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03/08/2019 11:52


Otávio Reichert - INTEGRANDO 03/08/2019

     Aventureiro! Evito contar bravatas pessoais ou da família, mas cabe narrar sobre o primogênito Leandro, que depois de vivenciar Goiás Velho, Belém do Pará e Manaus está, há mais de mês, aventurando pelo Rio Negro, inclusive adentrando a Colômbia. 
     Cabeça do Cachorro? Assim denominada a região do Alto Rio Negro, pois suas linhas fronteiriças (mapa) fazem lembrar este animal. Na extrema região noroeste do Amazonas, município de São Gabriel da Cachoeira, sua área territorial é maior que todo o estado de Santa Catarina. De difícil acesso, nela coexistem centenas de comunidades indígenas de diferentes etnias, espalhadas pelas margens do Rio Negro e seus afluentes, a citar o Rio Içana, Xiê, Uaupés e outros. Chega-se com barco de linha semanal em 3 dias, vindo de Manaus. De lá para frente o único meio de acesso é com barco próprio, pois não há linha de transporte público. A partir daqui, segue o texto narrado pelo Leandro.
    Parti de São Gabriel em um bongo de madeira (embarcação típica indígena) e subimos lentamente durante 4 dias pelo Rio Negro, pois empurrados por um pequeno motor rabeta de 5,5cv, até atingirmos a comunidade da Galilea, já em território colombiano. Entre os fatos surpreendentes foi a grande quantidade de comunidades indígenas espalhadas pelas margens do rio. De modo geral, a cada 2 ou 3 quilômetros há uma tribo, variando entre 3 até 40 famílias vivendo no local. Pelo Rio Negro até a fronteira, no vilarejo chamado Cucuí, a predominância é de indígenas da etnia Baré. Já no Içana, predomina a etnia Baniwa e na Colômbia a predominância é a etnia Curripaco, assim como a comunidade Galilea.
   Permaneci um mês na Galilea, convivendo com eles e aprendendo sobre os costumes. Muito da cultura Curripaco infelizmente já se perdeu, citando as danças, vestes e crenças religiosas, muito devido ao trabalho da igreja evangélica. Atualmente, 90% das 40 famílias que lá vivem são devotos o culto, que acontece diariamente na igreja local, onde também há uma escola primária, mantida pelo governo. A língua Curripaco é utilizada na maior parte do tempo entre eles, no entanto não há alfabetização, isto é, não sabem escrever ou ler, aprendendo apenas oralmente a língua. A alfabetização ocorre na língua espanhola.
    A alimentação é simples, com ingredientes que, em sua maioria, são obtidos no local. A mandioca brava é a base da alimentação, que vira farinha de mandioca, beiju e tapioca, e é utilizada em alimentos e em bebidas. O peixe é frequente nas refeições, entretanto é escasso nesta região, sendo suficiente apenas para subsistência e pescado. Há fartura de caça, sendo comum encontrar pela manhã os homens retornando de caçadas noturnas com macaco, anta, jacaré, bicho-preguiça, paca, e outros animais, estes servindo de refeição. Como não há geladeira para conservar a carne, ela é consumida no mesmo dia, em refeições compartilhadas com parentes e vizinhos, pois muitas vezes o próximo não teve êxito em sua caçada. O hábito de compartilhar refeições é forte na comunidade, que dispõe inclusive de um local próprio para isto, onde frequentemente se reúnem para tomar chibé (água + farinha), caribé (água + beiju) e café, e também partilhar a comida. Estes eventos, assim como os cultos, são marcados pelo soar de um sino, avisando a todos que é hora de se dirigirem para o "comedor" ou para a igreja. (Fim da 1ª parte)
    Barriga explode? Não é de hoje que milhares de pessoas, em especial crianças, passam fome.
    Disse-me o filho Leandro que muitos indígenas vêm das aldeias trazendo farinhas e outros produtos de venda. O objetivo é comprar arroz, açúcar e outras necessidades. Em vez disso, viciados na cachaça, permanecem dias bebendo e gastando o dinheiro, retornando de mãos vazias, para desespero da família ou aldeia.
    Há dois meses, viajando de ônibus para Florianópolis, eis que embarcou um casal num esboço de rodoviária em Ibirubá, na Rota das Terras. De prosa com o dito ibirubense, narrei ser dali minha origem materna (família Fritsch), e duma tia ter se casado com Schreiner, que ele conheceu. Meio tímido, contou este chasque ao clarear do dia:
    “Que cada filho ganhava meio ovo cozido por refeição. E que os mais velhos, mais famintos, insistiram para que a mãe cozinhasse mais ovos. Tanto insistiram que o pai deles, irritado, disse em alta voz aos dez filhos: - Pode dar mais meio ovo para cada um, nem que explode a barriga deles! 
    Humor: - Malandra é a vaca, que já nasce malhada para não fazer academia.

 

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