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28/10/2021 10:00


Harpa e Seu Fascínio por João Antunes

Se o violino quando suas cordas são friccionadas é um instrumento que tem alma, numa outra visão, a harpa desenvolve um som inebriante que não há como se traduzir a não ser pelo seu fascínio e pelo seu intenso poder de sedução no bom gosto de quem gosta de música. 
Lá nos primórdios africanos surgiram o arco e a flecha destinados à caça. 
A sonoridade da corda do arco motivou aqueles primitivos à criação de um instrumento musical, que foi o Berimbau de origem Angolana onde lá é chamado de Hungu e também de M’bolumbumba. Já em Moçambique é chamado de Xitende e aqui no Brasil o Berimbau tem dezenove denominações diferentes. Na verdade o Berimbau foi o ancestral da Harpa Nativa Africana que, inicialmente, tinha cinco cordas que compunha-se de um porongo e arco do Berimbau com uma particularidade, ou seja, as cordas eram situadas de modo horizontal.
Depois surgiu o Pluriarco que, na verdade, nada mais era do que um instrumento africano que reunia vários arcos com sons diferentes e parecidos ao Berimbau.
Em torno de 4000 anos A.C., no Egito, surgiram as primeiras harpas com mais de 10 cordas e caixa acústica. Houveram harpas em formato triangular com cordas de diferentes tamanhos e harpas quadrangulares com cordas de tamanhos iguais muito semelhantes às liras. Há uma crença de que foram os egípcios que criaram a caixa acústica que integra o corpo do instrumento musical. 
Também acredita-se que foram o Fenícios, que eram vendedores nômades, que introduziram a harpa no continente europeu onde lá começou a ser tocada pelo Bárbaros, romanos, celtas, germanos e gauleses entre outros. 
Há quem sustente que a harpa há três milênios antes de Cristo já era encontrada além do Egito, no Oriente e ainda na Suméria onde esse instrumento era composto de 3 a 7 cordas. 
Nas povoações jesuíticas missioneiras guaranis a partir da fundação da redução de San Ignácio Guaçu em terras paraguaias em 1609, os jesuítas, estes ínclitos soldados da fé, nas suas táticas de aproximação conquistaram os nativos através da música. Então a partir daí foi que a harpa guarani ou harpa missioneira ou ainda harpa índia chegou aqui nestas terras sulinas, instrumento esse usado nos encontros religiosos e festivos.
Vale dizer que, nas povoações missioneiras, além da harpa foram introduzidos vários outros instrumentos musicais como o tambor, a chirimia, citola, violino, viola, flauta transversal, oboé barroco (num modelo mais primitivo), entre outros. 
Na religiosidade encontramos a harpa cristã muito presente acentuando-se, por exemplo, na Assembléia de Deus onde há uma infinidade de hinos que são tocados durante os cultos. 
As harpas estão presentes nas orquestras sinfônicas como é o caso, por exemplo, da OSPA na cidade de Porto Alegre. 
Há casos em que a harpa está presente na música nativista, na música indiática (ligada à cultura dos nativos guaranis), na música regional gaúcha da América do Sul, com diversos nomes e modelos. 
No Paraguai a harpa é o instrumento símbolo daquele país decretado como patrimônio artístico e cultural paraguaio.
A harpa nas mãos do povo guarani do Paraguai e de parte da Argentina faz com que a música desses dois paises tenha uma excelente notoriedade, pois nesse pedaço do mundo, ou seja, Argentina e Paraguai, na minha concepção pessoal, está a melhor música do planeta se considerarmos os tangos, as milongas, as guarânias (balada de andamento lento quase sempre em tom menor), os chamamés (gênero musical tradicional da Província de Corrientes na Argentina) desses dois países sem menosprezo às excelentes obras e manifestações melódicas das diferentes culturas do planeta Terra. 
Nos Estados Unidos da América, na região do Texas, há o emprego de harpas na música no  estilo Cowboy.
Mesmo contrariando alguns historiadores entendo que nós temos a música missioneira entendida como a música regional gaúcha com estilo missioneiro, onde em alguns casos, tem a presença de harpa. 
Os índios como nós chamamos, que eram os nativos deste lugar, tinham instrumentos de cascos de tatus, instrumentos musicais de bambu, chocalhos, flautas, entre outros, e gritos de guerra do tipo Sapukais. Os índios são seres humanos que em muitos casos tem pendores à arte e são bons imitadores, assim sendo, aprenderam com facilidade as partituras e as orientações musicais vindas de além-mar, talvez por isso seja o fato de que essa relação íntima que existe entre os paraguaios para com as harpas que, com enorme habilidade, quando parecem estar brincando através dos seus “passeios avelulados” nas cordas da harpa.
Essa mescla de ritmos na fusão de instrumentos com a influência do europeu clássico em especial à música barroca se harmoniza com a música nativa aqui existente e aí, indubitavelmente, nasce aquilo que chamamos de estilo missioneiro expresso no sacro evidenciado dentro das igrejas e também o estilo missioneiro regional festivo embora ainda meio dolente.
Acredita-se que o primeiro padre a ensinar música nas Missões foi Louis Berger, em 1626. Depois dele foi o padre Jean Vaiseeau, vindo da Bélgica e por volta de 1691, o padre Antonio Sepp que além de cantor tocava harpa, saltério, alaúde, viola, flauta. Ele introduziu aqui nas Missões o Canto Coral e a Orquestra Sinfônica. Na Redução de Yapeju ele criou a Escola Nacional de Música para a qual eram garimpados os mais aptos e talentosos alunos destes 30 povos missioneiros. 
Os maiores músicos das Missões, foram em São Miguel: Inácio Paica, em Santo Tomé: Gabriel Quiri.
O padre Antonio Sepp, fundou a redução de São João Batista e lá em criou outro modelo de harpa sendo ela de 36 cordas, mas com duas fileiras que se cruzavam no meio da altura, sendo numa metade a escala diatônica e na outra, incluindo a outra fileira, com os semitons ter-se-ia a escala cromática.
Nessa Redução foi criado um grupo musical de meninos e meninas, onde as harpas eram destaques, os quais foram, inclusive, tocar para o Rei da Espanha na época com igual nível musical  dos melhores músicos de lá.
Em 1711, esse padre, Antonio Sepp,  veio a São Luiz  coordenar a fabricação de harpas e diversos outros instrumentos , inclusive a indústria na tecelagem de tapetes. Ficou por aproximadamente  três anos, depois foi à Redução de San Javier, à Redução de La Cruz e finalmente à Redução de São José, onde faleceu em 13 de janeiro de 1733, sendo o maior harpista das Missões. Mário Meira, conhecido músico tocador de harpa, entendido e apaixonado pela cultura guarani, tem sugerido vários vezes para que o dia 13 de janeiro torne-se, no Rio Grande do Sul, o dia da harpa missioneira. 
A harpa, pela sua presença e história nas Missões, precisa ganhar mais espaço e aceitação nos arranjos principalmente naquilo que nós denominamos de música regional gaúcha de estilo missioneiro. 
Portal: Escritor João Antunes poeta, historiador e compositor 
Facebook = João Carlos Oliveira Antunes
Bossoroca (55) 9999-42970 joaoantunes10@terra.com.br 

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