O agricultor Bronildo José Wenzel, de 74 anos, realizou um sonho no último final de semana: se formar em Agronomia, na Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS) em Cerro Largo, no Noroeste do Rio Grande do Sul. A tão aguardada formatura como engenheiro agrônomo foi realizada no último sábado (21). "Aquele momento mágico que a gente espera. Eu não sei até onde a gente consegue segurar a emoção", finaliza.
Filho de agricultores, Bronildo tinha o sonho de entrar em uma universidade desde pequeno. O desejo era aprender para colocar o conhecimento em prática no meio rural. Mas os pais não tinham condições financeiras de proporcionar o ensino superior para ele e outros 10 filhos. "Era dali que era a sobrevivência. Foi um período realmente mais difícil, passava a noite no trator", conta. O sonho foi substituído pelo trabalho na agricultura. Mas não ficou de lado. Apenas foi adiado.
"É só correr atrás, essa que é a verdade. As coisas estão colocadas e a pessoa é que tem que se mexer e realizar, arregaçar as mangas. Para a gente ter uma vida plena, é preciso ter sempre um objetivo a ser alcançado, e isso é uma medida salutar para cada pessoa que quer atingir certa idade. Então, quando o objetivo não está mais presente, parece que não adianta mais nada, a pessoa vai se entregando por si só, e isto faz a diferença. Esse objetivo, seja qual for, sempre vale a pena", diz.
Bronildo casou, teve filhos e passou a ter como prioridade proporcionar estudo à família.
"Eu dizia: 'não consegui realizar meu sonho na época, mas vocês vão ter que ir por mim, ir pra frente e tentar o máximo possível, porque essa é a saída'. E realmente foi a melhor saída pra eles", assevera.
Atualmente, um dos filhos tem mestrado e o outro, doutorado. "O pai foi, na verdade, um grande incentivador nosso, tanto meu como do meu irmão, para nos graduarmos, buscarmos o conhecimento", diz o doutor em Engenharia Química Bruno Wenzel.
Retomada do sonho
Depois de formar os filhos, Bronildo resolveu retomar o antigo sonho e começou a estudar para ser aprovado em uma universidade federal. Foi na segunda tentativa que conseguiu nota no Enem para ingressar na UFFS. "Me preparei melhor e, na segunda vez, aí sim, fiquei em 22º lugar na classificação geral. Consegui entrar pela porta da frente na universidade federal", orgulha-se.
Para os professores, ensinar uma pessoa tão experiente é um desafio.
"Estamos acostumados à maioria dos nossos alunos serem recém-saídos do ensino médio, então, você se deparar em sala de aula com um aluno que tem mais idade do você, significa também você tratar uma questão de experiência, você conseguir e ter que pensar propostas de trabalho em sala de aula que aliem essa experiência que este aluno possui, buscar conteúdos que também sejam adequados a uma realidade de diálogo entre gerações", diz o professor Edemar Rota.
Fonte: G1 RS