O primeiro painel do quinto encontro do Movimento pela Educação, realizado nesta sexta-feira (11) em Santo Ângelo, na região das Missões, reuniu uma aluna, um gestor público e uma educadora, que trocaram impressões a respeito das complexidades da educação pública e o desafio da atualidade em tornar atrativo o processo de formação escolar e a travessia para o futuro, com a profissionalização.
Através da mediação do jornalista Túlio Milman, o debate reuniu no auditório da URI a jovem Victórya Leal, 19 anos, que acumula premiações nacionais e internacionais no estudo da economia circular, formada no Instituto Federal do Rio Grande do Sul, em Osório, e o prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal, que discorreu sobre o tema baseado na experiência de sua gestão cujo foco na educação está concentrada no acesso, na permanência e na qualidade. E as bases da educação, suas peculiaridades e dinâmicas, foram identificadas pela diretora-geral da URI, Berenice Wbatuba, com foco na experiência comunitária da instituição.
O debate descontraído, mediado pelo profissional de comunicação, oportunizou a exposição dos diferenciais que impactam os jovens no processo educacional, conforme Victórya Leal apontou ao declarar, de início, que “o papel do professor é não cortar as asas dos alunos”, referindo-se aos limites que às vezes impedem o desenvolvimento do potencial dos alunos. De sua experiência na escola pública onde estudou em Osório colheu uma negativa quando expôs seu desejo de avançar em pesquisa sobre os impactos da Revolução Francesa na democracia brasileira. Mas não desistiu e buscou o Instituto Federal RS, em 2019, onde encontrou o ambiente e as possibilidades para ampliar seu campo de estudo. Foi a oportunidade, definiu a jovem, que acumula 75 premiações nacionais e internacionais em pesquisas na área da economia circular focada no comportamento dos jovens.
“Isso me transformou, não só pelos títulos e experiência, mas entender que a educação me levou a locais antes impossíveis”, afirmou. Ela entende a educação do ponto de vista do potencial de transformação, mas ponderou que é preciso um alinhamento das escolas com as diferenças sociais dos estudantes nas salas de aula. Muitos estudantes desistem porque há dificuldade nesse diálogo social, definiu Victórya, ao contar sua experiência na leitura dos números e, no caso, no fato de que apenas 18% dos alunos do Ensino Médio conseguem entrar na universidade. Para romper esse ciclo, ela entende que a escola deve fomentar recursos e ferramentas para se tornar um local atrativo.
O prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal, contou sua experiência como gestor e as ações no município para qualificar a educação. O acesso na educação básica universalizada e agora com a educação infantil, que está integralmente atendido em Esteio, leva ao segundo ponto do desafio, que é a permanência dos alunos na escola. “A taxa bruta de matrícula no RS está na casa de 80%, tem 20 % que não está (matriculada), um contingente gigantesco”, afirmou, contabilizando ainda as distorções da defasagem desse percentual, que está relacionado com a realidade socioeconômica do estado, “esse é o desafio da permanência”. Também simpático aos números, ele entende que os gestores precisam estar atentos aos indicadores e trabalhar com as sinalizações, apesar das variáveis que envolvem as políticas públicas, os prazos do mandato para a implementação e, especialmente, as dificuldades de implementar mudanças em curto espaço de tempo. Estas questões, observou, impactam a qualidade do ensino, situação que não se resolve no curto prazo, “esse processo custa capital político e o resultado leva tempo e os problemas vão se perpetuando”.
A diretora-geral da URI Santo Ângelo, Berenice Wbatuba, instituição comunitária com atuação há mais de 54 anos, disse que “a gênese da universidade comunitária está pautada na contribuição de espaços plurais e democráticos para o debate”, em especial com a pauta que busca melhorias para essa área fragilizada no RS. A experiência de Victórya, conforme Wbatuba, sintetiza o objetivo da universidade, que tem na pesquisa o caminho para buscar melhores resultados tanto na educação quanto em diversas outras áreas do conhecimento. E o sucesso dessa conexão está na interação de todos os atores, escolas, gestores, alunos, “são momentos de construção coletiva”, sintetizou. Ela é doutora em políticas públicas e concordou com o prefeito de Esteio a respeito do acesso, permanência e qualidade da aprendizagem como fatores que determinam os resultados finais das avaliações.
Repetiu a definição do presidente da Assembleia, Vilmar Zanchin, na abertura do evento, de que “o dever da educação é do estado, mas o compromisso é de todos nós”, explicando que no âmbito acadêmico é travada a disputa temporal entre as alternâncias nos governos e a implementação das políticas públicas em educação, cujo processo é demorado e diferenciado nas regiões do país. A diretora da URI entende que as discussões sobre a melhoria no ensino passam pela universidade, do ponto de vista da qualificação, mas não se pode ignorar que os atrativos em sala de aula não superam a evasão escolar motivada pela questão socioeconômica, o que reflete nas baixas taxas de ingresso na universidade.
Logo em seguida teve início a palestra com o CEO da Atitus Educação, Eduardo Capellari, seguido por debate sobre o desenvolvimento regional com representantes dos Coredes. O evento foi transmitido ao vivo pela TV e Rádio AL. A íntegra da transmissão pode ser revista no canal do YouTube da TV AL.
Próximos eventos
O Movimento pela Educação - Vamos Debater Juntos é promovido pelo Fórum Democrático de Desenvolvimento Regional da Assembleia Legislativa. Ainda restam dois encontros a serem realizados no interior do RS, antes do evento de encerramento que será realizado no Teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa, em Porto Alegre.
- Osório - 25 de agostp;
- Pelotas - 29 de setembro;
- Porto Alegre - Encerramento - 20 de outubro.