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01/06/2018 09:13


PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES por Karin Schmidt

     Entrevista com um jardineiro da vida, ALOISIO RYCERZ, sobre a arte de semear amor.
Quem passa pela BR 392, no trecho que inicia no trevo do município de Guarani das Missões, região das Missões/RS, e segue em direção a Santo Ângelo, por mais distraído que esteja, não deixa de observar as belas árvores nativas, tão frondosas, que formam um verdadeiro túnel verde. Nem de se encantar com as exuberantes flores que dão um colorido especial, além de um pomar com árvores frutíferas, nos 60 metros que vai do trevo até o viaduto do trem.
O que poucas pessoas sabem é que toda essa beleza natural se deve ao trabalho, totalmente voluntário, de uma pessoa muito especial, que cultiva em seu coração o amor pela natureza e pelo próximo. O senhor Aloisio Rycerz, que começou esse desafio há 12 anos. Todas as flores estão plantadas em carreirinha, com muito capricho, pois ele sempre fez questão de medir a distância entre elas, e também fez murinhos de pedra para proteger as florzinhas mais sensíveis.
Hoje, com 78 anos de idade (no dia 16 de julho vai completar 79), sem condições de trabalhar por causa de uma cirurgia no coração, seu Aloisio tem uma preocupação: deixar herdeiros para continuar seu trabalho, que é totalmente voluntário e custeado por ele. “Tem uma pessoa que me ajuda, ele já pegou o meu jeito e cuida bem de tudo. Só que, como não posso mais dirigir e dependo de alguém pra levar, não tenho como ir diariamente para acompanhar de perto. Eu gostaria muito de ter dinheiro para contratar mais um ajudante”, desabafa.
São mais de 50 tipos de flores que ele plantou ao longo destes 12 anos, que florescem em todas es estações, além do pomar com frutas silvestres. Caminhando com muita dificuldade, mesmo com a sua bengala, seu Aloisio, acompanhado de sua querida esposa, a dona Olinda, atendeu ao meu pedido e foi comigo mostrar suas relíquias. Assim que chegamos, ele foi logo apontando para a primeira flor que plantou. A Três Marias na cor rosa, que cresceu lindamente e alcançou a mesma altura de outras árvores.
Ele contou, com muita tristeza, que algumas pessoas ainda continuam jogando lixo no local, sem respeitar quem cuida dali. E faz um pedido especial aos motoristas mais conscienciosos para que, ao invés de jogar lixo, seja onde for, joguem uma semente e ajudem a manter viva a natureza.
Conhecer o senhor, seu Aloisio, para mim foi um daqueles raros momentos que a gente não consegue explicar, apenas sente e agradece a Deus. Aqueles 60 metros de vida, que o senhor começou a plantar já tem 12 anos, jamais se perderão no tempo. E de tudo o que senhor me disse, isso foi o que mais me marcou: “em vez de cultivar sentimentos que machucam as pessoas, os espinhos, todos deveriam plantar flores em seu caminho. A vida passa bem depressa, mas as flores e os bons sentimentos ficam”.
QUANDO O SENHOR COMEÇOU A PLANTAR FLORES E FRUTAS NATIVAS?
Aloisio - Em agosto vai completar 12 anos. Fiz a minha parte. Lá tem jardim, pomar e parque. Porque o mato é bem limpinho.
O QUE LHE MOTIVOU A FAZER ISSO?
Aloisio - Eu queria fazer algo diferente. No local só tinha um matagal. Daí comecei a plantar no Dia de Fazer a Diferença. Olinda, minha esposa, foi comigo no primeiro dia. A primeira flor que plantamos foi a Três Marias.
QUANTO TEMPO O SENHOR LEVOU PRA LIMPAR O LUGAR?
Aloisio- Quatro anos. As unhas de gato tinham uns 15 a 20 metros de altura, era um matagal sem fim. Daí, na época eu cortava com a foice e fazia fogueira. Os motoristas passavam na estrada e buzinavam. Era bip, bip o tempo todo, mas eu nem ligava. Fazia de conta que nem era comigo. Mesmo antes de terminar de limpar, eu já plantava algumas flores.
POR SER NA BR, NUNCA TEVE NENHUM TIPO DE PROBLEMA? 
Aloisio – Ah, isso teve, e o que as pessoas me assustaram, não foi pouco. Um dia passou um dos responsáveis pela rodovia, vindo de Porto Alegre, me viu lá trabalhando, encostou o carro e eu logo perguntei: estou fazendo algo de errado, por estar plantando essas mudas na BR? E ele respondeu: não, está perfeito. Vi que ficou admirado com o cuidado que a gente tinha, em não estragar as árvores nativas que tinham no lugar.
MAS QUEM PAGA AS MUDAS E AS DESPESAS DE MANUTENÇÃO?
Aloisio - Eu que continuo pagando, desde o primeiro dia e isso já tem mais de 12 anos. Desde 2016, por causa da minha saúde, porque eu tive uma parada cardíaca e coloquei marcapasso, tenho que me cuidar. Não posso mais nem dirigir pra ir lá diariamente, como sempre fiz (diz com muita tristeza).
COMO O SENHOR FAZ PARA QUE TUDO CONTINUE LINDO E TÃO BEM CUIDADO?
Aloisio - Tem uma pessoa que eu pago pra que continue trabalhando lá, todos os dias. Aliás, sempre paguei ajudantes, desde que comecei. Ele já pegou o meu jeito de cuidar e fico tranquilo. Mas sinto não poder ir com mais frequência, pois dependo de alguém pra me levar. Mas sempre que posso vou lá igual.
O SENHOR ACHA QUE MAIS PESSOAS DEVERIAM PLANTAR FLORES POR OUTROS LUGARES?
Aloisio – Deviam sim, inclusive em outras entradas das cidades. Plantar flores, árvores e estar perto da natureza faz a gente sentir mais alegria de viver. Parece que o coração bate mais forte. Meu sentimento é que muitas pessoas jogavam e ainda jogam lixo por lá. Ao invés de ajudar a plantar flores, jogavam lixo. Isso dói na gente. Eu sempre digo: em vez de jogar lixo na natureza, jogue uma semente.
PARA O SENHOR O QUE SIGNIFICA PLANTAR FLORES?
Aloisio – Plantar flores e frutas é uma coisa adorável, que alegra o coração da gente. Em vez de cultivar sentimentos que machucam as pessoas, os espinhos, todos deveriam plantar flores em seu caminho. A vida passa bem depressa, mas as flores e os bons sentimentos ficam.
SEU ALOSIO, ME CONTE UMA COISA, ASSIM COMO EU, O SENHOR TAMBÉM CONVERSA COM AS PLANTAS?
Aloisio – Converso e muito. Acho que elas sempre sentiram o meu amor e por isso brotavam tão lindas. Enquanto eu viver, vou seguir cuidando e conversando com as plantas.
QUANDO O SENHOR COMEÇOU A PLANTAR FLORES E FRUTAS IMAGINOU QUE FARIA ISSO POR TANTO TEMPO?
Aloisio - Não, de jeito nenhum. Eu pensava assim: vou plantar por um tempinho, e qualquer hora dessas eu largo. Dois anos atrás fiquei dois meses internado no hospital por causa da minha cirurgia, quando tive que colocar o marcapasso, sedado por todo esse tempo. Quando acordei, e até hoje, tenho muito esquecimento. Mas sempre me lembro das flores. Então, só posso acreditar que isso faz bem pro meu coração. 
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Karin Schmidt
Jornalista e Documentarista
KSS Comunicação

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