá pronto.
O arroz dá energia para uma longa caminhada: é a rota das missões. E eu peguei carona com os peregrinos. Quem vem com disposição percorre as estradas que ligam as cidades vizinhas em uma caminhada que pode durar até 14 dias. É uma peregrinação pela história, mas que tem um lado místico. Para muitos, o caminho das missões é feito para contemplar a natureza, testar limites físicos e refletir.
As caminhadas acontecem, geralmente, em grupos, mas também podem ser feitas de forma individual, programadas e com datas agendadas. Todo o percurso é conduzido por guias. O caminho das missões também pode ser feito em oito e três dias e, durante o trajeto, há hospedagem em casas que ficam pelo caminho.
A caminhada termina em Santo Ângelo, que é chamada de capital das missões. É aqui que o peregrino recarrega as energias. Santo Ângelo, claro, tem muito chimarrão, mas é também conhecida como a cidade das tortas, dos doces delícias. As confeitarias são famosas pelas mais de 300 receitas de tortas e eu tenho certeza de que não vou me arrepender de ganhar um quilinhos.
No final dessa viagem, eu acho que valeu a pena vir do Nordeste pra cá. Esse lugar que me pareceu tão mágico compensou a viagem tão longa”.
Fonte: Jornal Hoje (Rede Globo). Neste link você também pode visualizar o vídeo da matéria.