A pajada ou payada em castelhano (a palavra castelhano tem sua origem no dialeto desenvolvido em Castela, Noroeste da Espanha) consiste numa forma de se fazer versos geralmente no improviso, rimas ao vento. É encantador ver e ouvir dentre os gemidos de uma guitarra brotar da garganta desses poetas, literatos, mestres do repente, o sentimento terrunho recheado de “alma, emoção e poesia” ganha a liberdade na essência do verso para acaricia o sentimento das pessoas. Esse repente é moldado em estrofes constituídas em Décima Espinela, ou seja, de dez versos, de redondilha maior e rima. O formato da estrofe na sua estruturação é assim: ABBAACCDDC geralmente com versos setissílabos.
Tomando por exemplo como tema o Portal das Missões para o formato estético de uma estrofe de uma Décima Espinela nós podemos fazer deste modo:
Há um Site de Turismo
Recheado de atrações,
Pois é o Portal das Missões
Com fluentes mecanismos
E eu digo - com otimismo -
Cá na minha explanação
Resumindo a situação:
Nele cultura, história,
Tem revelada a memória
Do retrato da região!
O instrumento mais apropriado para o acompanhamento é o violão. A Décima Espinela é assim chamada porque no ano de 1591, através do livro Diversas Rimas o poeta espanhol Vicente Espinel criou este formato que, com o passar do tempo, da Espanha espalhou-se pela Argentina, Brasil, Chile, Venezuela, México, Panamá, Peru, Porto Rico, Cuba, Ilhas Canárias e outros países.
Aqui no Brasil as pajadas fluem no modo cantado/recitado geralmente na sonoridade acústica de uma milonga. Percebe-se então que a pajada, este gênero artístico, vem lá das quadras renascentistas, dos romances e isso foi incorporado à temática campeira do nosso meio rural e questões sociais.
Bossoroca, a nossa Buena Terra Missionera, é um lugar privilegiado neste sentido, pois daqui deste solo pátrio das Missões nasceram dois marcos que imortalizaram esta modalidade, a pajada, que foram os gênios Jayme Caetano Braun (nascido em Timbaúva, hoje interior de Bossoroca) e Noel Fabrício da Silva, o Noel Guarany (nascido em São Luiz Gonzaga em 26 de dezembro de 1941 e falecido em 06 de outubro de 1998 em Santa Maria), mas que por gosto, princípio e amor, adotou Bossoroca como a sua terra.
Neste Estado gaúcho há grandes e renomados pajadores onde relato alguns que agora me veio à memória: Paulo de Freitas Mendonça, Pedro Junior da Fontoura, Jadir Oliveira, José Estivalet, Adão Bernardes, João Barros, João Batista dos Santos chamado carinhosamente de Crioulo Batista, dentre outros.
O dia 30 de janeiro foi estabelecido aqui no Rio Grande do Sul como o Dia do Pajador Gaúcho, aprovado por unanimidade na Assembléia Legislativa. A lei estadual nº 11.676/2001, foi sancionada quando então era governador deste Estado o nosso conterrâneo Olívio Dutra. Trata-se de uma justa homenagem à memória do ilustre pajador Jayme Guilherme Caetano Braun em sua data de nascimento, pois Jayme que é considerado o patrono do Movimento Pajadoril surgido no ano de 2001, nasceu dia 30 de janeiro de 1924 e faleceu em 08 de julho de 1999 em Porto Alegre. Lembrei-me que outro destacado poeta “O Príncipe dos Poetas Gaúchos” Manuel do Nascimento Vargas Netto, Patrono da Estância da Poesia Crioula, também nasceu num dia 30, ou seja, em 30 de janeiro de 1903, em São Borja e falecido em 05 de maio de 1977, no Rio de Janeiro.
Não se sabe ao certo a origem da palavra pajada ou payada. Talvez tenha sua origem em “payo” (habitante de Castilla) ou pago (terra) ou “palla” (nativos cantores) ou quem sabe ainda “pajé” (médico, feiticeiro e chefe espiritual dos nativos). A verdade é que a pajada, na essência, tem um grande poder de contágio e de absorção de tudo isto aliando à magia e realidade!
Site: Escritor João Antunes poeta, historiador e compositor
Facebook = João Carlos Oliveira Antunes
Bossoroca (55) 9999-42970 joaoantunes10@terra.com.br
Site: Cemitério dos Cativos Pajada
Pajada Vídeo: Pajada Mãe - Jose Dirceu Dutra
Vídeo: Pajada Dona Ilza Farias de Farias
Pajada Preito a São João das Missões.
Site: No Silencio da Lagoa da Mortandade