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02/03/2018 10:16


Otávio Reichert - INTEGRANDO 03/03/2018

Causos: Na cultura destacam-se os causos de galpão. Reverenciando a prosa campeira, segue abaixo, do livro Para Crescer, deste poeta...

O Tufão: O dito cujo se achegou no Recanto do Sabiá, à beira estrada do coração missioneiro, assim no lusco-fusco, e pediu pouso. Num repente largou a esmo: - É dura a vida de peão: levanta cedo, dorme tarde e o colchão é duro!
Era sábado, depois da boia, na noite grande. Os poetas abancados na prosa. Foi quando o Dirceu deu por reparar no matuto, e buscou nas ideias donde conhecia aquele peão mestiço, lembrou tê-lo visto numa fazenda lindeira, donde sumira, e ter sido motivo de chacotas campo afora. Fazendo-se por desentendido, o Dirceu lascou de revesgueio:
- Mas me conte, companheiro!? Como foi mesmo aquele causo, que ouvi dizer, de um peão ter derrubado um galpãozito pra fazer lenha pro borralho? Na fazenda do Seu Müller, não foi?
O índio meio que se assustou, pediu outro gole de canha, e quando acharam de não haver resposta, deu início a prosa. Até o urutau silenciou para ouvir o sucedido.
- Pois conto, por mais que me doa! Vê se tem cabimento a alcunha que me impuseram! Pra entende o causo, “perciso começá bem dantes, se é que posso...
“- Minha mãe era índia, e solita morava naquele fundão de campo, esse que o senhor disse inda agorinha. Terras do avô, que pra ela ficaram quando ele se finou. Pois o alemão comprou, mas deixou que lá ficasse. Foi lá que nasci e me fiz moço... Dia mais a mãezinha adoeceu dos peito, assim dentro, e antes de morrê segredô de’u ser filho do patrão...
Com a mãe enterrada ali perto, ali fiquei, com as função de cuidá o gado nos grotão.
O senhor conheceu aquela atafona d’onde eu morava? Só dava pra tapá o vento.
Ô noite braba! O tempo se armou pra chuva, assim pra longe, num bafume esquisito. Tinha vortado da campereada e mateava solito... Minto, pois o cusco tava comigo.
Foi depois do mate o furdunço. No que larguei a cambona com pingo d’água pro café que o vento rodopiô feito vestido de muié nas dança. E já se fez a poerama com barrulho dos galho quebrando. Pro vento não espaiá as brasa, desganchei o poncho de coro e atirei por riba do tripé, no tempinho da ventania ir levando tudo por diante.
Foi aí que atinei de entrar n’água no sangão, pra modo de me protege dalgum pau de lenha. Pois entrei com cuia e tudo, fazendo bolhas nas bombachas.
O Bisca, coitado, meio atordoado, latiu e se enfiou pra baixo duns sarandis, donde me enfiei também, da água pelos peito. As matajuntas foram saltando do ranchito, caindo com o gaiaredo...
Coisa de cinco minutos ou pouco mais. No revorteio d’água, de fazê maré nas barranca, com uma mão me agarrei no sarandizal, e confesso, a cuia n’outra mão.
Como veio foi-se embora. No relampejo vi que o poncho tava emborcado boiando. Tranquei a cuia numa forquia e dei de pegá o poncho.
Me aduvide quem quis é: a cambona e o tripé tavam dentro, com brasedo grudado no poncho, que me queimaram os dedo pra tirá. Encurtando o causo, só os poste ficaram de pé, mais um ripedo e costaneiras.
Como o patrão morava pra mais de légua, depois de voltá as calmaria, estaquiei o poncho chamuscado, que teiado não tinha mais...
Por mode das bombacha moiada, pra me secá, assoprei umas brasa perdida, ajeitei a cambona pro mate que refiz, e assim passei a noite em claro, repondo paus de lenha retorcida. Pobre do cusco, tremia mais de medo que de frio.  
Mal tinha clareado o patrão se veio mais dois peão. Esses que deram pro falatório, que o patrão nunca foi disso. Saíram contando que desmanchei o rancho pra fazê lenha, de vadio que era.
Saí quieto de lá, mas com vontade inté de matá! Essa história ficou entalada aqui dentro. Mas não há de ser nada, que deus é mais que esses quera falador, seu!

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Humor: Ao serem libertadas, a mulher virou-se para a amiga de cela dos vinte anos de prisão, e disse: - Depois eu te ligo pra gente continuar aquele assunto!

10 de março: Data de retorno de Integrando ao Caderno T do jornal A tribuna. 

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