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27/02/2017 17:59


De Cerca e de Alambrador

Fazer alambrados à moda antiga exige do alambrador muita experiência, força física, aguentar as intempéries do tempo e ser artesão. 
Enquanto eu viajava da cidade de Bossoroca até o interior em Rincão dos Antunes fiquei olhando e imaginando o trabalho de construção das cercas tradicionais e então me veio à lembrança um tio meu chamado Ernesto Terra de Oliveira que, desde criança, foi e ainda é alambrador. 
As mãos calejadas do meu tio e a sua pele curtida mostram o quão é dura essa lide. Muito requisitado ele sempre costuma acampar à beira do mato onde vai fazer a cerca. Leva consigo as ferramentas, alimentação, coberta e outros pertences.  As ferramentas são: cavadeira, pá, torquês, alicate, enxada, máquina de puxar arame, machado, chave, pua, trado, facão, serrote, socador, pé-de-cabra, alavanca, martelo, lima, metro e enxó.
As madeiras mais utilizadas para os palanques são pau-ferro, guajuvira, angico, aroeira.
As tramas em geral são de angico, guajuvira, tarumã (que é bem resistente ao fogo), guamirim.
Antigamente as tramas e alguns palanques eram beneficiados diretamente no mato através de machado e serrote e quando a viga (madeira) era muito grossa ela era rachada por cunhas de ferro e até mesmo com estopim de pólvora. 
Atualmente com a escassez de madeira e certas proibições bem aplicadas utiliza-se eucalipto e inclusive eucalipto tratado tanto para palanques quanto para tramas. Também na atualidade estão sendo empregados palanques de concreto e até mesmo de polipropileno.
Uma cerca tradicional é composta pelos palanques normais, os palanques mestres e os palanques contramestres, as tramas, os arames onde antigamente usava-se um fio farpado. Geralmente são 6 ou 7 fios ou cordas como são chamados popularmente. A altura de uma cerca mede em média 1,30 m. A distância entre palanques é de 10,00 m. e o vão entre os palanques é complementado por 4 tramas. Os buracos para assentar (socar) os palanques são feitos com uma profundidade média de 3 palmos, ou seja, em torno de 70 centímetros. Numa cerca também é empregado o morto (que é o sustentáculo que segura o canto da cerca, o rabicho (que é pego do contramestre no morto), o travesseiro. Onde tem pedra usa-se a sapata.
Normalmente trabalham 3 pessoas numa cerca, pois inicialmente é preciso fazer o alinhamento, geralmente a olho, fazer os buracos para os palanques, mestres e contramestres, furar os palanques e tramas, mocear as tramas, estender as tramas, estender os arames.
Cada quadra de cerca mede 132 metros de comprimento. Em chão macio e em condições ideais três pessoas constroem em média uma quadra de cerca por dia. O custo médio para a construção de uma cerca está em torno de R$ 800,00. 
Uma cerda de qualidade e feita dentro dos requisitos básicos por alambrador habilidoso que necessita também ser artesão pela prática diária dura até cerca de 50 anos de não sofrer grandes esbarradas do tipo brigas de touros, se não for afetada por raios e pelas queimadas. 
É lindo ver uma cerca bem formada no seu porte retilíneo, ver os pássaros sentados nela e ouvir o sibilar do vento minuano junto ao cenário do mundo bucólico.
Meu tio Ernesto Terra de Oliveira  costuma dizer que “uma cerca para ficar bem boa precisa estar bem estirada e com os arames cantando durante uns 30 anos onde os fios precisam estar firmes como pra tocar violão com as cordas se for preciso”. 
Alguns dos alambradores tradicionais de Bossoroca foram Adão Laranjeira  também chamado de Adão Papa-Figo,  Antonio Antunes Ferreira, Ernesto Terra de Oliveira (Ernestinho), Inácio Nogueira, João Francisco Quevedo (Seu Bugre), Neri Cortes da Silva, João Guri, José Petiço, João Machado (João Preto), Marcondes Chaves, Pedro Ferraz, Porfírio Nascimento e Sival Gaspar (Siva) dentre outros. 
Com a diminuição da diversidade de madeiras, o avanço da agricultura, a pecuária de corte e de leite com animais mansos e as novidades que o mercado nos apresenta estão reduzindo-se  drasticamente as cercas como eram nos moldes daquele tempo de antanho e, neste aspecto, com a redução, houve um ganho para o meio ambiente que sofre menos com menos extração de madeira. 
Site: Escritor João Antunes é poeta e compositor, de Bossoroca. 
João Antunes (55) 9999-42970 joaoantunes@barracamissoes.com.br 

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