Otavio Reichert, em visita à Bossoroca ficou sabendo de uma das histórias missioneiras mais comoventes desta região. Acadêmico, escritor, historiador autodidata e tradicionalista se interessou pelo assunto e trouxe ao Portal das Missões esta curiosidade, pois este assunto interessa a todos, como cultura, educação, turismo, cidadania.
Saiba informações e localização do Cemitério dos Cativos.
Pajada sobre o Cemitério dos Cativos e a belesa de descrever em versos uma história, propagar nossa cultura e viajar por tempo e espaço embalado por verços, coisas que só a arte e a escrita podem fazer.
Vídeo sobre o Cemitério dos Cativos.
Antes da alforria dos escravos no Brasil, era ilegal ter um cemitério com membros das duas etnias, Bossoroca foi a primeira cidade a agir de forma humana e ilegal que se saiba em todo o Rio Grande do Sul.
Cemitério dos Cativos
Dos tempos da escravatura, pros lados da bossoroca,
Há uma história que choca, e até causa comoção.
Se foi destino, ou razão; que esta cruel barbaridade
Sirva para a humanidade repensar sua existência.
O amor vença a prepotência – sejamos todos iguais.
Vai sem delongas, no mais, este adágio da querência.
Escravos fazendo taipa, muros de pedra empilhada.
Enquanto isto, a criançada, brincava nos parapeitos.
Unidos, sem preconceitos, cor da noite e alva cor.
Pega-pega ao corredor, ruiu-se uma pedreira,
E um guri correndo à beira foi ferido mortalmente.
Foi esta morte inocente que iniciou a desgraceira.
O fazendeiro irritado sentenciou em tom de arranco:
“não se paga por um branco!” Era o filho da vizinha!
E com dureza mesquinha, como se fossem culpados,
Mandou - fossem degolados – três negros daquela ala.
Na crueldade, sem iguala, uma cabeça decepada
Sobre um poste foi cravada bem defronte a senzala.
O coronel, prepotente, ao levar o gurizinho,
Perguntou pelo vizinho, porém este estava ausente.
Disse então, mais imponente, que a justiça fora feita.
Que os culpados da desfeita tinham sido executados.
O exemplo fora dado – que soubesse todo o gueto -
Não brincar branco com preto, evitando os maus olhados.
Ira e mágoas se juntaram na senzala em desbonança.
Num instinto de vingança juraram o patrão de morte.
Esperaram dia e sorte! Foi na tarde, em mormaceira,
O patrão sob a figueira, numa rede, sem costado.
Capataz foi amarrado – e a soco, paus e pedradas,
Novas mãos ensanguentadas no episódio mal fadado.
José Fugante, o padrasto, ao voltar da carreteada,
Falou triste, voz cansada: “não se repara um erro
Cometendo outro erro”. Chorando a perda do enteado,
Pediu, num ato sagrado: partilhar o mesmo chão!
Contrariou as leis de então! Junto aos três deitou seu manto!
Hoje jaz, num campo santo, seu pedido de perdão!
Pajada escrita por Otavio Reichert.
Baseado em fato verídico (1840), em Igrejinha, município de Bossoroca, RS