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11/12/2018 17:33


“Ciganos do Mar” são os primeiros humanos conhecidos a ter adaptação genética para mergulho.

O mergulho livre mais profundo já registrado pelo povo Bajau Laut, do Sudeste Asiático, foi de impressionantes 79 metros de profundidade, enquanto que o maior tempo embaixo d’água foi de pouco mais de três minutos.
Conhecidos como “ciganos do mar”, esse grupo de pescadores, que costumam habitar barcos e palafitas, são conhecidos por passar cerca de 60% de sua vida útil debaixo d’água, segundo informações da Science Alert.
Durante mais de mil anos, essa tribo natural da Indonésia viajou pelos mares do sudeste asiático sobrevivendo por meio da pesca em mergulho livre, de modo que desenvolveu a capacidade de permanecer longos períodos submersos em grandes profundidades. De acordo com pesquisa publicada na revista Cell, tudo isso é possível graças a algumas adaptações físicas e genéticas.
Embora tenhamos a nos ver como a evolução final da espécie humana, essas adaptações ainda têm controle sobre alguns grupos de pessoas, que estão sempre mudando para melhor atender seu ambiente e seu estilo de vida.
Durante o século XX, algumas populações de Bajau se estabeleceram na costa asiática, mas continuaram vivendo um estilo de vida de subsistência com base em seus métodos tradicionais de pesca.
Como o único equipamento de mergulho disponível é um par de óculos de proteção e lanças feitas de madeira, seu sucesso depende da capacidade de mergulhar fundo e prender a respiração por muito tempo.
Uma equipe internacional de pesquisadores estudou os Bajau e descobriu que eles tinham baços significativamente maiores do que as pessoas de uma aldeia vizinha que viviam principalmente do cultivo de alimentos.
Curiosamente, tal característica também foi verificada em membros da comunidade Bajau que não mergulhavam, sugerindo se tratar de um traço herdado, e não uma mudança causada por uma vida inteira de mergulho.
O tamanho do baço é importante porque é um reservatório no qual células do sangue são armazenadas. Durante um mergulho, o baço contrai e empurra essas células extras para o sangue circulante, aumentando sua capacidade de transportar oxigênio. Essa resposta também foi encontrada em mamíferos mergulhadores, como as focas.
Análises de DNA revelaram outra mudança que acabou sendo uma das variações genéticas mais frequentes na população Bajau, envolvendo um gene que ajuda a controlar os níveis de um hormônio chamado T4, produzido pela glândula tireoide.
O T4 determina aumentos na taxa metabólica (quantidade de energia que o corpo pode usar em um determinado período de tempo), o que pode ajudar a combater baixos níveis de oxigênio, mas também está associado ao tamanho do baço (maior) em camundongos.
Outra variação genética entre os Bajau estava associada à maneira como o corpo respondia ao mergulho. Um desses genes fez com que o sangue fosse espremido para fora dos membros e áreas não essenciais do corpo, de modo que o cérebro, o coração e os pulmões pudessem continuar a receber oxigênio. Outro impedia que altos níveis de dióxido de carbono se acumulassem no sangue.
Tudo isso sugere que a seleção natural ajudou a moldar os Bajaus para que eles pudessem mergulhar cada vez melhor.
Os autores do estudo sugerem que a compreensão das adaptações dos Bajau pode ajudar na pesquisa sobre o tratamento da hipóxia, que é quando o tecido do corpo não recebe oxigênio suficiente devido a doenças ou lesões.
Fonte: Jornal Ciência

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