Num tempo pouco distante esta árvore não produzia frutos e servia apenas como sombra e lenha para o fogo, assim disseram os ancestrais da tribo Tupi. Isto até a índia Jaci retornar da mata trazendo nos braços um menino com as perninhas atrofiadas e curtas, porém de corpo robusto. Por sua aparência deram-lhe o nome de "Jabô".
Os anciões da tribo determinaram que ele fosse sacrificado conforme a tradição indígena aos raros casos de nascerem com deformações. Energias positivas evitaram o sacrifício, citando ser o primeiro e talvez único filho de Jaci, pois estava findando seu período de mulher fértil, e ela lutou bravamente por ele. Somou-se a isso o pedido de um homem branco que gostava muito de Jaci e se comprometeu a também cuidar de Jabô.
Jabô não aprendeu a caminhar. E a partir dos dois anos a mãe passou a deixá-lo numa rede atada no redondo telheiro central e a outra ponta num galho da árvore solitária. Deste modo, ele ficava na sombra da ocara ouvindo o cantar dos pássaros e vendo tudo a seu redor, mas diga-se que também tinha a vista curta. Vivia assim entrevado salvo quando algum piá vinha brincar com ele. Talvez por isso Jabô começou a conversar com a árvore, sem saber que ela entendia tudo. O cipó que atava a rede estava fixado num galho distante, e quando se embalava para o lado conseguia se abraçar nela, falando da vontade de correr pelas matas e apanhar frutas no pomar. Compreendendo a dor do menino a árvore fez então um pedido a deus Tupã e foi atendida.
O pajé curandor foi o primeiro a perceber que alguns brotos saíam do tronco da árvore, principalmente onde Jabô a tocava, tanto do chão quanto deitado na rede. Eles nunca tinham visto nada igual e perceberam ser uma espécie de fruta, pois após seis trocas de Lua elas ficaram reluzentes e escuras, sem saber que a árvore fez isso para Jabô melhor enxergá-las quando amadurecidas.
Após comer as frutas mais próximas Jabô foi se agarrando ao tronco para alcançar as mais altas, e assim desenvolveu seus braços e pernas, inclusive firmando os pés. Antes mais rechonchudo, perdeu peso e ganhou forças. Por vezes a mãe Jaci se assustava ao não encontrar o guri na rede, e mais ainda ao vê-lo no alto dos galhos colhendo as doces jaboticabas, nome criado em homenagem a Jabô. Já o pai dele e os demais que falavam português diziam “jabuticaba”, talvez pelo sotaque lusitano.
Antes que me perguntem onde isso aconteceu respondo que ninguém sabe ao certo, pois a estória foi se espalhando junto com as sementes, e os índios maravilhados falavam mais do milagre e menos de onde surgiu, se da região Sudeste, Sul ou Norte, porque a jabuticabeira conquistou várias partes das Américas. Como o homem branco nada escreveu sobre sua origem, e os índios não usavam a escrita, nasceu mais uma lenda brasileira: a Lenda da Jaboticaba!
Glossário:
Ocara: - espécie de telheiro, geralmente construído com um tronco central.
Troca de lua a cada sete dias. Período de maturação= 45 dias
“ïapotï'= "botão" e “kaba”= gordura.
A LENDA DA JABOTICABA
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