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08/04/2019 11:52


O Ouro de Manoel Elias, Verdade ou Lenda? Por João Antunes

      Teria sido colocado numa taipa de pedra, numa toca de tatu, em alguma sulapa às margem da restinga ou nas águas do Rio Icamaquã? Esta incerteza, povoando o imaginário das pessoas, permanece até hoje, pois nenhum “caçador de tesouros” conseguiu alcançar esta preciosidade em solo bossoroquense enterrada por esse pioneiro. 
      Manoel Elias Ferreira Antunes, nascido em 1767, era natural de Passo Fundo – RS. Em 1810, solteiro, com 43 anos, adquiriu 52.200 ha (cinqüenta e duas mil e duzentas hectares), no cantão sudoeste compreendendo o Rincão dos Antunes e arredores, quase um terço da área territorial de Bossoroca – RS, que constituiu-se na Fazenda São José Del Rosário onde a posse valeu três vezes mais do que as terras. E foi por este patriarca que constituiu-se a família Antunes aqui na Buena Terra Missioneira.
      Em 14 de janeiro de 1830, casou-se com Manoela Alves Antunes, ela com 18 anos e ele com 63 anos. Era cultura da época “ajeitar” certos casamentos com vista à fusão das fortunas. Nessa época foi contratado um rapaz chamado Justo Ferreira de Moraes, de boa aparência, então com 26 anos, que era um construtor entendido sobre a arte de cercas de pedra, casas, galpões, taipas, mangueiras e trabalhos com madeiras. 
      Conforme o livro: Pioneiros de Bossoroca, do saudoso escritor e historiador Ilvo Jorge Bertin Fialho, “aconteceu o inesperado, pois a jovem patroa sentiu-se atraída pelo construtor”... 
      Nesse livro que eu tenho como uma espécie de preciosidade para as minhas pesquisas segue nesta linha de raciocínio que, em 1835, Manoel Elias não quis envolver-se na Revolução Farroupilha ficando, muitas vezes, acampado nas matas com escravos em pontos estratégicos. Mas mesmo nesse período revolucionário Manoel Elias seguiu progredindo financeiramente aumentando a quantidade de gado e mulas em sua enorme propriedade rural. Na vastidão do bucólico junto à margem do Rio Icamaquã existiam vários  “lambedouros”, que são locais de terra salobra os chamados barreiros, que o gado lambia, pois naquela época não usava-se a cultura do criador dar sal para os animais da pecuária. 
      Um dia Manoel Elias, já com 86 anos, descobriu o romance da esposa, mas não fez nenhum alarde na hora. No primeiro momento possível e de maneira discreta reuniu tudo o que possuía de onças, libras e “patacões”. Colocou tudo numa burra grande (saco de couro) sob a boleia de uma carretinha juntamente com ferramentas. Saiu primeiramente rumo ao fundo do campo em companhia de um escravo cujo nome era João, mas este obviamente não sabia de nada do que havia no saco de couro na carretinha. Num determinado local Manoel Elias deu certa quantia de moedas ao escravo e disse: João é um presente pra “vosmecê” (você) comprar um pala de lã na venda de Antonio José Martins! E enquanto o escravo João foi comprar o pala Manoel Elias seguiu um itinerário desconhecido e enterrou todas as riquezas que trouxera na carretinha. No retorno Manoel Elias, ao chegar à estância, suicidou-se, porque estava triste e magoado com o romance que descobrira entre a esposa e o construtor. Isso ocorreu num final de tarde fria de 17 de julho de 1853. E quando o escravo retornou agasalhado pelo pala, surpreendeu-se e espantado ao ver que estavam velando o seu patrão, contou a sua versão. 
      O casal Manoel Elias e Manoelinha tiveram sete filhos: Antonio, Rafael, Raquel, José Maria, Maria Rita, Mariana e João Ferreira Antunes. Manoel Elias era avô do meu bisavô, ou seja, Manoel Elias era pai de Rafael, que era pai de João Maria, que era pai de Epifânio, que era pai de Inácio que era meu pai. 
Da sede da propriedade que existiu por 120 anos e depois foi demolida só existem os vestígios dos alicerces já tomados pela grama e os restos da grande mangueira de pedra medindo mais de um quarteirão em cada face. Hoje o local da sede da antiga Fazenda São José Del Rosário, no Rincão dos Antunes em Bossoroca, pertence à família do senhor Alceu da Silva Braga (pecuarista e ex-prefeito de São Luiz Gonzaga). Esta propriedade fica cerca de três quilômetros da lendária Casa de Pedras construída em 1830, com propósitos militares e que serviu até como Quartel General na Revolução Farroupilha, mas ela foi a sede da propriedade de João Manoel Xavier Pedroso. A Casa de Pedra e as cercas também de pedras formam um complexo, ou seja, uma espécie de monumento histórico local, que ainda continuam preservados.  A casa continua sendo habitada e pertence atualmente ao senhor Renato Antunes Ferreira. 
      Mas voltando-me à questão do enterro das riquezas de Manoel Elias Ferreira Antunes sabe-se que muitos e várias vezes, às escondidas, em noites de lua clara, levando detector de metal, movidos pelo imaginário, pretensas imaginações, com ($) nos olhos, sonhos e anseios de riqueza na mente e ferramentas vasculharam as taipas de pedras, os pés de árvores centenárias, pontos de referências, sustentam que tiveram visões, contaram lorotas, espalharam superstições, palmilharam terrenos, fizeram algumas escavações, porém ninguém até hoje teve a sorte de achar essa fortuna que dorme no ventre da terra num local oculto. Assim sendo persiste a dúvida: o enterro, é verdade ou lenda? 
Facebook = João Carlos Oliveira Antunes
Bossoroca (55) 9999-42970 joaoantunes10@terra.com.br 
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