Notícias

11/06/2018 20:58


A Lenda da Bossoroca

Há muitos e muitos sóis e luas passadas, antes, bem antes do homem branco chegar aqui no chão brasileiro, quando não haviam fronteiras e a terra deste recanto sulino era uma terra sem males serpenteada por rios límpidos repletos de peixes, mata ciliar e mato alto verdejante, flores graciosas, frutos saborosos, sombra à vontade, o bucólico expansivo dos campos, tacurus, pássaros multicores e outros animais silvestres de diversas espécies, ar puro e os nativos que aqui viviam com seus ritos, suas crenças em plena liberdade e harmonia com o seu habitat. 
Ela era uma nativa e chamada-se Açucena. Tinha um porte mediano, corpo escultural, cabelos negros, olhos meio esverdeados, pele sedosa e tez um pouco mais clara que os demais da sua tribo e gostava de cantar.
Ele, jovem nativo, forte, intrépido guerreiro, chamava-se Guaracy.
Num dia primaveril Açucena e Guaracy tiveram o primeiro encontro de amor seguindo todo o ritual da aldeia.
Viveram felizes por uns tempos, tiveram um filho chamado Tupaq. Sempre visitavam um lugar à beira da estrada e cada vez que iam lá Guaracy com uma vara riscava o chão como a demarcar aquele local onde acontecera o primeiro beijo e eis que Guaracy dali uns dias  foi para a guerra defender o seu povo e, de lá, nunca mais voltou. 
Açucena amargando a saudade, na dura espera, voltava sempre nesse lugar e chorava  alimentando a esperança de que seu amado voltasse e, de tanto chorar, a cada lágrima vertida de seus olhos  regava a terra na sua permeabilidade e aquele risco no chão, com a ação das suas lágrimas foi crescendo, crescendo, crescendo e, então, formou-se uma Ib-soroc, uma voçoroca, uma barroca ou seja, um traço na geografia que ainda hoje resiste ao tempo num campo situado entre o rio Piratini e rio Icamaquã na Região das Missões onde hoje assenta-se a localidade de Igrejinha, interior de Bossoroca, a Buena Terra Missioneira. 
Açucena viveu o resto da sua vida à espera do seu amado Guaracy que a guerra o quedou para sempre. 
Os silvícolas descendentes do seu povo continuaram por aqui. Nasciam, cresciam, amavam, guerreavam. Viviam, sobreviviam e morriam na sucessão contínua da vida e, assim, tornou-se vasta a raça Guaranítica até que um dia nasceu um outro nativo, filho dessa sucessão, valente guerreiro, audaz e que tinha um lunar na testa. Seu nome: Sepé Tiaraju. Apaixonado pela mãe terra e pela sua gente  tornou-se um autêntico representante do seu povo e morreu defendendo  sua raça e sua gente. Mas a cobiça, cruel e insana vinda do homem branco, veio com jeito avassalador semeando horror nesta aventura humana e os Guaranys foram massacrados, expulsos, aniquilados, e o sangue manchou de rubro o Pampa, e os templos ruíram...
O tempo passou, ficaram poucos nativos, veio o gaúcho e depois o imigrante mesclando as raças. Ainda hoje, nos versos e nas canções, aqui em Bossoroca, das fendas do chão, das voçorocas, deste ventre aberto na terra brotam, vertem e emanam, pela inspiração dos versos dos poetas e pelas gargantas dos cantores, declamadores e payadores, lamentos, preces, cantos, payadas, poesias, poemas e guitarreadas, florescendo ganas, anseios, verdades incontestáveis e sonhos alimentando a alma da gente na essência terrunha que, sem igual, nos ensina e nos dá o vigor para amarmos terra e gente como fez esse casal ancestral. Assim, fruto daquele romance, surgiu a fenda histórica  no chão, a Iby-Soroc,  Bossoroca que é um marco na história e na geografia desta pátria missioneira, rio-grandense-do-sul e brasileira.
A Lenda da Bossoroca (IB-SOROC)
Resgatada por: João Antunes  e João Ribeiro.

EM DESTAQUE

Erva Mate Verde Real

Empresa familiar, com seu fundador Delfino Shultz, iniciou no ramo de erva mate no ano de 1989

Saiba mais

Associação dos Municípios das Missões AMM

Têm em comum a história e a disposição de luta pelo crescimento econômico e social da Região Missões.

Saiba mais

Mais notícias

  • Aguarde, buscando...