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14/02/2019 18:53


Mistérios do Chimarrão

No período das Reduções das bocas dos índios os catequizadores jesuítas ouviram espantosas narrativas sobre o mate, que vararam os tempos. Não era raro se ouvir falar de indígenas que desfaleciam quando não tomavam o chimarrão. Ouvia-se dizer também que, no silêncio das mateadas, os índios "conversavam" com seus ancestrais.
O homem, geralmente, por aniquilar aquilo que lhe é desconhecido, ao invés de estudá-lo e incorporá-lo ao seu conhecimento, desencadeou na tentativa de liderar os nativos, uma verdadeira guerra contra o uso da erva-mate. Essa contenda atravessou importantes e preciosas décadas da nossa história. Na realidade, o que existia era o propósito de poder e vaidade de destruir os costumes do povo e defender o sistema colonial espanhol.
O mate passou a ser um crime com as mais diversas penas chegando a excomunhão.
Era de tal ordem o respeito e a veneração que os índios devotavam a "Erva de Tupã" que os jesuítas não acreditavam que fosse algo bom e saudável.  Que tipo de droga era aquela que os nativos ingeriam, com tal respeito, como se estivessem comungando com a própria divindade? Que mistérios possuía aquela infusão instituída por um Deus pagão?
Como os padres europeus não conheciam o chimarrão e por medo de defrontarem-se com uma realidade diferente e quem sabe, maior do que a sua, os padres foram levados a condenar o uso da erva-mate como "erva-do-diabo". 
Era tamanha a força dessa tradição que nem as excomunhões e penas dos juízes eclesiásticos, com suas "reprensiones y ejemplos de los predicadores" ou "penitencias de confessores" foram capazes de eliminá-la.
Um de seus maiores perseguidores, o padre Diego Torres, denunciou, formalmente, sua origem demoníaca, fazendo condenar seu uso em todas as missões jesuíticas. Eram os ventos da inquisição soprando nas planicies pampeanas.
O nosso "cachimbo da paz" tornou-se, por força da ignorância dos conquistadores, um instrumento de discórdia, causador de muito sofrimento para o povo nativo.
Seguidamente os índios eram punidos e castigados por desobediência às proibições estabelecidas. Fora instituída, como último recurso, a "excomunhão" dos que mateavam. Tentavam incutir a idéia de que ANHANGÁ (Deus do mal na mitologia índia) havia enfeitiçado os ervais, transformando a erva em poderoso veneno. 
O homem, geralmente, por aniquilar aquilo que lhe é desconhecido, ao invés de estudá-lo e incorporá-lo ao seu conhecimento, desencadeou na tentativa de liderar os nativos, uma verdadeira guerra contra o uso da erva-mate. Essa contenda atravessou importantes e preciosas décadas da nossa história. Na realidade, o que existia era o propósito de poder e vaidade de destruir os costumes do povo e defender o sistema colonial espanhol.
Por seu lado, os índios sempre encontraram um modo de burlar a vigilância ou desacreditar a versão jesuítica. Através da orientação de seus sábios Pajés, que conheciam o valor do mate e sabiam como lidar com o seu povo, sempre encontravam uma forma de criar um "contra-veneno". Se ANHANGÁ envenenara os ervais, era fácil desvencilhar-se desse feitiço: bastava o cevador (aquele que prepara o mate) não tomar a primeira ceiva da infusão. Ela deveria ser cuspida fora por cima do ombro esquerdo. Desta forma o cevador podia, tranquilamente, tomar o mate seguinte, sem medo do envenenamento.
É por esse motivo, que até os nossos dias, principalmente na região das missões, não se toma o primeiro mate, cuspindo fora os seus goles. (grifo do Cohen)
É também daí que se originou o ditado: "o primeiro mate é dos pintos", tendo em vista que, ao cuspi-lo, os pintos do terreiro acodem, rapidamente, para catarem as partículas da erva que saem na primeira cevada. (grifo do Cohen)
Também vem desse tempo à tradição do "dono da casa" ou do "cevador" tomar o primeiro mate, numa demonstração aos demais parceiros da roda, de que o chimarrão está desprovido de qualquer "veneno" que lhes possa causar algum mal. (grifo do Cohen)
Tantas quantas fossem as proibições criadas, outras tantas formas eram encontradas para não respeitá-las.
O nosso índio preferia morrer a viver sem o seu companheiro chimarrão. 
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