Com a falta de chuvas, solicitações para abertura de bebedouros aumentam a cada dia e somam 150. Município atua sem auxílio dos governos do Estado e Federal
A força-tarefa do Governo Municipal trabalha sem trégua no meio rural para minimizar os efeitos da estiagem. O levantamento atualizado apresentado pelo Escritório Municipal da Emater em reunião na manhã desta quarta-feira, 02, com a comissão de enfrentamento, coordenada pelo prefeito Jacques Barbosa, estima que o prejuízo chegue a R$ 354.419.396,00, com perdas na agropecuária.
Os setores mais atingidos são as culturas de milho e soja. A perda, segundo a chefe do Escritório da Emater local, Márcia Dezen, é de 90% nas lavouras de soja e 80% no milho. “A previsão inicial era de 55 sacas de soja por hectare. Os números foram atualizados para 5,5 sacas, implicando na queda da produção de mais de 1.732.000 sacas, o que equivale a perdas de R$ 318 milhões, considerando o preço atual da saca de soja de 60 quilos em R$ 184”, afirmou. As perdas financeiras medidas pela Emater também se estendem à produção leiteira e à bovinocultura de corte.
Até quarta-feira, 02, Santo Ângelo não registra a falta de água para o consumo humano no meio rural. O problema, identificado pelo coordenador de Projetos e Programas da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural, Diomar Formenton, é que os produtores estão utilizando a água potável para a dessedentação dos animais o que pode provocar escassez para o consumo humano. Segundo Formenton, apenas uma propriedade está recebendo água do caminhão pipa para o consumo animal.
AÇÕES DE GOVERNO
As secretarias de Desenvolvimento Rural (SDR), de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente e de Desenvolvimento Social e Cidadania, juntamente a Defesa Civil, estão direcionando pessoal e todo o maquinário para atender a demanda de abertura de bebedouros para a dessedentação dos animais. Até essa quarta-feira, 02, mais de 150 pedidos estão protocolados.
De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente, Francisco da Silva Medeiros, já foram executadas cerca de 80 aberturas de bebedouros que chegaram à força-tarefa e as equipes continuam no interior para atender a demanda. “Seis máquinas estão trabalhando direto nas propriedades. Estamos com maquinário próprio e contratado para a execução dos serviços e a cada dia aumenta a demanda” assinalou. Segundo Medeiros, todas as despesas estão sendo garantidas pelo orçamento do município sem qualquer contrapartida dos governos do Estado e Federal.
Conforme levantamento, o município tem gasto cerca de R$ 30 mil por semana em combustível para os trabalhos no interior.
PLEITOS
Na reunião de hoje, o prefeito Jacques Barbosa informou que estará em Porto Alegre na próxima quarta-feira, 09, em audiência com a secretária de Estado da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, Silvana Covatti, reforçando a pauta de reivindicações de Santo Ângelo já apresentadas no Decreto de Situação de Emergência. Jacques afirmou ainda que na pauta estão políticas de prevenção à estiagem e aquisição de maquinários para a prefeitura de Santo Ângelo.
“O município está fazendo a sua parte. É preciso mobilização para pressionar os governos estadual e federal para o enfrentamento à estiagem. A situação é grave”, ponderou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Daniel Casarin.
O coordenador da Defesa Civil, Paulo da Rosa, informou que o município busca junto ao Governo Federal, o envio de 1.200 cestas básicas para distribuição a 400 famílias rurais, reservatórios de água de 10 mil litros, entre outras solicitações. Segundo Paulo, o cadastramento das famílias será feito pelas agentes comunitárias de saúde do interior.
PRODUTORES
O cenário da estiagem no interior do município é desolador. Campos e matos sem cor, açudes secos, animais perdendo peso e agropecuaristas familiares acumulando prejuízos financeiros com a falta de chuvas.
Nesta terça-feira, a equipe da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural esteve na área rural de 24 hectares, no Lajeado Micuim, de propriedade familiar do produtor de carne João Ernesto da Silva, trabalhando para a recuperação de uma antiga fonte drenada para abertura de um microaçude a fim de garantir água para a dessedentação animal. “Desde setembro do ano passado não tem uma chuva boa aqui”, lamentou.
A família produz carne bovina, suína, de frango, ovinos e peixes e já contabiliza perdas com a escassez de água. Ernesto não soube precisar o montante dos prejuízos, mas com dois açudes praticamente sem água, perdeu uma grande quantidade de peixes, o gado perde peso diariamente e encarece o manejo, e o milho plantado em 10 hectares da propriedade, usado para alimentação dos animais, foi completamente perdido. O produtor já comprou 30 toneladas de ração para os animais e diz que o valor sobe a cada nova compra.
PRESENÇAS
Também participaram da reunião no Gabinete do Executivo, o secretário municipal de Governo e Relações Institucionais, Jânio Bones; o diretor da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, Antônio Cardoso; e o presidente do Sindicato Rural, Laurindo Nikititz.
Texto/fotos: Tarso Weber