O cooperativismo é um movimento social e econômico que tem por base a cooperação, a participação, a solidariedade, a igualdade e a democracia, indo além da individualidade e deixando de lado a concorrência. Tendo como foco principal as pessoas e a atuação destas no coletivo, assim como, o poder da coletividade e solidariedade em transformar o local em que vivem e as oportunidades juntos, de forma comum a todos.
A atividade cooperativa é exercida desde os primórdios, principalmente para a subsistência do grupo, era realizada sem a intenção de ganhar lucros, mas sim sobreviver. Para compreendermos como o cooperativismo se tornou uma organização, com objetivos sociais e econômicos em comum, é necessário entender o que levou ao surgimento deste.
O movimento cooperativista sobreveio com o intuito de melhores condições de trabalho, sobrepondo-se ao capital, atendendo aos interesses dos trabalhadores, e assim estabelecendo uma organização livre, democrática e sem hierarquia. “Incorporando ideias sociais do período: "autoajuda, solidariedade, democracia, liberdade, equidade, altruísmo e progresso social” (FRANTZ, 2012, p.18).
No Brasil as primeiras atividades cooperativas podem ser identificadas no trabalho cooperativo realizados pelos povos indígenas, elas eram voltadas para a subsistência da tribo até a chegada da Companhia de Jesus, que modificou estas com o processo civilizatório, principalmente no estado do Rio Grande do Sul, onde houve a fundação das primeiras reduções jesuíticas.
Posteriormente as atividades cooperativas passaram a basear-se nas experiências advindas de diferentes grupos étnicos, em especial dos imigrantes europeus que se estabeleceram no estado, atendendo os interesses dos países colonizadores. Isto ocorreu durante o final do século XIX, conhecido como a primeira fase do cooperativismo, onde houve a fundação das primeiras cooperativas e associações no RS com a estadia dos imigrantes em regiões de produção agrícola.
A vinda dos imigrantes ítalo-germânicos ocasionou novas formas de cooperativismo e associativismo no estado, movidos pela necessidade de sobreviver pois estes não possuíam auxílio para amparar-se ao chegarem aqui. Levando assim a realizarem o trabalho coletivo em prol do grupo.
Os imigrantes alemães impulsionados pela necessidade, criaram cooperativas e associações de crédito, as Caixas Rurais de modelo Raiffeisen, este modelo era aberto para qualquer um, baseava-se em depósitos na qual recebiam pequenas remunerações. Uma das características mais significativas era o voto dos associados, independente da quota-parte (a quantia em dinheiro que depositam quando entram na cooperativa), a ausência de capital social e a não distribuição das sobras.
Em 1902, Theodor Amstad, padre jesuíta suíço, fundou na Linha Imperial, onde hoje se localiza Nova Petrópolis, a primeira cooperativa do modelo, batizada “Sociedade Cooperativa Caixa de Economia e Empréstimos Amstad” e depois “Caixa Rural de Nova Petrópolis”. Atualmente é chamada de “Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de Associados Pioneira da Serra Gaúcha – Sicredi Pioneira RS”, uma das maiores do Brasil.
Amstad também foi o responsável, em 1912, pela fundação de uma organização associativa fundamentada no solidarismo, a Entidade Volksverein, no município de Venâncio Aires. Tendo como impulso às necessidades vivenciadas pelos colonos em situação de abandono, a entidade visava a promoção humana e melhores condições econômicas aos colonos (RAMBO; ARENDT, 2012).
A Entidade Volksverein, hoje é a Associação Amstad, levando em si o nome do padre que foi um dos maiores precursores do cooperativismo e associativismo no estado.
Os imigrantes italianos que exerciam a agricultura tiveram o cooperativismo e associativismo divulgado a partir de uma campanha realizada pela Sociedade Nacional de Agricultura atribuída pelo Governo Federal e apresentada por Stefano Paterno, que objetivava a promoção do modelo misto de seção de crédito.
Durante a segunda fase do cooperativismo, os imigrantes italianos trouxeram o modelo de crédito de Luigi Luzzatti, precursor do cooperativismo italiano, conhecido como bancos populares. Luzzatti apostava neste conjunto de cooperativas, as quais todos os cooperados seriam donos e usuários, oferecendo crédito às classes mais populares, e valorizando o senso de responsabilidade e a palavra de honra dos associados, que apenas iriam requerer crédito que se pudesse honrar, já que se encontrariam na posição de devedor e credor. Este modelo tornou-se popular por volta de 1930. Com a influência de Amstad, houve a abertura de uma cooperativa que seguia este modelo em Lajeado-RS.
A apresentação de diferentes modelos do cooperativismo de crédito mostra a importância do cooperativismo no desenvolvimento econômico no Rio Grande do Sul.
Atualmente, conforme a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), através da Pesquisa Nacional do Cooperativismo, realizada em 2018, e do Anuário do Cooperativismo de 2020, constata-se que de cada 10 brasileiros, 4 conhecem o cooperativismo. A Região Sul lidera a pesquisa com 67%, sendo a região que mais conhece este movimento, e tendo no Rio Grande do Sul o registro ativo de 425 cooperativas, com mais de 3 milhões de cooperados e mais de 61 mil empregados diretos. Sendo 198 cooperativas ativas voltadas ao ramo do crédito, contando com mais de 5 milhões de cooperados e cerca de 35 mil empregados.
Os dados históricos apresentados são frutos de pesquisas realizadas através do Programa de Iniciação Científica (PiiC), que introduz e familiariza os acadêmicos com a prática de pesquisa, através do estudo e aprofundamento de um tema específico. O título do projeto de pesquisa, em desenvolvimento, está relacionado a história do cooperativismo e associativismo no Estado do Rio Grande do Sul.
Março de 2021
Mayara Cibele Roque Lopes
Bolsista de Iniciação Científica e acadêmica de Pedagogia
mayaracrlopes@aluno.santoangelo.uri.br
Cênio Back Weyh
Prof. orientador – docente da
URI – Campus de Santo Ângelo
ceniow@san.uri.br