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12/02/2018 08:55


De Missões, Reguaranização e Temática Musical.

A derrocada do Ciclo Missioneiro iniciou com a assinatura do Tratado de Madrid pelas coroas de Portugal e Espanha, culminando com a guerra guaranítica e a expulsão dos jesuítas dos domínios portugueses e espanhóis em 1759. A partir desse momento a região missioneira enfrenta um grande período de decadência. A verdade é que além do conflito material, o conflito cultural e porque não dizer espiritual, arrancou dos índios seus aspectos próprios, tanto que após a expulsão dos jesuítas o Guarani das reduções teve que retornar ao convívio dos seus irmãos “selvagens”, num processo denominado por Kurt Nimuendaju de “reguaranização dos índios missioneiros”. Após O Ciclo Missioneiro, o massacre e dizimação, os Guaranis que restaram viveram o drama do abandono, da miséria e decadência. Nada podiam fazer diante da invasão de suas terras e da perseguição. Encontravam-se perdidos, pois não possuíam mais sua cultura própria e também não podiam mais contar com a “guarida” dos Pes. Jesuítas. A mestre em história regional, Teresa Christensen escreve que “Os índios sobreviventes da guerra abandonaram em massa as reduções. Enfim, o território conquistado foi anexado a capitania do Rio Grande de São Pedro....O espaço missioneiro devia integrar-se ao espaço colonial português. Impunha-se eliminar o mau exemplo de uma sociedade indígena próspera e digna, numa ordem colonial feita de latifúndios, escravidão e miséria.....Após a incorporação definitiva dos Sete Povos (1801) às possessões portuguesas, constituiu-se a Região das Missões, numa área para expansão da criação de gado, e os índios restantes foram absorvidos como mão de obra nas fazendas ou se dispersaram pelos rincões do Rio Grande”. 
Toda esta situação “pós-missões” não ficou apenas no imaginário do índio, ao contrário, incorporou-se às tradições, não apenas da sociedade indígena, mas católica também, uma vez que o índio vinha de uma experiência reducional, e por isso, os irmãos que tombaram em Caiboaté tornaram-se mártires de uma trágica experiência. Neste cenário, a música antes privilegiada nas missões como uma “nobre arte”, exerceu profunda importância na disseminação dos relatos e ajudou a preservar um pouco da identidade do índio. “Com su identidad a cuestas, los indios libertos y fugitivos comenzaron a referenciar la realidad en que se estaban insertando y expandieron su música por el área platina, a veces mixturada como su propia cultura, mestizada y enriquecida, produciendo un fenómeno que, como veremos, preservaría algunos substanciosos elementos de su procedencia” (CAMBAS, Graciela; MACHÓN, Jorge Francisco. La musica misionera : de la colonia a la revolución, 1768-1830. Misiones : Ed. Contemporánea, 1998. 58 p 1999). 
Para muitos, é nesse momento, após a derrocada das reduções missioneiras, que “nasce” o gaúcho, mixto de índio e branco, transformado em peão nas terras que antes eram somente suas. Através da música, surge a possibilidade de contar a historia, e o índio passa a cantá-la, porém de forma triste. Estes acontecimentos “adubaram a terra” fazendo com que poetas e escritores do Rio Grande do Sul, através de sua sensibilidade, recolhessem dos registros da historia a matéria prima para as mais belas obras, e assim, nasce mais tarde a temática missioneira, da qual nos referimos semana passada.
         “Alguém deve rever, escrever e assinar os autos do passado, antes que o tempo passe tudo a limpo”. (Cora Coralina) 
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