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12/08/2018 12:21


MANO LIMA: ENTRE A GAITA E O CHAPÉU

Entrevista com o cantor e compositor gaúcho, MANO LIMA, sobre a arte de empreender na música e na vida


Que suas canções são alegres, engraçadas e que ele sempre fez questão de manter seu estilo em todas elas, não é novidade. Agora, que em sua essência está um homem que tem na fé e na simplicidade a grande missão para empreender na música e na vida, talvez nem todos saibam. Reconhecido internacionalmente como Mano Lima, este é o tropeiro e músico gaúcho, Mário Rubens Batanolli de Lima, natural de Itaqui e nascido no Bororé, atual distrito de Maçambará.

Com 65 anos de idade, Mano Lima já consegue se manter só da música, mas por muito tempo trabalhou como tropeiro. E foi aí que percebeu os encantos do Rio Grande, que sempre transmitiu em suas músicas.
Tinha 8 anos de idade quando o avô faleceu. O pai ficou cuidando das terras no Bororé com a ajuda dele, enquanto os outros sete irmãos estudavam. Mais tarde, dificuldades financeiras obrigaram o pai a vender a propriedade e ir morar com a família em São Borja, o que significou um novo rumo profissional na vida de Mano Lima.

Aos 20 anos de idade foi trabalhar como capataz de estância e tropeiro. Depois, teve uma comitiva de tropa e se tornou um tropeiro de respeito. O primeiro salário foi para ajudar sua mãe, que cozinhava fora para auxiliar no sustento da família.
Mesmo sem se dar conta, Mano Lima sempre teve o artista em seu coração. Mas, foi preciso muito tempo, além da insistência e da mão abençoada de um grande amigo, o poeta e escritor gaúcho, Aparício Silva Rillo, para que ele acreditasse que o sucesso já estava escrito em seu caminho.

Mais do que abrir a porteira de sua estância, a Fazenda Santa Cecília, para tão bem me receber, localizada próxima ao município de São Boja, Mano Lima abriu seu coração e falou sobre sua história de vida, que é movida pela fé e pela simplicidade.
É claro que seu lado engraçado, uma de suas caraterísticas peculiares, também esteve presente em grande parte da nossa conversa. Ao contextualizar alguns relatos, ele disse: “o homem se ajeita nas lutas que passa, pois o laçaço da vida dói em quem leva”.
Neste depoimento singelo dá pra ter uma ideia de como surgiu o grande artista Mano Lima, um dos representantes da cultura terrunha e da música gaúcha, que escolheu a região das Missões pra viver e deixar o seu legado. O mais recente CD de Mano Lima chama-se ‘De Pai pra Filho’, com a participação especial de seu Filho, Pedro Lima, que o acompanha nos shows.

Ele manda um importante recado para quem quer empreender na música ou qualquer outra área de atuação. “Não façam o que Mano Lima fez. Quando um amigo surgir e disser que você é capaz. Acredite e vá em frente. Mas antes de tudo isso, precisa ter fé. Confie em Deus e seja grato, pois somente Ele vai te levar até onde você quer chegar”.


POETA E CRIADOR DE MANO LIMA
Mano Lima
- Num certo dia meu pai me pediu pra assar uma carne para o poeta e escritor gaúcho, Aparício Silva Rillo. Bueno, ali toquei minha gaita e cantei alguma coisa. Como eu sempre fazia pelos galpões, mas sem nenhum compromisso, porque o meu trabalho era como tropeiro. Logo depois, eu soube que quando o Rillo chegou em casa, disse pra mulher: hoje conheci um verdadeiro artista. Dali em diante ele passou uns 10 anos tentando botar na minha cabeça que eu era artista, e eu sempre teimando que não. Rillo dizia o tempo todo que eu era capaz e pra minha mãe sempre repetia: teu filho é um artista. Mas de nada adiantava, porque eu, assim como a minha mãe, sempre botava ele pra correr.

PRIMEIRO DISCO 
Mano Lima
- Até que um dia, por volta dos meus 30 anos de idade, como eu não aguentava mais a insistência do Rillo, mesmo contrariado gravei o tal de disco, que teve o apoio financeiro do Tono Pinheiro e do Grupo Costanera. Ainda lembro bem que quando cheguei em casa disse pra mãe: agora que gravei o disco, o Rillo vai parar de me incomodar. Quando chegou o disco na rodoviária de São Borja, o Rillo foi me buscar. Minha amiga, eu nunca esqueci do semblante e da emoção dele assim que viu a capa. Segurava aquilo nas mãos como se fosse um filho. E eu, ainda não via nenhum fundamento e só ficava pensando: o que vou fazer com essas caixas cheias de discos?

O SUCESSO 
Mano Lima - Peguei as caixas e levei pra casa. Minha mãe com a casa apertada, mais preocupada em arrumar comida pra nós. O jeito foi colocar tudo no meu quarto. Quando passava alguém na rua, eu dava um disco pra ir me livrando daquelas caixas. Às vezes nem era meu amigo, e eu dizia vem cá vou te dar um presente. Até que terminei com tudo. O disco estourou e foi sucesso de uma maneira que não pude mais parar em casa. Uma das músicas carro-chefe do primeiro disco foi ‘Como é que eu tô nesse Corpo’. Estourou valendo e eu tive que saltar de casa, porque o Rilo falou: tu vai pro palco te apresentar. E eu apavorado, pois não sabia nem o que era um palco. Nós tínhamos uma lista de show, mas nem preço tinha. Era um lote de show marcado e o preço era de acordo com a situação.

PRIMEIRO SHOW

Mano Lima - Cheguei em Santiago, no Ginasião, pra fazer meu primeiro show e tinham 10 mil pessoas me esperando. O Eurides Nunes me acompanhou. A partir daí fui pegando os macetes da música e da vida, pra chegar onde estou hoje. Eu não tinha conhecimento nenhum, não sabia nem que tom eu tocava, que era em Dó maior. Fui pegando o jeito na estrada, viajando e aprendendo como lidar com tudo aquilo.


UM POETA, UM ILUMINADO
Rillo sempre me dizia:
fala o que vem da tua cabeça e do teu coração. E nunca grave o que é dos outros. Grava o que é teu, que o teu segredo está no que é teu! Ele sempre teve razão e eu não sabia, pois sempre soube da minha capacidade, enquanto eu não conseguia enxergar e nem acreditar. Ele era mais que um poeta. Era um ser iluminado. Mano Lima foi Rillo que criou. Tem o pai do Mário Rubens, amigo e que me ajudou a crescer como homem, o Rubens Colombo Lima, e tem o pai do Mano Lima, que é Aparício Silva Rillo.
ENTRE A GAITA E O CHAPÉU
Eu participava do grupo os Angueras, porque ainda não estava independente. Por causa disso precisei vender a gaita pra comprar o chapéu e ir pra tropa, na condição de que quando eu voltasse, o cara me vendesse de novo. Deu certo, pois com o dinheiro da tropa comprei de volta a minha gaita. Passei por muitas dificuldades até pegar o jeito e aceitar que eu era um artista. Hoje fico pensando o quanto o Rilo teve valor na minha vida. Tudo o que ele dizia era realmente verdade. E nunca deixei de ser o Mano tropeiro, que sempre esteve dentro de mim. Músico sou por acaso, porque o Rillo disse que sou. Mas tropeiro sou desde que nasci.
DEVOÇÃO A SANTA CECÍLIA 
Mano Lima
- Sou devoto de Santa Cecília porque no quarto em que nasci havia uma imagem dela com uma arpa. Aquela imagem ficou gravada na minha cabeça e somente com o passar do tempo, fiquei sabendo que ela era a santa protetora dos músicos. A estátua dela, que está na entrada da minha estância e que leva o nome de Fazenda Santa Cecília, tem uma expressão angelical que emociona. Assim como a escultura do cacique M’Bororé que tenho em frente à minha casa na fazenda, são artes do escultor Vinícius Ribeiro. O Vinicius é um grande artista missioneiro, que traz a herança das Missões em suas obras e em seu coração. Também foi ele que fez a estátua de Mano Lima com sua gaita, uma homenagem que recebi da prefeitura de Maçambara.
INSPIRAÇÃO PRA COMPOR
Mano Lima
- Às vezes eu sonho que estou fazendo uma letra e aí termino depois. Às vezes estou andando a pé ou a cavalo campo afora, às vezes uma frase me puxa uma letra. Eu sinto quando começo a compor que está na hora de gravar. Deus, o campo e o cavalo são a caneta das minhas inspirações e composições. Trabalho muito com esta parte mística. Já que eu não sabia nada de mim e foi um amigo que me descobriu, passei a perceber que a vida está prescrita.
ORAÇÃO E PÚBLICO
Mano Lima
- Antes dos shows faço minhas orações. Só vou para o palco depois que sinto a presença de Deus. Tenho na minha cabeça até hoje, que não sou um artista, que tenho uma missão e sou apenas um mensageiro, pois em tudo Deus me conduz. Não preocupo com nada, simplesmente confio em Deus. Tem momentos em que até chego a chorar, tamanha é minha emoção ao sentir a presença de Deus e do Espírito Santo, especialmente antes de fazer meus shows e de estar com o meu público.
MOMENTOS DIFÍCEIS
Mano Lima
- Na música foi quando eu precisei fazer uma cirurgia e estava me recuperando. Tinham muitos shows agendados. Poucos daqueles que me contrataram tiveram a compreensão de que eu estava impossibilitado de me apresentar. Alguns deles até vieram me visitar, mas a maioria dos contratantes não tiveram compreensão. Ficou pra trás, mas isso me afetou bastante, porque aprendi com meu pai que, não apenas o trabalho, mas sim o compromisso é o que ajuda um homem a crescer. Na vida pessoal, o que mais me marcou foi a perda do meu sobrinho, aos 26 anos de idade. Era um jovem por quem eu tinha amor como por um filho. Mas, graças a minha fé, entendi que ele esteve conosco apenas pelo tempo de cumprir sua missão. Mesmo assim, doeu muito e dói até hoje.
MOMENTOS FELIZES
Mano Lima
– São Muitos. Mas entre os mais marcantes cito o nascimento dos meus filhos, triunfar como músico e minha gratidão pelo reconhecimento que tenho do meu público, dos meus fãs, que pessoalmente e pelas redes sociais, sempre estão me homenageando de forma muito alegre e respeitosa. Além de ter o reconhecimento de artistas nacionais como do Sorocaba, da dupla Fernando e Sorocaba, que recentemente me convidou para gravar um disco.
RECADO PARA QUEM ESTÁ TRILHANDO NOVOS CAMINHOS
Mano Lima
- Que não façam o que Mano Lima fez. Quando um amigo surgir e disser você é capaz. Acredite e vá em frente. Acredite também que a palavra tem força, mas o que tem mais força que tudo isso é o pensamento. Porque não existe uma atitude que não venha do pensamento. A nossa religião, a nossa fé, a nossa força vem de dentro de nós. Para mim, a felicidade está na simplicidade e o homem nada mais é do que o reflexo de suas atitudes. Confie em Deus, pois somente Ele vai te levar até onde você quer chegar. Deus vai por vários caminhos, mas Ele é um só. Portanto, a religião é simplesmente a copa do chapéu e o importante não é a copa, mas o chapéu. 


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Karin Schmidt
Jornalista e Documentarista
KSS Comunicação

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