Amazônia: Dentre as pérolas que o filho Leandro Reichert vivenciou (meados de 2019) na região do Alto Rio Negro, ele narra sua estada numa aldeia indígena, conforme segue:
Gás e fogareiro: Hoje é meu primeiro dia sozinho na Galilea, já que o companheiro da viagem subiu o rio em direção à Venezuela e eu resolvi ficar. E se você pensa que a parte que mais está me deixando apreensivo é justamente a de estar sozinho, adianto que não é. Já estou acostumado a viajar sozinho e na verdade até prefiro assim. O que está me preocupando, isso sim, é a falta de algo que foi levado pelo companheiro na sua viagem: o fogareiro e o gás!
Bom, aqui na Galilea é raríssima a casa que dispõem de um fogão a gás. O fogareiro que tínhamos por aqui era um luxo, e aconteceram episódios como o do vizinho preguiçoso, que para fritar um ovo de galinha bateu lá em casa e pediu para usar o fogareiro. Mas então, como eles cozinham por aqui? Muito simples, com fogão de barro e carvão. O barro é encontrado em abundância por aqui, e madeira para fazer carvão também não falta, assim seus fogões de barro se tornam uma opção completamente autossuficiente (afinal não se esqueça que o município mais próximo está a três dias de viagem). Agora resta saber se este turista seria suficientemente competente para utilizar um destes fogões artesanais.
Conversei com a vizinha e ela me emprestou um dos seus fogões para que eu utilizasse nos próximos dias (estou até vontade de comprar um para levar de recordação, a dúvida está em como transportar para casa e o risco de quebrar no caminho). Perguntei como ela iniciava o fogo: “Muito fácil! Pego galhos de açaizeiros secos para fazer o início, junto com um pouco de papel ou plástico, depois despejo carvão por cima.” Fiz bem em perguntar, pois esta técnica com os galhos do açaizeiro é desconhecida no Sul (pois não há açaí por lá) e se mostrou uma maneira muito fácil para fazer fogo.
Lá fui eu atrás do tal galho de açaí seco e carvão. Já estava a juntar galhos verdes pensando em deixá-los no sol a secar quando me falaram que o processo levava cerca de mês. Abandonei os galhos verdes. Fui até a casa da Rose, pedindo ajuda. Ela disse onde havia galhos secos de açaí e também me ofereceu do seu carvão. Assim, munido de todos os utensílios necessários, voltei para preparar meu almoço.
O prato foi um macarrão alho e óleo, de simples preparo. O fogão funcionou incrivelmente bem, pois retém o calor com facilidade e esquenta bem a panela.
Agora, já passado alguns dias utilizando o fogão a barro posso dizer que apenas sinto falta do fogareiro a gás quando quero esquentar o café ou preparar algo rápido, o que acaba sempre envolvendo todo o ritual de fazer fogo. Muitas vezes mantenho o fogo aceso por algumas horas para evitar ter que reiniciar o processo. O controle da temperatura também não é tão prático, mas aos poucos estou pegando a prática e usá-lo está se tornando mais fácil e intuitivo.
Trocaria o fogão a gás pelo fogão a carvão? Depende. Na cidade o gás vale mais a pena, é facilmente encontrado, faz menos sujeira e o carvão não é barato. Aqui na Galilea, no entanto, o fogão a carvão é a melhor opção, pois gás é muito caro e difícil de obter, ao passo que fabricar o carvão apenas lhe custará algumas horas de trabalho.
Acabei não trazendo um fogão de barro para casa. O tamanho e a fragilidade da peça, acrescido da complexa e longa logística de retorno para casa, tornaria extremamente difícil o transporte. Quem sabe numa próxima viagem eu traga um. Seria uma boa opção para cozinhar na sacada do apartamento ou no quintal de casa sem ter que arrastar o fogão até lá.
Humor: Certa vez um idoso foi caçar com seu cachorro. Ao perceber uma moita se mexer vislumbrou ser uma onça, ao que o velho caçador apontou a arma naquela direção, mas antes que atirasse a onça urrou: - Pare! Eu me rendo, não me mate...
Olhando para seu cachorro, disse o idoso:
- Nunca vi uma onça falar...
E o cachorro:
- Nem eu!