Sete de Setembro, conhecida como o Berço das Águas, situada de forma discreta como uma pepita de ouro e linda no seio da Região Missioneira, conserva em seu ar, em seus habitantes a simplicidade de um povo que dá valor a família, as origens e a cultura. Uma cidade como todas as pequeninas cidades gaúchas, que mantém em todos os momentos uma paz diríamos palpável.
Como o chimarrão, os costumes e tradições são passadas de geração a geração desde os antepassados, que, apesar da maioria já ter partido, deixaram muitas marcas, que são conservadas até hoje, como o alerta que é dado pelo sino quando toca lá no alto da torre da Igreja São Roque.
Quando as badaladas iniciam o que era pacato se agita, ficam todos trocando orelhas, inquietos. Tudo bem quando toca nos horários estabelecidos, seis da manhã, meio-dia e seis da tarde, isso é normal, funciona como um relógio, principalmente para as crianças que estão brincando na rua, é hora de se recolher. Mas quando este sino começa a bater fora de hora e, com pancadas diferentes, fortes e de um lado só, as atividades cotidianas transformam-se em inquietação, juntamente com um sentimento de suspense e perda.
É sino para morto! E começa a correria, ligações e suposições: quem foi o último? Quanto tempo faz? Algum acidente? Quem estava doente? Quem será desta vez? Hum, que sufoco! Do zumzumzum que se ouve em todos os cantos de Sete são esses os questionamentos.
É um idoso, as pancadas são fortes e o sino não para de bater. Será o seu João? A Dona Maria? Não sei, só sei que o último que morreu, Seu José, ficou com os olhos entreabertos, sinal de que logo viria buscar outro. Se bem me lembro, também na procissão os amigos choravam e ficavam cuidando a todos de canto de olho, até o vigário se arrepiava e não conseguiram acompanhar o passo dos que estavam puxando a frente, perigo iminente, sinal de que logo vai outro e quase que o morto tem de ir sozinho.
Vamos apurar o passo, Ave Maria... Dai-lhe senhor o descanso eterno...e no caminho vão dizendo amém. Outros exclamam: ufa, que cansaço. Não conseguimos alcançar, não adianta mais, já estão entrando no cemitério, agora é só esperar o sino bater novamente de um lado só, sem esquecer que aqui em Sete quando o sino toca por que morre um, morrem três, o morto tem mania de ir abraçado em mais dois. Em Sete ninguém vira anjo sozinho.
Poucos dias depois o coração acelera, bate novamente o dito sino. É, mais uma vez o destino se encarregou, foi mais um ou uma, vamos ver quem é desta vez. Como dizia minha bisavó, isso é a mais pura verdade, neste lugar os velórios e enterros são acontecimentos que reúnem muitas pessoas e tem que ficar atento porque nunca se sabe, hoje é o João, amanhã pode ser qualquer um de nós, assim como acontece há muitos e muitos anos. Morre um morrem três.
E o sino continua a bater de um lado só dóm...dóm...dóm... E em um curto período a cidade só se acalma quando o sino soa pela terceira vez. A tristeza e agonia de ouvir a primeira vez o sino de Sete de Setembro, na Igreja de São Roque só é apaziguada se comparada à alegria e o alívio de se ouvir o soar da terceira vez.
Os suspiros são únicos em Sete de Setembro, pêsames e alívio.
Autoria: Letícia Stasiak, 20 anos
Estudante do 4º semestre de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo na UFSM, campus Frederico Westphalen
Participei com a crônica o Sino de História da Olimpíada de Língua Portuguesa 2010.
Passei pelas etapas Escolar, Estadual, Regional e Nacional, a qual me classifiquei entre as 38 melhores crônicas do país. Ao todo participaram 7 milhões de alunos de 12 Estados do Brasil.
Mais informações e imagens sobre a Cascata no Rio Comandaí, na cidade de Sete Setembro RS conhecida como "berço das água”. Clique aqui.
Imagens da Cascata do Rio Comandí na cidade de Sete Setembro RS conhecida como "berço das águas”. Clique aqui.
Informações e Localização sobre a Fonte Fontana na entrada da cidade de Sete Setembro RS “berço das águas”. Clique aqui.
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Mais informações e localização igreja de São Roque.
Imagens da igreja de São Roque.
Sino do interior da Igreja de São Roque.
O Sino De Sete, Se Toca Por Um, Morrem Três
Sete de Setembro, RS
Av. Jacomo Lazaroto S/N
Telefone: (55) 3313-1714