Mais de 3 Toneladas – Bólido do RS deixou meteoritos em solo
Por Marcelo Zurita em Bólidos e Fireballs, Meteoritos
O meteoro que cortou os céus do Rio Grande do Sul na noite do dia 6 de junho era muito maior do que havia sido estimado na análise preliminar feita pela BRAMON. Cálculos mais refinados realizados a partir das análises das imagens do Clima ao Vivo indicam que o objeto que gerou o meteoro tinha mais de 3 toneladas, e dessa massa, cerca de 10% resistiu à passagem atmosférica e atingiu o solo entre os municípios de Jari e Santa Maria.
As imagens captadas pelas câmeras do Clima ao Vivo em Canela, Caxias do Sul e Venâncio Aires, mostram também que o bólido foi muito mais longo e duradouro, iniciando sua visibilidade a 104 Km de altitude, ainda sobre o Paraguai. Durante 27,5 segundos, ele cruzou 393 Km de atmosfera passando pela Argentina e cruzando o Noroeste Gaúcho a cerca de 14,3 Km/s (51,6 mil Km/h) até desaparecer a 27,4 Km de altitude sobre a zona rural do município de Jari no Rio Grande do Sul.
Outro vídeo muito interessante que surgiu foi um captado de uma câmera de segurança em Porto Alegre. Este vídeo mostra toda a trajetória do bólido e foi cuidadosamente analisado pelo astrônomo amador José Serrano Agustoni, o que ajudou bastante na determinação da trajetória. Os dados da triangulação somado à análise da intensidade luminosa do bólido registrada no vídeo de Caxias do Sul, permitiu o calculo mais preciso da energia liberada durante sua passagem atmosférica e, consequentemente, a determinação da massa do objeto. Estes cálculos indicam uma massa inicial entre 3,25 e 5,75 toneladas e que, apesar de grande parte dela ter se desintegrado durante a passagem atmosférica, cerca de 10% dessa massa foi preservada e atingiu o solo.
Os fragmentos de rocha espacial, quando resistem à passagem atmosférica e chegam ao solo, são chamados de meteoritos e tem grande valor para a ciência, pois podem trazer consigo informações importantes para explicar o processo de formação do sistema solar ou até mesmo do surgimento da vida na Terra. Dada essa importância, foi calculada também a área de dispersão dos meteoritos gerados por esse bólido, que vai deste a zona rural de Jari até as imediações de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Devido à sua altíssima velocidade, o meteoroide enfrenta uma enorme resistência atmosférica, e com isso, geralmente se parte em inúmeros fragmentos de vários tamanhos. Os fragmentos menores, perdem rapidamente a velocidade e estão mais sujeitos aos ventos das várias camadas atmosféricas. Já os fragmentos maiores, tem mais inércia e com isso, sofrem menos desvios pelos ventos e tendem a seguir uma trajetória aproximadamente parabólica até o solo.
Tudo isso, em um meteoro que teve uma trajetória muito longa, gera uma grande área de dispersão que pode ser vista no mapa acima. A área mais avermelhada indica onde podem ser localizados os maiores fragmentos. Na área amarelada, podem ser localizados os menores fragmentos, mas estes devem ser mais numerosos. Na imagem abaixo, temos uma simulação preparada por André Moutinho, mostrando a trajetória final de um fragmento até o solo. A linha branca indica a trajetória do meteoro enquanto ele estava visível. A preta, é o chamado dark flight, que é a trajetória dele depois de ter se apagado. Para essa simulação, foram utilizados os dados dos ventos coletados a partir da sondagem atmosférica realizada em Santa Maria às 21h do dia 06 de junho. Nesse caso, a baixa intensidade dos ventos laterais não alterou muito a trajetória do fragmento, permitindo que ele viajasse por mais de 50 Km antes de atingir o solo.
Além do grande valor para a ciência, os meteoritos tem também um bom valor comercial. Museus, colecionadores e cientistas do mundo todo pagam bons valores para ter um pedacinho de rocha espacial para seus estudos científicos ou apenas para enriquecer sua coleção. Geralmente, meteoritos oriundos de uma queda recente tem valor entre $5 e $10 USD por grama. Mas esse valor pode aumentar ou diminuir dependendo do tipo de meteorito e da quantidade encontrada.
Pessoas que moram nessas regiões ou em regiões próximas podem procurar por fragmentos desse meteorito. Para isso, é preciso saber como identificar um meteorito e também o que fazer caso encontre um.
Para identificar um meteorito, é preciso estar atento a algumas características comuns:
O fluxograma abaixo é uma boa orientação para identificação de um possível meteorito. Ele não é decisivo, pois há casos de meteoritos que fogem completamente a estas regras, mas seu resultado dá uma boa pista das chances existentes:
Se você pretende ir a campo buscar meteoritos, existem algumas dicas que são muito úteis:
Se você encontrou algo parecido com um meteorito, comemore muito! Mas esteja atento a alguns procedimentos que são muito importantes para resgate e reporte do achado: