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21/05/2018 12:00


MISSÃO: ILUMINAR O CAMINHO DOS MISSIONEIROS por Karin Schmidt

O agricultor e o empreendedor é que carregam o Brasil nas costas. Mesmo com tudo o que acontece no governo e com a carga tributária, que é um horror, o povo brasileiro ainda consegue crescer e levar o país pra frente. Esta é a avaliação do pecuarista, empresário e presidente, há 31 anos, da Cooperativa de Distribuição de Energia da Região das Missões – Cermissões, fundada em 1961, Diamantino Marques dos Santos.
No ano de 1986, em virtude da crise que assolava a cooperativa, localizada em Caibaté, região das Missões do Rio Grande do Sul, ninguém queria assumir a presidência da empresa. Com a pretensão de ficar na função por apenas um mandato, ele aceitou o desafio. Desde então, o trabalho foi dando excelentes resultados.
Hoje, aos 78 anos de idade, Diamantino continua firme no comando da Cermissões, que abrange 26 municípios do Noroeste do Estado, possui 29.510 associados, 207 funcionários e tem duas subestações (São Miguel das Missões e Santo Antônio das Missões).
Nesta entrevista, Diamantino faz um breve relato sobre erros, acertos e estratégias que marcam a trajetória de recuperação da Cermissões, que é tricampeã brasileira como vencedora do prêmio Índice Aneel de Satisfação do Consumidor (IASC), como melhor Cooperativa Distribuidora de Energia do Brasil. “Isso se deve ao bom atendimento, que desde que entrei aqui, elegi como prioridade aos associados. Nossos funcionários são muito bem treinados e dispõem de todas as ferramentas necessárias, incluindo caminhonete tracionada”, destaca o dirigente da Cermissões.
Ele exemplificou o temporal que assolou a região das Missões, em outubro de 2017, como o maior na história da cooperativa, quando mais de sete mil propriedades, localizadas em diferentes municípios, amanheceram sem luz. Porém, em apenas dois dias e meio, todas as localidades afetadas pelas fortes chuvas já estavam com energia novamente.
Entre uma e outra pergunta, ele sempre evidenciava, com muito entusiasmo, o quanto valoriza todos os funcionários, contextualizando que um dos lemas da empresa é incentivar e custear parte dos estudos. A Cermissões paga o transporte e 50% da faculdade a quem quiser estudar para fins da empresa. Ou seja, cursar nível superior e seguir trabalhando na cooperativa. “Um destes exemplos é a minha coordenadora financeira, Tânia Rhoden, que entrou aqui pela porta dos fundos, trabalhando nos serviços de limpeza e na cozinha. Hoje, ela é o meu braço direito nas finanças da cooperativa”, conta sorrindo e expressando muito orgulho.
Mas, também entre uma e outra pergunta, Diamantino, que me recebeu com muita cordialidade em seu gabinete, na sede da cooperativa, em Caibaté, fazia questão de frisar que “todos os funcionários são bem remunerados, têm plano de saúde, auxílio à dentista e são meus amigos, até o momento em que aprontem alguma coisa. Já adverti muitos deles, porque isso tudo aqui é dos associados e não meu. Por isso, tem que ter respeito. Mas, o pessoal me conhece muito bem, e sabe que se andar na linha é meu amigo”.
No decorrer desta entrevista será possível conhecer um pouco mais sobre a história do dirigente da Cermissões, que considera primordial a seriedade e a humildade para se ter êxito, seja qual for área de atuação; além de compreender melhor o sucesso, credibilidade e constante crescimento da Cooperativa de Distribuição de Energia da Região das Missões, sempre impulsionando o desenvolvimento missioneiro. Assim como eu, acredito que você também vai constatar que, de fato, a CERMISSÕES é a LUZ DAS MISSÕES, mas quem mantém a chama sempre acesa, é Diamantino Marques dos Santos e sua valorosa equipe.
EMPREENDEDOR E PECUARISTA
Diamantino Marques dos Santos – Minha origem é de pecuarista. Meu avô, minha avó e meu pai eram pecuaristas. Em 1986, meu pai já havia falecido e as fazendas foram repartidas, inventariadas. Mais tarde, o meu filho, Edmauro dos Santos, já adulto, assumiu o compromisso da agropecuária e da lavoura. Ele administra, planta, cuida do gado, e eu cuido daqui. Por isso tive condições de entrar no cooperativismo, só que minha profissão não parou até hoje. Nunca me achei maior que ninguém, mas gosto de gente séria e humilde.
SITUAÇÃO DA CERMISSÕES 
Diamantino Marques dos Santos – Na época (1986), a Cermissões estava sob intervenção federal e vencendo o prazo de dez meses, estipulado pelo interventor. Isso foi no mesmo período em que também entrou em decadência a Cotrisa e a Coopatrigo. Graças a Deus, duas delas se ergueram novamente: a Cermissões e a Coopatrigo. A crise era tanta, que vendedor só chegava aqui na cooperativa pra cobrar. Eram muitas dívidas, as redes caindo de tão podres, pois eram de pura madeira, não tinha crédito algum. Era uma situação muito difícil, basta dizer que a intervenção foi federal.
PRESIDÊNCIA DA COOPERATIVA
Diamantino Marques dos Santos - A bagunça era tanta que ninguém queria assumir a direção. Nesta época, eu estava como superintendente da Coopatrigo de São Luiz Gonzaga, tentando ajudar a levantar lá também. E uma comitiva de Caibaté, liderada pelo prefeito da época, foi até São Luiz Gonzaga.Depois de muita conversa comigo e com o então presidente da Coopatrigo, me trouxeram de volta, com o argumento de que eu era de Caibaté e não de São Luiz Gonzaga. No meu entendimento, eu viria pra cá pra quebrar um galho, pois iria exercer apenas um mandato, que naquele tempo era de três anos, mas atualmente são quatro.
ESTRATÉGIA DE RECUPERAÇÃO 
Diamantino Marques dos Santos - Logo comecei a me dar bem, me entrosei no assunto, me baseei em pessoas que sabiam muito. Eu nunca deixo de falar na cooperativa de Taquari, presidida na época pelo doutor Frederico Bavaresco. Ele era professor de Agronomia da PUC, estava aposentado e criou essa cooperativa lá. Como eu era leigo no assunto, me encostei nele, pois como eu já disse, minha origem é de pecuarista. Me espelhei muito nesse homem. Viajei muito com ele, buscando experiência. Em 1994, viajamos entre dezoito pessoas de cooperativas aqui da região para os Estados Unidos, onde ficamos por duas semanas buscando experiências. E o incentivador sempre foi o professor Frederico. Sempre digo: se não é pra aprender com quem sabe mais, não precisariam existir professores. Por isso, sempre valorizei quem sabe mais do que eu, pois é com eles que aprendo.
PROJETO NOTÁVEL 
Diamantino Marques dos Santos – Eu viajava muito pro Norte do país, na casa de um irmão que tinha fazenda por lá. No caminho, eu via que de Santa Catarina em diante só tinham postes de concreto. Aí o que fiz? Montei uma fábrica de postes. Em dois anos que eu estava na presidência da Cermissões, montamos a nossa fábrica pra fazer postes de concreto e esquecer da madeira. Me dei muito bem. Hoje estamos com a fábrica fechada, mas não desmontada. Tá assim porque saturamos, pois trocamos todos os postes de madeira por concreto. Estamos próximos a 70 mil postes de concreto.
ERRANDO E APRENDENDO
Diamantino Marques dos Santos - Na época, não existia esse maquinário que existe hoje, dragas, caminhões. Era tudo muito difícil. E eu me agarrei com o governo do Estado. Peguei duas máquinas pesadas do Daer e consegui fazer minha obra, mas depois tive que reformar as máquinas. Isso não estava nos meus planos. Negociei com os operadores do Daer que vieram pra cá, pagávamos horas extras, além do salário deles por um período de três meses. Só que o maquinário não andava. Se eu tivesse comprado novo sairia mais barato. Mas como as dificuldades eram tantas, naquelas circunstâncias achei uma maravilha arrumar emprestado. As máquinas começaram a quebrar e me custou muito caro, mas foi um importante aprendizado. Hoje eu faria diferente, mas os tempos são outros. Aliás, o que não mudou de 20 anos pra cá?
TRICAMPEÃ NACIONAL EM BOM ATENDIMENTO
Diamantino Marques dos Santos - A cooperativa evoluiu tanto que chegamos a ser tricampeã brasileira no prêmio Índice Aneel de Satisfação do Consumidor (IASC), como melhor Cooperativa Distribuidora de Energia do Brasil, entre outras muitas premiações com que já fomos homenageados. Isso se deve ao bom atendimento, que elegi desde que entrei aqui, como prioridade aos associados. Pessoal muito bem treinado. O funcionário não pode trabalhar mal de ferramentas. Que no nosso caso, é um carro bom, caminhonete tracionada. Quando entrei aqui, o auto que tinha pra eu andar era um Gol velho e amassado. E as caminhonetes dos funcionários eram uma vergonha, pois passavam mais na oficina do que andando. Desde 2015 estamos com a frota toda renovada, com 46 carros. Nosso atendimento é exemplar em todo o Brasil.
PLANTÃO DIFERENTE
Diamantino Marques dos Santos - Eu criei um plantão diferente. Tem três profissionais treinados, que trabalham com caminhão tracionado e assumem às 16 horas e vão até o horário que for preciso. Mas em caso de temporal, aí todos são acionados, pois nosso sistema de comunicação por rádio é muito eficaz. Temos em torno de 100 homens treinados e nessas horas, eles abandonam outros serviços. Inclusive técnicos aqui de dentro pegam a caminhonete e saem pra rua ajudar. Tudo isso porque a prioridade é que o associado tem que voltar a ter luz o mais rápido possível. Exemplo disso, foi em outubro do ano passado, quando ocorreu o maior temporal na região das Missões, em toda a história da cooperativa. Atendemos 26 municípios e todos foram atingidos. Sete mil propriedades amanheceram sem luz. Mas em apenas dois dias e meio, todas as localidades afetadas estavam novamente com energia. A nossa subestação em São Miguel das Missões tem três anos, e na ocasião caíram 64 postes contínuos, na saída da subestação.
DO CAMPO AO MUNDO VIRTUAL
Diamantino Marques dos Santos - Não tem comparação da época que comecei, porque o mundo mudou demais. O empreendedor, o agricultor, o homem de trabalho, hoje estão carregando o Brasil nas Costas. Com tudo o que acontece no governo, o povo brasileiro está sofrendo com a carga tributária, que é um horror, e ainda assim consegue crescer e levar o Brasil pra frente. Quando entrei aqui não tinha nenhum computador. O primeiro computador na área de cooperativa do Estado, hoje são 15 cooperativas fortes, entrou em Taquari, justamente na cooperativa do meu amigo e professor Frederico. Fomos daqui e levei um funcionário pra conhecermos e ver que bicho era aquele, o tal de computador. O talão de luz aqui era feito na caneta. Tinha gente que tinha calo nas mãos. Me criei na colônia e se precisasse mandar um recado pro vizinho, o pai nos mandava montar no cavalo e ir até lá.
CARNE DE PESCOÇO E FILÉ
Diamantino Marques dos Santos - Na extensão de redes, o que sobrou para as cooperativas foi a ‘carne de pescoço’. Não só pra nós, pra todas. Porque as estatais só queriam a cidade, e querem até hoje, que é onde está o 'filé'. Ou seja, todas cooperativas assumiram os piores lugares: mais despesas e menos lucros. Quando a CEE vendeu, na nossa área foi feita muita pressão, mas conseguimos vencer e foi feito um mapeamento. A gente se respeita dentro deste mapa, que foi feito na Universidade de Santa Maria. No entanto, em matéria de atendimento, principalmente na área rural, quem está do outro lado da linha quer passar pra nós. Em outras localidades, por causa de temporais, como São Borja que não pertence a nossa área de atendimento, teve pessoas que ficaram duas semanas sem energia. Mas em nossa cooperativa isso não acontece.
RESPEITO ENTRE FUNCIONÁRIOS E DIREÇÃO
Diamantino Marques dos Santos – A seriedade e o respeito devem estar presentes em toda a administração de uma empresa. Diariamente, eu chego na cooperativa às 7h30 da manhã. Antes dos funcionários, que iniciam o trabalho às 7h45min. Faço isso há 31 anos, desde que entrei aqui, a não ser que eu esteja viajando. Nunca atrasei o salário dos funcionários, mesmo na época de crise que enfrentei quando entrei aqui, em 1986, porque isso também é primordial respeitar os funcionários. Todos eles são meus amigos, até o momento em que aprontem alguma coisa. Já adverti muitos funcionários, porque isso aqui é dos associados e não meu, por isso tem que ter respeito. Mas, o pessoal me conhece e sabe que se andar na linha é meu amigo” (Diz com um sorriso amigável e generoso). Sempre trabalhei com gente séria, como os meus conselheiros, cujas deliberações passam por eles antes de qualquer decisão.
INVESTIMENTO NA EDUCAÇÃO
Diamantino Marques dos Santos - Sempre valorizamos o funcionário. Pagamos o transporte e 50% da faculdade para quem quiser estudar afins da empresa. Estudar e continuar trabalhando aqui. Um destes exemplos, é a minha coordenadora financeira, Tânia Rhoden, que entrou aqui trabalhando nos serviços de limpeza e na cozinha. Hoje, ela é o meu braço direito nas finanças da cooperativa. Ela entrou pela cozinha, pela porta dos fundos. Ela queria estudar, eu incentivei e ela fez Finanças e pós-graduação. Aqui ninguém se queixa de salário, porque o salário da Cermissões é um dos melhores da região. Além disso, tem plano de saúde, auxílio à Dentista e os funcionários, todos eles, sem nenhuma exceção, têm participação nos resultados, de acordo com o salário.
EMPREENDEDORISMO MISSIONEIRO
Diamantino Marques dos Santos - O empreendedorismo do povo missioneiro, hoje é muito forte. Em nossa região, os pontos fortes são agricultura e pecuária. Tecnicamente, com o apoio das cooperativas e das empresas, o povo evoluiu muito. Desde o maquinário, com máquinas de precisão plantando com categoria. Na área de agronomia, a Coopatrigo (em São Luiz Gonzaga) deve ter mais de dez agrônomos ajudando os associados. Hoje o lavoureiro não é mais leigo, pois ele planta assessorado dos agrônomos que vão a campo, e isso soma muito na produção. Me recordo que 20 anos atrás, quem tirava 35 sacos de soja ficava feliz da vida. E hoje chegam a 50, 60 e 70 sacos. A média da Coopatrigo, deu um pouco mais de 50, e isso é muito bom.
O CAMPO VIVE SEM A CIDADE, MAS A CIDADE NÃO VIVE SEM O CAMPO
Diamantino Marques dos Santos - As pessoas devem seguir investindo e empreendendo também na agricultura. O povo está fazendo produzir muito mais na mesma área que ele tinha, pela tecnologia de que dispõe hoje. Assim como na agropecuária, a qualidade genética hoje é outra, muito mais avançada. É o agricultura que carrega tudo nas costas. Qual é a empresa que não depende do agricultor, que vem comprar deles? Como não temos petróleo aqui, a nossa chave econômica é agricultura e pecuária. Não somente na região das Missões, mas é preciso valorizar o trabalho do agricultor, pois tudo vem da terra. É aquele velho ditado: o campo vive sem a cidade, mas a cidade não vive sem o campo! 
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Karin Schmidt
Jornalista e Documentarista
KSS Comunicação

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