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26/06/2018 18:30


O MENINO DA GAITA: UM SHOW DE ARTE E HUMILDADE por Karin Schmidt

Apesar dos tempos modernos e da era virtual, ainda tem muitos artistas que além de divulgarem sua arte nas redes sociais, mantêm a tradição de fazer apresentações ao vivo em ruas, praças e outros locais que reúnem grande número de pessoas. Essa forma de manifestação cultural é muito comum nos países desenvolvidos. E nós, missioneiros, temos um desses exemplos em Santo Ângelo, na Capital das Missões.
É o querido e talentoso João Pedro Copetti da Silva, conhecido como o Menino da Gaita, que começou a tocar esse instrumento há dois anos, e desde setembro do ano passado toca no centro da cidade, sua terra Natal. Com apenas 13 anos de idade, ele encanta e emociona a quem está por perto. Não só por sua habilidade artística, mas também pela humildade que carrega em seu coração.
João Pedro é um grande admirador da cultura gaúcha e tem entre seus maiores ídolos Gildo de Freitas, Teixerinha, José Mendes, Grupo Rodeio, Tio Bilia, Baitaca, Pedro Ortaça e Mano Lima. Quando lhe perguntei sobre o que mais gosta de cantar em seu repertório, ele respondeu: "a música Me Chamam de Grosso, do Gildo de Freitas. Porque a letra fala de humildade e por isso se parece muito com a minha história".
A ideia de se apresentar nas ruas surgiu mais como uma brincadeira, porque João Pedro queria sentir como era tocar em público. Acompanhado de sua mãe, a Praça do Brique foi o lugar que ele escolheu para mostrar sua arte pela primeira vez. Nesse dia, por ideia de uma senhora que morou em São Paulo e viu o menino se apresentando, ele começou a colocar o chapéu no chão enquanto toca, como é a prática nos grandes centros, para que os apreciadores contribuam de forma espontânea.
Como vem de uma família que não tem muitas condições financeiras, ele aceitou a sugestão e agora está se profissionalizando na música. A mãe comprou a gaita, mas ele pagou as prestações com a ajuda que ganha nas apresentações ao ar livre. A veia musical é de família, pai e avô. Mas sua iniciativa de tocar gaita foi para acompanhar o pai na bateria.
Nos finais de semana se dedica a música, sempre deixando bem claro que a prioridade são seus estudos e compromissos da escola. Acompanhado de sua mãe, normalmente aos sábados de manhã, João Pedro toca em frente ao Banrisul, em Santo Ângelo. O Menino da Gaita já fez shows em alguns municípios da região. Entusiasmado, disse que ficará muito feliz se o convidarem para apresentar suas canções em outros localidades.
Sua capacidade intelectual e sensibilidade artística é tão expressiva, que um apoiador anônimo paga seus estudos no Colégio Marista, de Santo Ângelo, onde cursa o 8º ano. O Rapto do Garoto de Ouro está entre os livros que João Pedro leu e mais gostou.
No momento em que falou sobre a importância de seus fãs e das pessoas que o ajudam, João Pedro colocou a mão no coração e, com muita emoção na voz e no olhar, disse: "eu sinto como se eles fossem a minha segunda família, porque as pessoas me abraçam, dizem que gostam muito de mim, se emocionam e sempre têm uma história pra me contar. Elas dizem que eu lembro alguém de quem gostam muito. Daí me emociono também, porque eu sinto que elas me querem bem de verdade. Eu agradeço a Deus por isso".
Fiz a entrevista com o João Pedro na casa dele e na presença de seus pais, Ieda Copetti e Rudinei da Silva, a quem agradeço muito pela acolhida e o carinho com que me receberam. Também estavam presentes, o tempo todo, outros membros da família. A Catarina e o Floquinho (casal de garnizé), a Cocota (caturrita), o porquinho da índia e os gatinhos, que são alguns dos bichinhos de estimação de João Pedro.
Tive o privilégio de ouvir o Menino da Gaita tocar e cantar várias músicas, inclusive na sala de sua casa, onde costuma ensaiar e tocar com seu pai. Muito obrigada por conversar comigo, João Pedro. Conhecer você me fez ter ainda mais certeza de que, com ternura e humildade, a vida fica muito mais bonita.
O Menino da Gaita surpreendeu em muitas respostas. Uma delas foi quando lhe perguntei sobre fama e sucesso. “Eu canto, toco, muitas pessoas me conhecem, gostam de mim, mas não sou artista e nem sou famoso. O sucesso, eu acho que ele chega, fica por um tempo e depois passa. Então, quem consegue ter sucesso não deve se deslumbrar, pra não ficar triste quando ele vai embora e só ficam as lembranças”.
DESDE QUANDO VOCÊ TOCA GAITA?
João Pedro – Tem dois anos. Fiz aulas por seis meses com o meu vizinho, mas com duas aulas já aprendi tocar uma música, uma valsinha.
DE ONDE VEIO A VONTADE DE TOCAR E CANTAR?
João Pedro – Meu avô toca gaita e meu pai bateria. Então, eu queria tocar um instrumento pra acompanhar meu pai na bateria.
E POR QUE VOCÊ ESCOLHEU A GAITA?
João Pedro – Porque acho um instrumento muito legal, principalmente pra tocar músicas gauchescas.
ALGUNS MÚSICOS GAÚCHOS QUE VOCÊ MAIS GOSTA?
João Pedro – Tem muitos artistas que eu admiro bastante, como Gildo de Freitas, José Mendes, Teixerinha, Grupo Rodeio, Pedro Ortaça, Mano Lima e Tio Bilia. Com o Grupo Rodeio eu já toquei (diz com muito orgulho e alegria).
TEM ALGUMA MÚSICA COM A QUAL VOCÊ MAIS SE IDENTIFICA?
João Pedro – Sim. A música “Me Chamam de Grosso” do Gildo de Freitas. Porque a letra fala de humildade e por isso se parece muito com a minha história.
COMO SURGIU A IDEIA DE TOCAR NAS RUAS EM SANTO ÂNGELO?
João Pedro – Foi mais por uma brincadeira mesmo. Eu tocava só em casa, mas queria muito tocar e cantar em público pra ver como era. Eu tinha outra gaita mais simples e um dia fui tocar na Praça do Brique, com a minha mãe junto. Eu estava usando um boné, daí uma senhora chegou pra mim, pediu meu boné e colocou no chão. Ela disse que era pra eu seguir tocando que as pessoas iriam colocar ali a quantia que pudessem pra me ajudar. Ela disse que eu tinha talento e que sempre que eu fosse cantar e tocar em outros lugares no centro da cidade, deveria colocar meu boné no chão. Daí, como toco música gaúcha, eu coloco o meu chapéu no chão. Isso foi em setembro do ano passado. Mas não faz mal quando não colocam dinheiro, porque eu fico feliz só de ver que as pessoas gostam de mim.
QUAL A IMPORTÂNCIA EM SUA VIDA DAS PESSOAS QUE TE AJUDAM E DOS TEUS FÃS QUE TE SEGUEM NAS REDES SOCIAIS?
João Pedro – São os meus apoiadores. Eu sinto como se fossem a minha segunda família, porque as pessoas me abraçam, dizem que gostam muito de mim, se emocionam e sempre têm uma história pra me contar. Elas dizem que eu lembro alguém de quem gostam muito. Daí também me emociono porque eu sinto que elas me querem bem de verdade. (João Pedro disse isso com a mão no coração e com muita emoção em seu olhar). E quando estou tocando na rua, as pessoas cantam comigo e dançam também. Então, acho que é porque gostam mesmo de mim, de me verem tocando e eu agradeço a Deus por isso.
É VOCÊ QUE NORMALMENTE RESPONDE AOS TEUS FÃS OU TEUS PAIS TE AJUDAM?
João Pedro – Sou eu mesmo. Acordo às cinco e meia da manhã pra responder as mensagens e falar com os meus fãs, porque eles são meus apoiadores. Depois me ajeito e vou pra escola. Quando tenho um tempinho também respondo em outros horários, mas sempre acordo cedo pra falar com eles. Eu quero agradecer e pedir que todos continuem sendo meus amigos e meus seguidores, porque isso me incentiva.
E OS TEUS PAIS, O QUE SIGNIFICAM PRA VOCÊ?
João Pedro – Só coisa boa. Eles me ensinam, me ajudam e são tudo pra mim. Por isso quero seguir estudando pra aprender mais do que eles tiveram oportunidade de aprender, porque assim, um dia vou poder ajudar eles também.
ALÉM DE MÚSICO, TEM OUTRA PROFISSÃO QUE VOCÊ PRETENDE SEGUIR?
João Pedro – A música eu não vou largar, mas quero fazer medicina pra ajudar a salvar a vida das pessoas.O QUE VOCÊ SENTE QUANDO ESTÁ TOCANDO? João Pedro – Felicidade. Tocar e cantar me faz muito feliz (Diz com um lindo sorriso).
ESTÁ NOS TEUS PLANOS COMPOR UMA MÚSICA?
João Pedro – Sim, eu quero muito compor minhas músicas, mas não agora porque tenho que estudar.
E ESSA GAITA, VERDADE QUE FOI VOCÊ QUE PAGOU?
João Pedro – Foi sim. Eu estava tocando no centro com uma gaita que eu tinha e ela quebrou. Eu fiquei muito triste e chorei. Daí minha mãe passou numa loja pra comprar uma gaita pra mim. Ela comprou em prestação, mas eu que paguei todas as parcelas, por causa do apoio que as pessoas me dão quando estou tocando na rua. Meu celular também fui eu que comprei porque eu precisava pra conversar com meus fãs.
QUAIS OS BICHINHOS DE ESTIMAÇÃO QUE VOCÊ TEM?
João Pedro - Tenho um casal de garnizé, o Floquinho e a Catarina, uma caturrita, a Cocota, um porquinho da índia, seis gatos e mais umas galinhas que gosto de cuidar e brincar com elas. Bem de madrugadinha, a Catarina fica embaixo da minha janela gritando até eu acordar.
VOCÊ SE CONSIDERA FAMOSO?
João Pedro – Não, não. Eu canto, toco, muitas pessoas me conhecem, gostam de mim, mas não sou artista e nem sou famoso.
SE VOCÊ SE TORNAR UM ARTISTA NACIONALMENTE CONHECIDO, COMO VOCÊ IMAGINA O SUCESSO?
João Pedro - Eu acho que o sucesso chega, fica por um tempo e depois passa. Então, quem tem sucesso não deve se deslumbrar, pra não ficar triste quando ele vai embora e só ficam as lembranças.
ALÉM DE TOCAR NO CENTRO DA CIDADE NOS FINAIS DE SEMANA, QUEM QUISER TE CONTRATAR PARA SHOWS, COMO FAZ?
João Pedro – É só falar com os meus pais ou comigo no face, que daí vejo com os meus pais. Porque os meus estudos são prioridade, mas nos finais de semana, se não tiver nenhum compromisso da escola, eu posso tocar sim, e vou ficar muito feliz se me convidarem.
E VOCÊ GOSTARIA DE CONHECER ALGUNS MÚSICOS E TAMBÉM TOCAR COM ELES?
João Pedro – Sim, tem uns quantos que eu queria muito conhecer, principalmente o Baitaca, o Pedro Ortaça e o Mano Lima. O Grupo Rodeio, que eu gosto bastante, já conheci e até participei do show deles aqui em Santo Ângelo, em frente à Catedral, junto com outras crianças que também se apresentaram.
QUE MENSAGEM VOCÊ GOSTARIA DE DEIXAR PARA TODAS AS PESSOAS QUE TE CONHECEM E ÀS QUE AINDA NÃO TE CONHECEM?
João Pedro - Que sempre sejam humildes. Que não queiram ser mais que ninguém e que, sempre que puderem, tentem ajudar as pessoas. Porque quando ajudamos alguém, isso faz bem não só pra quem é ajudado, mas pra gente também. E que sempre agradeçam a Deus por tudo e tenham fé. Porque sem fé, a gente não é nada! 
Karin Schmidt
Jornalista e Documentarista
KSS Comunicação
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