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17/04/2019 08:44


Enfermidades dos Índios Guaranis

          Muitas vezes tentamos entender o comportamento ou a forma de pensar dos índios, difícil como é difícil em qualquer cultura definir uma situação, mas podemos citar alguns comportamentos ou crenças na cultura Guarani.
          As enfermidades podem-se diferenciar em grupos:

Enfermidades que vêm por não ter sido bem dado o nome verdadeiro. 
          A alma não está bem adentrada, não ocupa bem o corpo, e a pessoa adoece porque entram outros espíritos. (Antonio Moreyra).
          Quando a pessoa que pos o nome se enganou, o nome não esta bem dado e a criança não pode crescer bem, não se acha em seu corpo porque não encontra a sua missão. Adoecem mais facilmente e ficam tristes. Existem algumas pessoas “truchas” que dizem que sabem por nome, porem na verdade não sabem. (Hilário Acosta, Marcelina González).
          Cada vez acontece mais não colocar bem o nome. Existem deuses intermediários que se metem, e então a criança recebe desses deuses o nome em vez de receber o nome do Deus Grande Verdadeiro, e por isso também adoece. Caso tenha sido dado o nome, e o opygya nbao esta com segurança, tem que deixar para outra ocasião. Deixa por enquanto um apelido. Pode acontecer também que Deus não quer dar o nome porque os pais não agem bem. A
          Às vezes o nome é correto porem a criança não quer esse nome e adoece (Brasilio Escobar).

Enfermidades por mbguá ou almas errantes. 
          Nós, indígenas, temos medo dos mortos, da sombra que fica quando alçguem morres. De noite se vê uma luzinha verde e isso nos anuncia perigo. Os mortos matam para ter almas em sua companhia. Os mortos , assim como Deus, num minuto estão no Paraguai ou no Brasi, estão em toda a aparte ao mesmo tempo. Entram por nossa debilidade. Por isso acontecem as doenças nossas, porque entram coisas em nos que nos adoecem, o corpo fica apertado. Estas enfermidades são curadas pelo Opygua. Ele faz como uma ecografia com as mãos sobre o corpo e vê onde esta o problema. Com orações, fumaça e remédios ele nos cura.

Enfermidade que vêm por uma forma imperfeita de viver, de não cuidar a boa forma de viver. 
          Tem que tratar de ser bom e não fazer o mal. Também podemos manter nossa forma de viver com nossa mata, nossos alimentos, nossas orações, cantos e danças, e não adoeceremos tão fácil. Temos que poder estar em paz, não aflitos por qualquer coisa. Tratar de ser generosos e completos. (Hilário Acosta).
          O Jesus Cristo veio para proteger os brancos, não aos indígenas e deixou escrituras. A nos deixaram a memória e a boa maneira de viver. (Marta Gonzales).

Enfermidades que aparecem porque outros não pensam bem e nos fazem danos. 
          Existem pessoas que fazem mal a outras. É Añá (anojo do mal) que se emte. Às vezes, é a pessoa mesmo que é demasiado boa, e também adoece. O Opygua (pajé) vê qual é a origem e, se foi demasiada boa ou demasiada má, ali entra Añá. Tem que encontrar o ponto do equilíbrio. O Opygua é o que dá conselho.

As enfermidades que vem por não dar importância aos sonhos. 
          O sonho é importante. Se eu sonho com um anzol que pode machucar temos que pensar que no outro dia vamos nos encontrar com uma cobra. Os sonhos avisam e alguns não dão importância por mais que sonham. O mesmo é sonhar com uma onça: sabe-se que vem briga. O sonho avisa o que vai acontecer ou se vem perigo.
          Agora, se sonhamos com um morto, jogamos na loteria o numero 48, e não se pensa mais no espiritual. Antes, sonhar com um cemitério era grave para nós, que ia acontecer algo ruim. Essa nossa conversa e vamos ao Opygua e contamos, agora jogamos na loteria no número 98 (Mario Borjas).

As enfermidades que vêm dos brancos. 
          As enfermidades vêm de muitas partes, algumas vêm dos ranços que nos contagiam como a tuberculose, sarampo, varicela e varíola. Temos outras enfermidades que são nossas e as curamos na opy (igreja). Estas são as enfermidades que o pai cura. Estas enfermidades aparecem quando a alma não está bem ajustada no corpo. (Antonio Moreyra).
          Enfermidades que aparecem por não se controlar bem as emoções. Do aborrecimento e da cólera vem todo o mal. Toda a exageração traz enfermidades, de comida, de enojo.

Enfermidades produzidas por palavras. 
          Para as pessoas fortes não as afetam as palavras, porem, nas pessoas débeis as palavras podem adoece-la, depende de onde vem as palavras. Estas enfermidades tem que cura-las com um ritual de palavras sobre o enfermo (antoniuo Mereyra).
          Com fumo de cachimbo e orações. Durante um tempo temos que ir sentarmos diante da Opy e escutar o Opygua até que se esteja melhor. Antes durava mais, agora, talvez vou duas, três vezes e não vou mais. (Jorgelina Duarte).
          Eu, quando escuto, estou repetindo o que ele disse. Se houver calúnia e se falar mal de outro, o outro se cura com ritual de palavras, porém os que disseram ficam em perigo e, por isso, não agora, mas mais adiante se debilitam. (Marta Gonzales e Isidro Gimenez).

Enfermidades que vem porque nossa forma de viver faz com que outras pessoas pensem mal. 
          A inveja, por exemplo, é uma enfermidade que entra pela pele e se vai cada vez mais para dentro. A inveja existe por viver de uma maneira que cria inveja nas outras pessoas. Temos que viver cuidando muito de compartilhar e ver o que os outros necessitam, para que não nos invejem (Antonio Moreyra).

Enfermidades por falta de cuidados do entorno. 
Às vezes, não nos preocupamos o suficiente pelo outro. Esta noite (20.09.09) estivemos na Opy pelo bebe de Martinez que está no hospital. A Alma já está no céu, porem, o corpo reage. Tem que trazer de novo a alma para seu corpo e Jakairá ola se os parentes se preocupam. (Hilário Acosta).

          Enfermidades por não se cuidar às 12 horas do meio-dia. Dona Venância. De Kaa-kupe. Nesta hora (meio-dia), ficamos desprotegidos de Deus e podem entrar outros espíritos.

Enfermidades por não pensar bem. 
          Em 1990. Consultei-me pessoalmente com Antonio Moreyra e seu diagnostico foi à enfermidade do pensamento. É uma enfermidade que os brancos têm. Existe um mal-estar do pensamento, como um vento, que faz pensar coisas que não são de pensar, como coisas que são do sentimento ou coisas que são do destino. Este mal-estar do pensamento faz que o pensamento ande de um lugar a outra, não tenha um lugar lindo para ficar. Os sintomas são mãos e pés frios. É porque a alma quer se retirar e se retira sempre para cima, sai pela cabeça e deixa as mãos e os pés sem atender, sem cuidar. Quando dormindo, a alma fica unida com um fio pequeno ao corpo que fica na cama e, quando morremos, esse fio se corta. Quando estamos acordados, a alma tem que ocupar todo o corpo.
          Muitas vezes aparecem fungos ocupam o corpo que não esta ocupado pela alma dessa pessoa. Se a alma não pode ocupar todo o corpo, outros espíritos se metem adentro e o ocupam
O mundo esta em ordem é o homem que não sabe pensar e isso deixa que os maus espíritos tomem conta. 
          Perguntei-lhe como e quem são esses espíritos e Antonio me responder: São seres os quais não podemos ver e nos fazem adoecer. 
O tratamento para a “enfermidade do pensamento” é buscar na mata uma folinha que se balança ou que dance sozinha sem que haja vento. Algumas vezes tem que procurar dias ate encontrar. Entao corta-la e coloca-la em água fria ao sol. Fazer com que essa água uma cruz sobre a parte mais alta da cabeça. Fazer duas vezes por dia e três dias seguidos. Nesta folinha esta sentado um espírito que a faz se mexer e, quando a cortamos, o levamos junto. Não importa de que arvore ou planta é a folinha ( Antonio Mereyra).
          Cada ser vivo tem seu “dueno”, seu Mburuvicha, seu chefe. Alguns se unem a Ñamandú, porém outros se unem a Añá ou dos Mbogúa, e querem fazer o mal. Existem muitos que fazem o contrário do que Deus quer; por exemplo, os tacho (parasitas) apoiam os contrários do que quer fazer Ñamandú. (marta González).
          O nascido ou abscesso se chama MBA àchy rechapychoe y, que quer dizer cego, porque tem um Deus que é cego, e por isso sai em qualquer parte do corpo. (Isidro Gimenez).

          Na minha interpretação, estes espíritos poderiam ser os grupos de bactérias, vírus, fungos, parasitas que tem seu próprio gênio, sua “individualidade” como cepas. Na medicina se fala do “gênio epidérmico” nas manifestações epidérmicas de uma gripe, por exemplo. Os vírus desenvolvem pequenas mutações e estas são as que lhes dão características especiais a cada uma das epidemias anuais, isto é o “gênio”, o “espírito” desta família viral, e é este espírito o que entraria no corpo, materializado nos micro-organismos. (Drª Mariana).
Página 148 a 151 Livro O Índio nas Missões, Antes Durante e Depois dos Jesuítas. (Foto 01) 
Autor Sérgio Venturin.

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