“Uma Casa, Uma Vida” discute o futuro da casa xavante Filme produzido por cineastas aprendizes indígenas junto com a equipe Raiz das Imagens já está disponível na internet.
“Hoje a cultura do branco quer destruir nossa cultura. Por isso, estivemos pensando bem como seria, com a chegada dessas casas do branco. E agora com ideias novas, vamos analisar bem. Pois a nova geração está crescendo e está acompanhando tudo isso.”A fala firme do cacique Tsitoti, da Aldeia Belém, inicia o filme “Uma Casa, Uma Vida”. O documentário apresenta as alterações da casa xavante desde o contato com a sociedade envolvente e coloca em questão qual é a habitação em que o povo xavante quer morar no futuro.
Veja aqui o filme “Uma casa, uma vida”
“A chegada dessas casas do branco” a que se refere o cacique é a entrada do programa “Minha Casa, Minha Vida” nas aldeias xavantes. O filme reflete sobre a importância das comunidades indígenas terem autonomia para decidirem seu futuro, frente aos pacotes de políticas públicas que muitas vezes não se adéqua às especificidades de cada cultura. É o caso do Plano Nacional de Habitação Rural (PNHR) através do “Minha Casa, Minha Vida”, que visa o acesso e popularização da casa própria e de alvenaria para as comunidades rurais. Porém, ao se estender às populações indígenas, não houve uma regulamentação que valorizasse a habitação tradicional, os materiais locais e a participação e organização de cada povo.
As comunidades indígenas se encontram assim num impasse: ter acesso a um programa que lhes proporciona benefícios, ao mesmo tempo em que isso significa provocar alterações irreversíveis no modo de vida. A maioria das comunidades xavantes tem abraçado o programa “Minha Casa, Minha Vida” sem fazer muito alarde para essa moeda de troca, que talvez só seja sentida daqui a algumas décadas. O “consenso da comunidade” aparece apenas como um protocolo a ser seguido para efetivar o projeto, dentre tantos outros documentos necessários. A discussão em si sobre qual é a casa ideal vislumbrada por cada aldeia é, quando muito, superficial e em geral, inexiste.
Não por acaso, o documentário chega em momento oportuno, no qual diversas aldeias estão aderindo ao programa. O filme acompanha duas aldeias que decidiram refutar a construção de casas populares e conhecer outras técnicas de construção para refletir sobre o futuro da casa xavante. Trata-se das aldeias Belém e Ripá, ambas localizadas na Terra Indígena Pimentel Barbosa, dentro do município de Canarana, Mato Grosso.Nestas aldeias, durante 30 dias entre agosto e setembro, ocorreu uma vivência-oficina em bio-construção, com a participação de construtores indígenas e não-indígenas de diversos lugares do Brasil. A oficina foi organizada pelo Tibá – Tecnologias Intuitivas e Bio-Arquitetura/RJ – pelo produtor cultural Alexandre Lemos e pelas comunidades das duas aldeias e teve como resultado a construção de uma casa em cada aldeia. O documentário foi produzido numa parceria com o Raiz das Imagens, que também realizaram oficinas de técnicas audiovisuais com jovens destas aldeias, que trabalharam nas entrevistas e captação das imagens.
Fonte Jardim do Mundo