História continuada por gerações, a ovinocultura é tradicional em São Miguel das Missões. Além do fornecimento de carne, ela contribuiu por muito tempo na produção e transformação da lã em peças artesanais. Mesmo com um número reduzido de famílias que ainda se dedicam ao artesanato, ainda há muita potencialidade a ser resgatada principalmente do conhecimento e da cultura local. Esse contexto tem motivado a Emater/RS-Ascar, vinculada à Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), a estimular o resgate histórico, o conhecimento e as habilidades em relação à ovinocultura e ao artesanato em lã.
No município, segundo dados da Seapdr de 2019, o rebanho ovino é formado por 7.974 cabeças pertencentes a 163 ovinocultores, sendo que aproximadamente 49 famílias dedicam-se à criação de 2.392 cabeças de raças laneiras, ou seja, aproximadamente 30% do rebanho tem a produção de lã como finalidade principal. Segundo o extensionista da Emater/RS-Ascar Edson Santos Leal as principais raças laneiras criadas são a Ideal e a Merino Australiano, sendo criadas também raças de duplo propósito, para lã e carne, como a Texel, Ile de France e Corriedale.
A extensionista social da Emater/RS-Ascar Fátima Zink Primaz destaca a importância de fomentar o artesanato em lã como modo de resgatar o valor histórico cultural e as memórias afetivas a ele inerentes, permitindo que novas gerações possam ter contato com esse conhecimento secular. "O artesanato em lã é um patrimônio histórico dos antepassados que aqui viveram e a ovinocultura vem culturalmente sendo passada por gerações. Já foi mais comum do que nos dias de hoje, com a perda de mão de obra e baixa valorização da atividade, foi se perdendo muito do trabalho de transformação artesanal da lã", relata.
Das mãos habilidosas da artesã Dalva da Luz Pereira Motchi, da comunidade de São João das Missões, já resultaram muitas peças nos 38 anos que se envolve com o trabalho com lã de ovelha. Ela se dedica desde a criação e a tosa das ovelhas até a transformação da lã em fios e histórias únicas. "A minha história com o artesanato sempre esteve presente desde a infância, minha mãe era costureira e me criei entre agulhas, linhas e tecidos. Mas a minha relação do trabalho em lã passou a ser mais forte com a minha sogra Generosa, hoje com 90 anos, que aprendeu com a mãe Angelina, que por sua vez aprendeu com a sua mãe, são quatro gerações. Isso seria em torno de 200 anos de relação com a lã na família", relata.
Além do aprendizado que vem de gerações, Dalva buscou mais conhecimento para aprimorar o trabalho artesanal em cursos de aperfeiçoamento oferecidos pela Emater/RS-Ascar, Senar e Sebrae. "Meu maior apoio para seguir sempre foi na Emater", afirma.
A matéria-prima que Dalva usa é basicamente oriunda das ovelhas que possui em sua propriedade, a maioria resultado de cruzamento entre Ideal e Corriedale e de Ideal com Ile de France. "O esposo e um filho cuidam das ovelhas, na tosa e na construção e manutenção das rocas. Hoje uma de minhas netas, a Maria, já ajuda a cuidar das ovelhas", ressalta orgulhosa sobre o envolvimento de toda a famílias nas demais etapas do processo.
Concurso de Artesanato em lã
Como forma de valorizar ainda mais o artesanato em lã desenvolvido em São Miguel das Missões ocorreu o Concurso Municipal de Artesanato em Lã, que classificou trabalhos desenvolvidos por Dalva para a etapa regional.
A extensionista do Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar Fátima Primaz, a extensionista do Escritório Regional Lisete Primaz, o secretário municipal de Turismo, Desenvolvimento e Cultura, Maikel Fabiano França de Moraes e a chefe do Parque Histórico Nacional das Missões, representante do Iphan, Adriana Almeida da Silva foram os jurados do processo.
Na fase municipal, Dalva classificou uma boina, uma manta-xale, um xergão, um poncho feminino, um casaco e meias de lã. Sua participação posterior, na fase regional, permitiu que Dalva desse um passo maior, sendo classificada para a etapa estadual do Concurso Virtual de Artesanato em Lã Ovina, promovido pela Emater/RS-Ascar.
Na fase regional, apresentou uma bolsa em lã crua, manta-xale, xergão, poncho, colete feminino, casaco e touca. Agora se prepara para a etapa estadual que encerra no dia 20 de novembro. "Para mim, o artesanato é terapia ocupacional e principalmente fonte de renda, mas a satisfação de ver uma pessoa materializado em sua frente o seu sonho e vencer mais um desafio criativo, com uma peça produzida por mim, não tem preço. Artesanato é alivio do stress e descanso para alma", afirma.
Fonte: Assessoria de Imprensa da Emater/RS-Ascar - Regional Santa Rosa