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21/09/2018 18:08


Otávio Reichert - INTEGRANDO 22/09/2018

Tropeirismo: Ao tema farroupilha 2018, segue poesia, minha, com “eu poético” feminino. Versando Santo Ângelo, o historiador Antônio C. Rousselet questionou-a, dizendo que a Rua Osvaldo Cruz foi a principal Rua das Tropas. Somente nas últimas tropeadas, e mais ao norte, as boiadas passaram pela Rua Daltro Filho.

         NA RUA DAS TROPAS
De primeiro era o culatra. Fechando a tropa!
No coração missioneiro o seu paradouro.
Bem no alto da coxilha, o peão sonhador,
sonhou a casinha branca... e uma prenda.
Mas isso dantes de mim, de onde vim!

O sonho se fez verdade na Rua das Tropas.
Na beira do campo aberto, a protegê-la,
um aramado, feito em cunha, guardando o ranchito.
E ali, alguém o esperava... semana inteira!
Se vinha ou não vinha, certeza não tinha!

Ainda antes de mim, contemplo, pelo imaginário.
Sem saber já ser papai, ponteava a tropa.
E após o valo, sul ao norte, se fez de fiador
para um beijo, junto à cerca. Na ânsia contida,
viu duas flores na janela, e uma só era dela!

No passador das boiadas e pontas de mulas,
florescendo um cinamomo, se fez minha aurora.
E diz que neste Natal meu pai não tropeou.
Que a cerca se fez varal de fraldas de pano.
Bandeiras de paz num tempo tenaz.

Agora falo por mim! De gritos e poeira.
Se ao longe se ouvia, e via, o pai que voltava.
Certa vez, disse mamãe, “Se foram a São Paulo.”
Na ocasião, também chorando: “Só volta em três meses.”
Secou o pranto, ao final, no seu avental.

De tropeiros, fazendeiros, relembro nomes...
Família Mello e Machado, os Mendes e Pires.
Na Vila Aliança, os Rodrigues, com rês confinada.
De estouros nos descampados. Descanso às boiadas,
que ao pouso de aviões baldeavam rincões.

Construíram outras casas na Rua das Tropas.
Mercearia e escola surgiram ali.
Mas meu pai, triste presságio, já pouco tropeava.
De antiga promessa feita, e sempre cumpria,
junto dele, como um peão, montei o alazão.

De bombacha e tirador, chapéu bem copado,
um gurizito ao semblante, varamos o Ijuí.
Eugênio de Castro e, adiante, Tupanciretã.
Do susto na volta, do assalto e do tiroteio.
E os ladrões? Foram presos, saímos ilesos!

Após a chuva, sol brilhante, nas pedras da sanga,
com mamãe me fiz lavadeira. No arame lavado
a marca das farpas – ferrugem nos alvos lençóis.
O tempo e o vento da vida levaram minha rua.
Levaram meus pais, encantos, meus ais.

Homenageando um general, hoje é Daltro Filho.
Em parte asfaltada, quebrada! Mas não para mim.
Semana passada, achei num velho baú,
um roto tecido, um lençol! Foi rima... Foi sol!
Pois minha alma inda galopa na Rua das Tropas!

Humor: Na conversa de pai para filho, este disse: - Decidi ser milionário!
- Mas sabes que terás de trabalhar muito para isso, meu filho!
- Eu não. Quero que o senhor trabalhe... Eu só quero herdar! 

Site: Otávio Reichert 
FaceOtavio Geraldo Reichert   
Fone wats: (55) 99118-2080  otavioreichert@gmail.com

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