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13/04/2020 09:00


Padre PAULO ARIPE e a MISSA CRIOULA, por João Antunes

            A Missa Crioula foi criada pelo padre Paulo Murab Aripe, natural de Uruguaiana – RS, conhecido e autodenominado Padre Potrilho, que nasceu em 11 de junho de 1936 e faleceu em 10 de maio de 2008 aos 71 anos.  
            A Igreja é a Assembléia do povo de Deus. O céu é uma multidão onde não há lugar para o individualismo. E aqui neste orbe terráqueo a Missa que é a celebração da eucaristia, ou seja, sacrifício do corpo e do sangue de Jesus Cristo, feita no altar pelo ministério de um sacerdote, é um sinal da unidade entre as pessoas que receberam o batismo, que se alimentam do mesmo pão e cultivam a mesma fé formando um só “corpo” muito bem sintetizado pelo apóstolo São Paulo quando ele disse: Agora não há mais judeus, nem gregos, nem escravos, nem livres, nem homem, nem mulher. Pois todos vós sois um só em Cristo Jesus. (Gl 3, 28). 
            A história do Brasil, que é o maior país católico do mundo, mostra que a primeira Missa aqui celebrada pelo frade e bispo português Henrique de Coimbra aconteceu no dia 26 de abril de 1500, no local chamado de praia da Coroa Vermelha, numa espécie de banco de corais, em Santa Cruz Cabrália, no litoral sul da Bahia. 
            Com o Concílio Vaticano II, convocado no dia 25 de dezembro de 1961, pelo Papa João XXIII, foi permitido a tradução e adaptação da antiga liturgia em latim para outras linguagens nacionais e regionais o que, na verdade, ficou mais interessante.
            Por outro lado, a criação do Movimento Tradicionalista Gaúcho, formado pelo “Grupo dos Oito”, ou seja, por Antonio João de Sá Siqueira, Fernando Machado Vieira, João Machado Vieira, Cilço Campos, Ciro Dias da Costa, Orlando Jorge Degrazzia, Cyro Dutra Ferreira e João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes este que, na verdade foi e é o seu líder maior, é um movimento que dedica-se à preservação, resgate e desenvolvimento da cultura deste estado sulino, por entender que o tradicionalismo é um organismo social de natureza nativista, cívica, cultural, literária, artística e folclórica, trouxe uma forte influência na vida das pessoas e, indubitavelmente, a própria questão da Missa sofreu novas alterações e adaptações na criatividade do padre Paulo Aripe com a chamada Missa Crioula, que, como sabemos, tornou-se possível graças à abertura do Concílio Vaticano II,  nada mais é do que um ritual católico com adaptações à linguagem, vestimenta, canções, ritmos, estilo e simbologia tradicionalista gaúcha sem perder o verdadeiro sentido espiritual e religioso que alimenta a missa tradicional, apenas com características particulares da cultura local.
            Então em 1967, estes dois padres gaúchos, Paulo Aripe e Amadeu Gomes Canelas pediram autorização ao Bispo de Porto Alegre, Dom Vicente Scherer e ao Vaticano quando, nessa época, o Papa era Paulo VI, para a celebração da Missa Crioula envolvendo orações próprias, preces e cantos, tudo vinculado à liturgia campeira, obviamente com símbolos da campanha e do campo e dos usos e costumes do povo interiorano gaúcho. 
            Nesse nosso linguajar típico dos Pampas, na Missa Crioula, Jesus Cristo passou a ser chamado de “Divino Tropeiro” e Nossa Senhora é chamada de “Primeira prenda do Céu”, Deus é chamado de “Pai Celeste” e o Espírito Santo de “Divino Candeeiro”.
A Missa Crioula segue basicamente esta seqüência: abertura, canto inicial, canto penitencial, canto de aclamação, canto do credo, canto do ofertório, resposta pampeana das preces, santo, pai nosso, cordeiro de Deus, comunhão, canto final. 
            É lindo e emocionante na Missa Crioula, verdadeira ligação entre a Igreja Católica e a cultura gaúcha, (e momento sagrado de celebrar a vida do povo e instrumento de evangelização) além de todos os símbolos, saber que as pessoas depõe suas armas, que os lenços vermelho (Maragato) e branco (Chimango) vêm entrelaçados num sinal de que devemos viver em paz e na comunhão fraterna. 
            Mais tarde o padre Paulo Aripe também adaptou o batizado e o casamento à linguagem gauchesca. 
            Neste planeta Terra, de acordo com as estimativas, já passaram cento e sete bilhões de pessoas. Hoje a humanidade atual é composta por aproximadamente sete bilhões e duzentos milhões de pessoas. No Brasil somos aproximadamente duzentos e oito milhões de habitantes e destes em torno de cento e vinte milhões são católicos e dentro desta parcela tem um percentual que é gaúcho e vive e admira a Missa Crioula. 
            Há quem conteste esse tipo de Missa Crioula sob alegação bizarrice litúrgica dentre outras coisas e que trata-se de descaracterização do rito romano, mas eu, na minha concepção, acredito que a Missa Crioula é uma forma do povo católico gaúcho estabelecer um elo com as coisas do Plano Alto valorizando os nossos usos e costumes, pois se este tipo de evento religioso não altera a espinha dorsal da Missa tradicional, então ficou mais interessante esse enriquecimento com as tradições próprias da nossa cultura sem ferir ou prejudicar as normas litúrgicas gerais estabelecidas pelo Ministério da Igreja. 
            Ora, é muito melhor ver as pessoas presentes à Missa Crioula e valorizando-a em consonância com uma vida regrada na fraternidade do que ver as pessoas atéias e sem um norte religioso, pois a Missa é sempre mais um momento dos seguidores de Jesus de Nazaré ganharem mais estímulo e, pela fé, viver os ensinamentos de amor, buscar a paz, se ajudar mutuamente, colaborar para com os necessitados, acolher e viver na comunidade o espírito fraterno, praticar a justiça e o bom senso, e viver a boa Nova do Reino de Deus e, por isso, eu bendigo o apostolado, a criatividade e o rastro do padre Paulo Aripe, hoje de saudosa memória, que a meu ver deixou esse legado bonito e interessante para vivermos e cultuarmos que é a Missa Crioula. 
Site: João Antunes poeta, historiador e compositor 
Facebook = João Carlos Oliveira Antunes
Bossoroca (55) 9999-42970 joaoantunes10@terra.com.br 
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