O boletim climático do trimestre março-abril-maio, elaborado pelos professores da UFFS - Campus Cerro Largo, Anderson Spohr Nedel e Sidinei Zwick Radons apresenta o enfraquecimento do fenômeno La Niña (região do Niño 3.4 com Temperatura da Superfície do Mar (TSM) mais fria que o normal, porém, com diminuição do resfriamento, relacionada a outros meses). A TSM do Oceano Atlântico Sul, por outro lado, tem se mostrado ainda mais aquecida no litoral sul do Rio Grande do Sul e do Uruguai.
As últimas rodadas dos modelos climáticos mantêm a influência da La Niña para todo o trimestre, entretanto, esse fenômeno está perdendo intensidade a cada semana. Segundo a Nacional Oceanic Atmospheric Administration - NOAA – há, ainda, uma probabilidade de 77% de continuidade do fenômeno nos meses de março a maio, com 56% de chance de entrar em um período de neutralidade térmica (normalidade climática) a partir de junho. Embora o “final” da La Niña esteja previsto para o término do outono, as chuvas já devem, lentamente, começar a mudar seu padrão, porém, mantendo-se ainda a irregularidade e má distribuição.
As precipitações no mês de fevereiro foram irregulares e mal distribuídas na região e ficaram abaixo da média nas Missões, na grande maioria dos municípios (Figura 1). Entretanto, em alguns lugares (“pontualmente”), as precipitações até ocorreram de forma bem expressiva, como Roque Gonzales e Giruá, por exemplo. Ressalta-se que tais precipitações variaram muito de intensidade e ocorrência, o que se deve a formações locais, associadas ao calor e a umidade (formações convectivas localizadas).
A estimativa para o trimestre Março-Abril-Maio é ainda ocorrerem precipitações de maneira irregular e mal distribuídas, com ocorrências, por exemplo, de grandes acumulados de chuva em um curto período de tempo. Para março e abril, os modelos estimam chuvas ligeiramente abaixo da média climatológica (que é 140mm e 201mm, respectivamente), e para maio, projetam-se volumes de chuvas mais próximos da normalidade climática (que é de 166mm, considerando a média climatológica INMET 1981-2010 / São Luiz Gonzaga).
Com relação às temperaturas (médias) - Figura 2 - notou-se que o mês de fevereiro foi ligeiramente mais quente que a média (o esperado para o mês é 25ºC), com temperaturas ao longo da tarde alcançando 43ºC na cidade de Porto Xavier, e, em vários municípios, ultrapassando a marca dos 40ºC (São Luiz Gonzaga, Cerro Largo (centro), Roque Gonzales, Guarani das Missões e Caibaté). O valor mínimo de temperatura registrado foi 12ºC, na cidade de Santo Ângelo. Os modelos climáticos estimam, de maneira geral, para o trimestre março, abril e maio, um comportamento de temperatura do ar dentro da normalidade. Para março, as temperaturas devem ficar um pouco mais altas que a média do mês; para abril, a temperatura média mensal deve ficar abaixo da normalidade, e para maio, ficar dentro da normalidade climática. A média das temperaturas (mensais) na região para março é 24ºC, para abril, 21ºC e, para maio, 17ºC (segundo a climatologia INMET/São Luiz Gonzaga/1981-2010).
A condição meteorológica no trimestre é muito importante para finalização da safra dos cultivos de verão, especialmente da cultura da soja no Rio Grande do Sul. No mês de fevereiro, a ocorrência de chuvas foi geralmente abaixo da média e mal distribuídas, tanto no tempo quanto no espaço (Figura 1). Essas chuvas ocorreram de maneira concentrada em alguns dias, ocasionando graves períodos de estiagem em toda a região, ainda que já houve uma melhora em relação ao mês anterior. A cultura do milho (safrinha) apresenta potencial para resultados razoáveis na região, a depender do que acontecerá neste trimestre, apesar do período de estiagem que dificultou a implantação das lavouras.
Em relação à cultura da soja, grande parte da produção já foi comprometida com a deficiência severa que dominou os meses de novembro, dezembro e janeiro. A diminuição da intensidade do fenômeno La Niña e, consequentemente, da estiagem, tem trazido uma discreta recuperação para as lavouras semeadas no final do período, e que ainda podem apresentar potencial para rendimentos razoáveis, caso o retorno das chuvas seja efetivo e duradouro. Entretanto, mesmo nessas lavouras, as condições para uma safra satisfatória já foram comprometidas. Por outro lado, para a operação de colheita, não estão previstas grandes dificuldades, uma vez que as chuvas devem ficar ligeiramente abaixo do padrão.
Recomenda-se que os agricultores mantenham diálogo constante com os profissionais que acompanham o planejamento e a execução de sua produção, visando estabelecer as melhores estratégias para minimizar impactos de possíveis condições meteorológicas adversas.
Fotos: Clima nas Missões e volume de chuvas.
**O boletim climático e interpretação agronômica faz parte do Projeto de Extensão "Difusão da previsão meteorológica e climática a comunidade regional" coordenado pelo professor Anderson Spohr Nedel, com a colaboração do professor Sidinei Zwick Radons.