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29/12/2020 11:00


TROPEIRISMO, por João Antunes

     A saga do tropeirismo através dos viandantes, naquela época em que não havia asfalto e ferrovias, além de alavancar a economia nacional, esse meio de transporte e comércio de muares (cruzamento de um jumento com uma égua), animais geralmente de caráter dócil e de alta resistência, no chamado Caminho das Tropas, foi uma sementeira donde brotaram arraiais e vilarejos, nos mais diversos e recônditos lugares, onde mais tarde muitos desses locais se tornaram cidades.
     Os tropeiros que eram os arrieiros, muleiros ou bruaqueiros, (onde bruaca é aquele saco de couro para transportar cargas no lombo dos animais), também chamados de birivas onde biriva descende Mbiríba na língua Tupi caracterizavam-se por ser os antigos condutores de tropas ou comitivas, onde essa atividade começou por volta do longínquo ano de 1695 quando da criação da Vila de Taubaté no Estado de São Paulo e pela necessidade de se transportar ouro, prata e pedras preciosos das Minas Gerais para o porto do Rio de Janeiro onde grande parte desse material seguia por navio para Portugal. E a partir dessa época, precisamente de 1730 em diante, foi que o tropeirismo tornou-se mais intenso e por outros caminhos, onde num percurso diário de 25 km em média, os animais carregando em torno de 100 kg eram repontados sob gritos e assovios por longas distâncias muitas vezes até cerca de 2500 km. 
     Fico a imaginar nas asperezas das lides nesse tipo de atividade onde os tropeiros e os animais nessa via terrestre de acesso   enfrentavam as agruras da época, às vezes, precisavam desbravar a mata virgem, seguir por caminhos sinuosos, peraus, precipícios,  tacurus, cardos, serranias, terrenos íngremes e também alagadiços, oscilações térmicas além de chuvas fortes, enchentes, topar-se com bichos peçonhentos, feras, fadigas e outros percalços nesses longos e penosos trajetos. Esses homens foram importantes nos transportes de alimentos, vestimentas, comércio de escravos, envio de ferramentas, farinha, sabão, carne seca, sal, água ardente, queijo, biscoito, vinho, doce dentre outros produtos e ainda colaboraram nessas rotas na disseminação da cultura, intercâmbio de informações levando e trazendo notícias entre as aldeias e pequenos aglomerados humanos.
     Em várias cidades gaúchas existiam muleiros cabendo destaque para Viamão e Cruz Alta. Aqui nas Missões em São Borja e Santo Ângelo (que tinha tropeiros como Roberval Peppes, Domingos Correa, Nery Renner Prestes) também em Palmeira das Missões, Passo Fundo, Lagoa Vermelha e Vacaria dentre outras cidades sabemos que haviam pessoas que dedicavam-se nessa atividade que no Brasil estendeu-se até por volta de 1930. Em Giruá existiram, dentre outros, os birivas Dico Antunes e Nhoca Antunes. Em Bossoroca existe o Rincão das Burras que foi um local onde tinha muares destinados a esse comércio mesmo não tendo pessoas daqui que levassem diretamente para Sorocaba, no Estado de São Paulo, que foi a cidade brasileira mais destacada pelas grandes feiras onde eram comercializados animais. 
     Na sua gastronomia os tropeiros comiam arroz, feijão, charque, pinhão, farinha, cachaça, tomavam ainda o chimarrão quando era possível, contavam histórias, causos e lendas nas horas de descanso. 
Há controvérsias até mesmo na pintura de Pedro Américo sobre a proclamação da independência do Brasil nas margens do Rio Ipiranga onde na imagem aparecem cavalos, pois naquela época, ao que se sabe, eram comuns as mulas e não os cavalos. 
     O tropeirismo também ajudou na consolidação do domínio português neste país. É marcante e imensurável a contribuição que os tropeiros e os muares deram ao Brasil nos ciclos do ouro, do açúcar e do café além de toda uma gama de atividades que foram desenvolvidas pelo tropeirismo, pois tropeiros e mulas são símbolos da cultura nacional.  
Endereço Portal: Escritor João Antunes poeta, historiador e compositor 
Facebook = João Carlos Oliveira Antunes
Bossoroca (55) 9999-42970 joaoantunes10@terra.com.br 

          BIRIVA MISSIONEIRO

Quando as luzes do progresso / Pouco acenavam seus lumes
Nos quadrantes deste chão / O biriva Dico Antunes
Honrava a sua missão / Com as mulas que transportava
Das Missões a Sorocaba / Acendendo a integração.

Sob sóis abrasadores / E nas longas invernias
Passando rios caudalosos, / Atoleiros, serranias
Este valente tropeiro / Varando “mil sesmarias”
Sobre o lombo de um cargueiro / Campereava a geografia.

Seu Dico foi um biriva / Sucessor dos bandeirantes
Cruzando pagos distantes / Semeando novas auroras
Com a gana missioneira / Presente na sua vida
Nas duras penas da lida / Integratória e pioneira.

Da figura dos tropeiros / Nos caminhos do Brasil
Fluiu-se um novo perfil / E um tempo mais progressista
Pois desses protagonistas / Firmou-se a soberania
Mudando a fisionomia / Pra base de outras conquistas.

Foi dos muleiros de antanho / E do pouso das tropeadas
Que se ergueram tantas vilas / Nos semblantes das estradas
E esta nação atuante / Deve muito a essa gente
Que negociava a mulada / Por lugarejos distantes. 

Letra: João Antunes e João Ribeiro.
Música: Luiz Bastos. 

Vídeo: 7ª Cavalgada dos Santos Mártires
Vídeo: Primeira Cavalgada Caminho das Tropas 
Vídeo: Cavalgada da Integração em Frente as Ruínas de São Miguel 
Vídeo: Trilha dos Santos Mártires 2016

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